quinta-feira, dezembro 05, 2013

O brinde e a fava

• Rui Pereira, O brinde e a fava:
    ‘(…) a nova moda, que confina os apreciados bolos ao reino dos frutos secos e cristalizados, não se estendeu ao campo social. Em Portugal, continua a haver beneficiados pelos brindes e estigmatizados pelas favas, mesmo quando a massa do bolo parece estar reduzida à expressão mínima. Neste Natal, o brinde saiu, por exemplo, a Américo Amorim e Belmiro de Azevedo, que lograram duplicar as suas fortunas em tempos de crise. A fava foi direitinha, entre outros, para os 609 trabalhadores despedidos dos Estaleiros de Viana do Castelo.

    (…)

    Talvez nunca deixe de haver brindes e favas. Talvez o nosso mundo nem sequer passe da lotaria gigantesca que traça secretamente o destino de cada um, descrita por Jorge Luís Borges e confirmada pela Física Quântica. Mas os seres humanos têm inscrito, no seu ADN, um ideal de Justiça e continuam a ser atraídos pelas utopias. Talvez isso os distinga dos outros animais. Por agora, na falta de um presente de Natal que abra a janela aos sonhos, eu ficaria satisfeito com esta explicação: porque engordam os mais ricos e emagrecem os mais pobres com a crise?’

1 comentário :

Anónimo disse...

Em tempos, também saíu o brinde ao inquilino de Belém. Lembram-se dele a comer uma fatia de Bolo Rei de boca escancarada? Uma imagem inesquecível.