sábado, dezembro 07, 2013

O soldado desconhecido

O hábito não faz o monge

O sossego tradicional dos quartéis parece quebrado. E a crescente desorientação de que o ministro da Defesa dá mostras revela que a sua lucidez, se alguma vez a teve, se pode estar a esvair. A transformação das instituições militares em praças para faenas político-partidárias é apenas um exemplo de que o bom senso já não mora na Avenida Ilha da Madeira.

Acresce que a inaptidão para manter em funcionamento os Estaleiros de Viana do Castelo, disfarçada por umas imaginosas patranhas, pôs em relevo que é preciso mostrar mais para se ser um mediano gestor de estaleiros (talvez ao contrário do que possa suceder com a assessoria jurídica das autarquias).

É por isto tudo que as palavras que o Expresso hoje reproduz de Melo Gomes, antigo chefe do Estado-Maior da Armada — numa alusão ao cavado descontentamento que reina nas Forças Armadas —, bem que poderiam ter sido proferidas numa cerimónia de desgraduação de Aguiar Branco: “Só encontro paralelo em determinadas situações antes do 25 de Abril”.

Duas notícias publicadas hoje vêm confirmar que Aguiar Branco se transformou num zombie. A primeira, já contada aqui, é agora relatada pela correspondente do Expresso em Belém (ou vice-versa), que faz saber que “a escolha polémica do ministro para CEMA [chefe do Estado-Maior da Armada] foi travada à última hora”, “com o dedo do Palácio de Belém”:
    “Ao que apurou o Expresso, não terá sido bem acolhido na Presidência o processo que rodeou a escolha do novo CEMA, que se traduziu publicamente nos factos duplamente inéditos da saída do anterior chefe, Saldanha Lopes, não ter sido acompanhada pela indicação de um sucessor, e ter sido indicado um substituto interino em situação de reserva. Por outro lado, nem todos os passos processuais terão sido respeitados.”

A outra notícia tem a ver com Paulo Rangel, alvo da fúria de Aguiar Branco por ter feito parte do grupo que trocou Menezes por Moreira. Como prosélito recente, Aguiar Branco assumiu as despesas do passismo no conselho nacional do PSD pós-autárquicas. Passos Coelho não lhe agradece tamanha devoção, fazendo chegar ao Expresso a informação de que prefere manter Rangel entretido em Bruxelas. Ou seja, desautorizando Aguiar Branco, acusado por Rangel de ter uma visão “soviética” do funcionamento interno do PSD.

O correr do tempo vem dando indícios seguros de que a desgraduação do ministro da Defesa é uma questão resolvida — aguardando-se uma oportunidade para a anunciar.

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