quarta-feira, março 05, 2014

A palavra aos leitores — Ainda a visita de Cavaco ao Canadá

Extracto de nova carta de Fernanda Leitão:
    «Parece que deu o bicho nos seguranças dos figurões da política portuguesa. Na entrada do Elgim Theatre, apinhou-se um grupo de fãs do PR que se preparava para lhe apertar a mão. Azar de uma senhora com bengala, que estava ali a fazer um frete por lhe terem implorado que estivesse presente: os seguranças do PR, vindos de Lisboa, avançaram como o carro vassoura, a empurrar tudo e todos. Um deles teve o topete de tentar empurrar a senhora para o lado oposto daquele em que estava. Ficou ensinado: "veja se percebe uma coisa, eu não estou minimamente interessada em apertar a mão a esse senhor, de modo que você vai é ajudar-me a ir lá para trás, para bem longe". O tipo ficou varado e obedeceu. Talvez umas estaladas no guarda-costas do Relvas lhe tivessem feito bem. É um antivírus provado.

    Mais: a condecoração ao homem dos telhados, segundo explicação oficial, foi para o compensar de ter feito o Parque Camões. Esse parque nasceu duma grande vigarice: a dada altura, um grupo lembrou-se de fazer um peditório à comunidade, pela televisão, para se fazer um campo de férias para as crianças luso-canadianas. Com o dinheiro apurado, comprou-se um terreno. Depois começaram as golpadas e o terreno para ali ficou, em nome de um sujeito que, farto de impostos e outras despesas, o vendeu ao grande credor que lhe ia emprestando umas massas, esse mesmo, o dos telhados. O tipo fez então o Parque Camões, propriedade dele, negócio dele, como já tinha sido o caso do First Portuguese Club. A comunidade é o (mentiroso) pretexto e o Camões a cereja no bolo.

    Bem disse o Mestre Almada-Negreiros na Cena do Ódio: "A pátria onde Camões morreu de fome / E onde todos enchem a barriga de Camões".

    Quanto ao resto, a opinião geral é que foi uma visita pífia e que não se percebe a sua utilidade. Causou estranheza que o PR não tivesse ficado para o jantar da Federação dos Empresários Portugueses, tendo-se feito acompanhar apenas de meia dúzia de pessoas de pouco peso financeiro e profissional.

    Não há que saber: veio em turismo.
    »

2 comentários :

ignatz disse...

quanto custou a viagem e quais os resultados resultados desta palhaçada.

Evaristo Ferreira disse...

Eu já tinha percebido que Fernanda Leitão escrevia bem e com facilidade, muito melhor do que a grande parte dos jornalistas da nossa praça. Fiquei satisfeito por saber que esteve presente na manif da Fonte Luminosa em 1975. Isso diz muito. Foi injustiçada, perseguida. Mas a história contada sobre o "homem do telhado" e o relato sobre o pífio sucesso da viagem de Cavaco ao Canadá, dão bem a medida do posicionamento político de Fernanda Leitão.