sábado, abril 19, 2014

«A gente vê como uma chiclete
Que se prova, mastiga e deita fora, se demora»


«Especulação» é o último grito da moda no léxico governamental. Foi o termo usado pelo alegado primeiro-ministro quando pretendeu abafar o anúncio da mutilação das pensões feito pelo ajudante da Miss Swaps em off. Coube agora a vez ao «soldado disciplinado» Pires recorrer à nova técnica de comunicação governamental para reagir ao lançamento de um novo imposto sobre os «produtos que têm efeitos nocivos para a saúde».

Eis a sucessão de declarações:
    • No dia 16 de Abril, a Miss Swaps afirmou no briefing do Conselho de Ministros extraordinário: «poderão ser equacionados contributos adicionais do lado da receita, designadamente na indústria farmacêutica, ou de tributação sobre produtos que têm efeitos nocivos para a saúde»;
    • No dia 17 de Abril, o tenebroso secretário de Estado de Estado adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, confirmou que, ao fim de três anos, o Governo acabara de descobrir que há «produtos que têm efeitos nocivos para a saúde», pelo que há que tributá-los mais: «Na linha do que se faz noutros países, ponderando os seus exemplos, queremos criar condições para que haja menor propensão para o consumo de produtos associados a riscos específicos para a saúde, melhorar os hábitos de consumo das pessoas»;
    • No dia 18 de Abril, ou seja, dois dias depois das declarações da Miss Swaps, o «soldado disciplinado» Pires reagiu, quase deixando subentendido que terá havido um outro Conselho de Ministros extraordinário para o qual o CDS-PP não fora convidado: «Não há taxa. É uma ficção, um fantasma que nunca foi discutido em Conselho de Ministros e cuja especulação só prejudica o funcionamento da economia».

O «soldado disciplinado» Pires, que se rendera sem condições na questão do IVA da restauração, vê agora estar a ser preparado um agravamento da tributação sobre a restauração. O que se ouviu da sua parte não foi um rugido de oposição, foi um gemido de resignação: «nunca foi discutido em Conselho de Ministros».

Condenado a ser a muleta do Governo (e mais cedo ou mais tarde descartável), o futuro do partido unipessoal de Paulo Portas faz lembrar a «Chiclete» dos Táxi: «A gente vê como uma chiclete/ Que se prova, mastiga e deita fora, se demora». Ocorreram nas últimas semanas vários episódios que confirmam que, ao recuar na demissão «irrevogável» em Julho do ano passado, Paulo Portas ficou desarmado e que a sua permanência no Governo já nem como «um acto de dissimulação» se pode caracterizar. Foi apenas um acto de rendição.

Repare-se nesta sequência de episódios:
    1. Passos Coelho vai, no dia 12 de Abril, a Valpaços, acompanhado por Agostinho Branquinho, secretário de Estado da Segurança Social, onde anuncia uma «(contra-)revolução» na segurança social, a qual nesse mesmo dia não foi confirmada à TSF por Mota Soares, que é, até ver, o ministro da pasta. Esta situação só pode ter uma leitura: o ministro da Segurança Social foi posto à margem deste processo, sendo entregue pelo alegado primeiro-ministro a gestão e a distribuição dos dinheiros da segurança social ao apparatchik laranja Agostinho Branquinho, com os perigos a que Pedro Adão e Silva chama a atenção aqui.

    2. A mutilação das pensões está a ser maquinada no Terreiro do Paço, com Mota Soares, que apenas esteve presente a uma reunião do grupo de trabalho, colocado novamente à margem do processo.

    3. Paulo Portas voltou a meter a viola no saco na questão da descida do IRS em 2015: ainda teve um arroubo com a cena de ler o guião da «reforma» do Estado no telemóvel, mas lá teve de fazer um comunicado quase clandestino a sustentar que não tinha divergências com a dupla Passos Coelho e Miss Swaps.

A própria encenação de um segundo acto com a reformulação do borrão da «reforma» do Estado não correu bem a Paulo Portas.

Ao CDS-PP exige-se-lhe, na hora actual, que levante apenas o braço nas votações no parlamento, dando-se-lhe em troca uns lugares no aparelho do Estado e um monte de honrarias ao chefe, como se se tratasse de um general graduado do Burkina Faso. Até o partido do táxi tinha outra dignidade.

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