sexta-feira, junho 13, 2014

«Somos fundamentais para a democracia»


Dias de queda: um artigo corajoso e, além disso, muito bonito de Fernanda Câncio.

8 comentários :

Rosa disse...




Sempre lutadora pelas causas em que acredita.

Anónimo disse...

Nem particularmente corajoso, nem particularmente bonito. Picar o ponto da coragem a horas certas.

não é ela que salva o jornalismo.

Anónimo disse...

O que salvava o jornalismo era a coragem e os tomates dos jornalistas.
Como meteram a coragem e os tomates na gaveta ( há que alimentar a prole e leva-los a passar férias em Cancun) tiveram a paga que mereceram : ninguém os quer lêr.

Anónimo disse...

Tem razão o "sáb Jun 14, 12:17:00 da manhã".

FC não faz um texto partcularmente corajoso nem particualrmente bonito, tal como o grosso dos camaradas não tem "coragem ou tomates", como V. diz, para fazer valer de modo consistente o protagonismo que tem.

Tenho ouvido coisas mais corajosas de gente, com o dorso bem menos quente. Os bonzos dizem coisas.

RFC disse...

... Veja-se o texto da Fernanda Câncio no Jugular escrito umas horas antes na carne viva, e espreite-se a série de diálogos na sua caixa de comentários.

sem título, 12 de junho de 2014

f. 11.06.14

é a segunda vez em cinco anos. da outra, estava na redacção no dia em que os escolhidos foram informados. desta, não. calhou estar de férias. calhou que a primeira informação que tive foi de um amigo de fora do jornal, por sms, quando ainda nem tinha olhado para as notícias.

não, não era uma surpresa. sabiamos há meses, após a entrada de novos accionistas, e sobretudo depois de o jornal ter reduzido o número de páginas, que era expectável um despedimento colectivo. cada um fez as suas contas de cabeça -- ou no site da autoridade das condições de trabalho onde, sinal dos tempos, existe já até um simulador para indemnizações --, pensou nas hipóteses que tinha, nas despesas fixas, naquilo de que poderia prescindir, talvez até (pensamos essas coisas) que há males que podem vir por bem. e esperou. não há muito mais a fazer, pensámos (não haveria?).

uma das pessoas que foi hoje despedida esteve comigo na grande reportagem, o meu segundo emprego. conheço-a há 23 anos. não somos propriamente amigos, mas quando recebi a primeira nota de culpa da minha vida, ofereceu-se para testemunhar por mim. e eu, que posso fazer hoje por ela?

duas das outras pessoas que foram despedidas estiveram comigo na notícias magazine. há 17 anos. as outras conheço-as do dn. excepto uma. essa conheci-a em 1992, numa reportagem. conheci-a a fazer aquilo que faz: resistir. jornalismo, se for a sério, é sempre uma forma de resistência, mas no lugar onde ela está é preciso resistir só para manter a cabeça direita.

não vou pôr nomes aqui, porque não pedi autorização para isso e porque não faz sentido -- todas as pessoas a quem ontem comunicaram o despedimento têm um nome, uma história, uma vida, não apenas aquelas de quem gosto mais, que admiro mais, de quem me sinto mais próxima ou que fazem mais parte da minha narrativa pessoal.

não tenho a pretensão de perceber o que estão a sentir, o que estão a passar; não sei o que lhes dizer. eu, como todos os -- por enquanto -- poupados só posso saber o que sente quem sabe que ficou: uma espécie de traição, tanto mais traidora quando sabemos que, mesmo que eventualmente de nada servindo fazer alguma coisa, não há coisa alguma que nos ocorra fazer a não ser dizer porra, ou merda, ou outro palavrão qualquer, sabendo que do outro lado só se pode pensar 'pois, estás muito sentida e solidária e tal mas tens o teu emprego, não é? e porque é que tens o teu emprego e eu deixei de ter?'

e têm razão. porque é só isso que lhes oferecemos: um ombro, um abraço de adeus. e um não tão secreto suspiro: não foi ainda connosco. e a vertigem de saber que podia ser, que só por acaso não é, o quase desejo que fosse, para não sentir esta culpa, esta responsabilidade, este peso. talvez invejemos a liberdade -- é fácil invejar a liberdade com um ordenado ao fim do mês.

quando foi que nos habituámos a aceitar que somos impotentes? que as coisas são o que são? que as decisões dos conselhos de admnistração, como 'dos mercados', são tão inelutáveis como as forças da natureza? quando foi que ficámos tão cobardes?

que aconteceu às comissões de trabalhadores, às negociações entre trabalhadores e empresas, aos compromissos, aos acordos, à divisão de forças? que aconteceu à nossa voz? que aconteceu connosco?

colectivo, nisto, só o despedimento. é bom que pensemos nisso -- porque, na nossa hora, teremos por nós exactamente o que agora oferecemos.

Pode ver-se aqui: http://jugular.blogs.sapo.pt/sem-titulo-12-de-junho-de-2014-3765812

Anónimo disse...

Pois, o que FC devia ter escrito no texto inócuo do DN, de modo a mostrar coragem, era o final do texto do Jugular:

"quando foi que nos habituámos a aceitar que somos impotentes? que as coisas são o que são? que as decisões dos conselhos de admnistração, como 'dos mercados', são tão inelutáveis como as forças da natureza? quando foi que ficámos tão cobardes?

que aconteceu às comissões de trabalhadores, às negociações entre trabalhadores e empresas, aos compromissos, aos acordos, à divisão de forças? que aconteceu à nossa voz? que aconteceu connosco?

colectivo, nisto, só o despedimento. é bom que pensemos nisso -- porque, na nossa hora, teremos por nós exactamente o que agora oferecemos."

Anónimo disse...

E claro, o ponto é "quando foi que nos habituámos a aceitar [...] que as decisões dos conselhos de admnistração, como 'dos mercados', são tão inelutáveis como as forças da natureza?"

E isso desreleva-se no resto do texto, até no sequente "que aconteceu às comissões de trabalhadores, às negociações entre trabalhadores e empresas, aos compromissos, aos acordos, à divisão de forças? que aconteceu à nossa voz? que aconteceu connosco?".

As pergunta percebe-se pois nunca vi a FC pública com essas causas, tal como nunca vi parte dos agora despedidos.

Anónimo disse...

As perguntas que Fernanda Cancio colocou podem aplicar-se também a outras áreas profissionais, a todo o sistema económico vigente.
O que aconteceu? A globalização aconteceu. E só agora, demasiado tarde, nos apercebemos do que a globalização verdadeiramente significava : um nivelamento por baixo como pretendiam as classes detentoras do capital e não por cima como pretendiam e acreditavam as classes trabalhadoras.
O mal está feito e é global. Teremos um dia a coragem de voltar a virar as coisas em favor das classes trabalhadoras? Quem acredita que já não existe luta de classes está enganado.Caminhamos novamente para ela a passos largos e desta vez não vai ser nada, mas nada bonito.