terça-feira, setembro 09, 2014

No dia em que Christine Lagarde torceu o nariz
à maquilhagem dos números do (des)emprego


• Nicolau Santos, Merkel gosta de Passos. Lagarde não:
    «(...) E o que disse a diretora-geral do FMI? Pois bem, que "O único país que progride, apesar de não ser suficiente" para absorver a bolsa de desempregados "é a Espanha", afirmou numa entrevista à emissora francesa "Radio Classique". Ora por favor! Alguém que se chegue junto dela, que lhe dê um puxãozinho no vestido «haute couture» que costuma usar e que bichane qualquer coisa do género ao ouvido: «Dra. Lagarde, olhe que não, olhe que não! A não ser que V.Exa. esteja a reduzir toda a Península Ibérica a Espanha, há um pequeno país junto ao Atlântico que está a fazer muito mais e bem melhor que Espanha em matéria de desemprego…»

    Quem já não procura emprego há mais de seis meses também é eliminado das estatísticas. E assim com menos 300 mil emigrados, mais de 170 mil a fazer cursos de formação e mais uns largos milhares que já desistiram de procurar emprego, o desemprego comprime-se, compacta-se, é combatido e esmagado.

    Seguramente que, surpreendida, Lagarde há de virar a sua informadíssima cabeça e recorrer à língua materna para exclamar, surpreendida: «Mais non!». E alguém terá de insistir: «sim, sim. É um pequeno país, não conta grande coisa, só tem 10 milhões de habitantes, mas é quem tem conseguido melhores resultados em matéria de desemprego a nível europeu…» Aí, a diretora-geral do FMI há de começar mesmo a interessar-se pelo assunto e quererá novos dados, quantitativos e qualitativos. Quanto aos quantitativos, há de ficar espantada como um Governo que esperava mais de 17% de taxa de desemprego para este ano, já reduziu a sua pessimista previsão para pouco mais de 14%. Ficará, então, interessadíssima em saber como tal foi possível, que reformas foram feitas que deram tais resultados.

    Alguém lhe terá então de explicar – ela seguramente chamará o dr. Vítor Gaspar, que é seu subordinado, para o efeito – como tudo foi feito. E Gaspar, de forma propositadamente lenta para ela perceber bem, dir-lhe-á o seguinte: em primeiro lugar, é preciso subir em 1/3 os impostos e cortar em 2/3 a despesa pública. Num segundo momento, é necessário subir os impostos em 2/3 e em cortar 1/3 na despesa. É também importante deixar disparar o desemprego: quanto mais alto estiver mais fácil será obter reduções. É igualmente importante que se diga ao povo que emigrar é uma grande oportunidade – e esperar que o bom povo perceba, emigrando de forma significativa. «O po-vo per-ce-beu», confirmará o dr. Gaspar. A cereja em cima do bolo é colocar o Instituto de Emprego e Formação Profissional a fazer imensos cursos de formação. Como se sabe (a dra. Lagarde não sabe), quem está a fazer um curso de formação profissional deixa de contar para o desemprego. Quem já não procura emprego há mais de seis meses também é eliminado das estatísticas. E assim com menos 300 mil emigrados, mais de 170 mil a fazer cursos de formação e mais uns largos milhares que já desistiram de procurar emprego, o desemprego comprime-se, compacta-se, é combatido e esmagado, pondo em causa toda a ciência económica que, em Portugal, nunca comprovou que pudesse haver criação líquida de emprego sem um crescimento económico acima de 1,5%. «Com-pre-en-deu, dou-to-ra La-gar-de?», dirá Gaspar no final da douta explicação. (…)»

2 comentários :

Rosa disse...



Genial e verdadeiro, Miguel!

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...




E quem é que paga aos "Formadores"??


E como é que eles são "escolhidos"???


«Voilà»...