sexta-feira, outubro 03, 2014

A esquerda, Louçã e os detalhes


• Pedro Silva Pereira, A esquerda, Louçã e os detalhes:
    «(…) Certo é que Francisco Louçã, patrono da liderança bicéfala e eterno inspirador do Bloco, acusou o toque. A tal ponto que esta semana teve de vir a terreiro, num longo mas interessante comentário no Público, para confirmar a ortodoxia bloquista e definir a doutrina oficial, explicando que "a esquerda" (leia-se: o Bloco e o PCP) não só fez muito bem em chumbar o PECIV em 2011 e derrubar o Governo do PS abrindo o caminho à direita e ao FMI, como deve tornar a fazer o mesmo se no futuro um outro Governo "do centro" (leia-se: do PS) insistir na "continuação da austeridade". E é o próprio que desfaz todas as dúvidas: "não estamos a falar do passado, estamos a discutir como se deve comportar a esquerda perante um governo de António Costa".

    Os argumentos de Louçã para justificar a posição do Bloco no derrube do Governo socialista são fundamentalmente dois. O primeiro, é uma questão de fé: com o PEC IV "continuaria a pressão financeira e haveria sempre uma posterior intervenção da troika". Não terá grande interesse especular sobre a realidade virtual e menos ainda discutir a fé de cada um. O que sabemos, de ciência certa, é que o PEC IV tinha o apoio formal do BCE e foi esse apoio do BCE que permitiu a outros países, como a Espanha e a Itália, evitar a intervenção da 'troika'. Até hoje. E nisto é que não há nenhuma questão de fé: são factos. O segundo argumento de Louçã merece mais discussão: a esquerda não podia apoiar o PEC IV, diz ele, porque esse programa "não era uma alternativa à austeridade" e não era diferente do programa da 'troika' senão em "detalhes menores". Deixemos de lado o "detalhe menor" que era todo o contexto da discussão do PEC IV (numa omissão muito reveladora, em nenhum momento Louçã situa as escolhas governativas da época no contexto da resposta europeia à crise das dívidas soberanas, como se fosse possível discutir alternativas em abstracto, independentemente da sua viabilidade concreta) e recordemos apenas alguns dos "detalhes", que Louçã apelida de "menores", e que fizeram a diferença entre o PEC IV e o programa da 'troika' aplicado pela direita: corte do 13º e do 14º mês dos funcionários públicos e dos pensionistas; aumento do IVA da restauração e da energia para a taxa máxima; "enorme" aumento de impostos, incluindo o aumento de 30% no IRS. Estes e muitos outros "detalhes" levaram à execução do dobro da austeridade inicialmente prevista no Memorando e, sem dúvida, a muito mais sacrifícios do que resultaria de um programa moderado como era o PEC IV, destinado a vigorar enquanto a zona euro acertava o passo, como veio a fazer, na resposta à especulação nos mercados financeiros.

    A argumentação de Louçã, como seria de adivinhar, leva-o a uma conclusão taxativa: para aprovar as medidas propostas pelo Governo do PS (o anterior e provavelmente o próximo) a esquerda teria de tornar-se "igual à direita". Não deixa de ser uma conclusão extraordinária. Depois de três anos de governação feroz da direita, frontalmente contra a Constituição e o Estado Social, perante um retrocesso histórico na economia e um brutal agravamento do desemprego, da pobreza e das desigualdades, uma certa esquerda continua a recusar-se a reconhecer a diferença entre o PS e a direita. Mas é aqui que Louçã parece deixar escapar um detalhe que talvez não seja menor: se é para ter quem se limita a repetir esta conversa contra o PS, a esquerda já está servida há muito tempo. Não precisa do Bloco para nada

17 comentários :

Anónimo disse...

Como aquando do PEC IV, o que silva Pereira quer agora é que seja o clube dele a aplicar a austeridade, vendendo CTT, mais PPP, mais códigos Vieira da Silva, Vitorinos e Coelhos em todo o lado e coisas assim.

Com o olho no poder, querem PCP e BE como filiais do PS e sem direito a ideias próprias.

Para servir essa conversa da direita assim, não era preciso o PS já bastavam os outros dois

Anónimo disse...

É sempre a mesma estória, como Goebbles repetir até se tornar verdade.

Mas o PEC IV, como os anteriores como os que seguiriam, traduziam uma direcção política da Alemanha, uma direcção política de direita. Até podem dizer que não tinham alternativa mas na realidade o que estavam a fazer era uma política de direita.

Filójofo Jégil disse...


Louçã não é burro, mas é mais teimoso do que um burro. E burro velho não aprende línguas: se não aprendeu com o chumbo do PEC4, nunca vai aprender com nada. Vai morrer burro.


A "esquerda" à Esquerda do PS é uma completa INUTILIDADE.


António Costa que se ponha a pau e não lhes dê esperanças de espécie nenhuma!


Essa cambada de acéfalos, estéreis e convencidos, a ÚNICA linguagem que entende é a da INDIFERENÇA e o único respeito que merece é o que dedicamos aos mosquitos que nos invadem a cozinha: é tratá-los à SAPATADA e jogar-lhes os restos mortais diretamente para o caixote do lixo (da História).

Requiem aeterna dona eis disse...




Louçã não passa de um político falhado e o Bloco de Esquerda já não representa mais do que uma irrelevância histórica, um resquício serôdio do último estertor do Séc. XX português.


Não têm qualquer Futuro.

Ex-bloquista disse...



Que fique desde já bem claro: o PS não precisa do Bloco nem do PCP para nada. Nem deve NUNCA confiar neles!


Precisa é de conquistar a confiança de quem se vê como democrata e socialista mas já votou neles, tantas vezes de raiva, ou por exclusão de partes...

Anónimo disse...

O tempo se encarregará de vermos com quem o PS fará alianças, partindo sempre da mesma conversa e essa sim é hábito do PS, que o PCP não está interessado em alianças, que o Bloco de Esquerda a mesma coisa, porque não abdicam disto e daquilo, mais o PECIV e aqueda do governo bla …bla…bla enfim será sempre o PS que tem a verdade absoluta. O que veremos isso sim depois das eleições é o PS fazer aliança com o PSD de Rui Rio e se não resultar haverá sempre um Marinho Pinto, ou um Paulo Portas CDS que aliás já começou a trabalhar nesse sentido. Infelizmente depois das eleições, uns voltarão a recuperar tachos perdidos, outros encontrarão novos e quem paga as favas são sempre os mesmos.

O Povo disse...



É revoltante ver estes gajos que toda a vida corporizaram as "verdades absolutas" virem agora acusar indignadamente o PS, sim, o PS, os "amarelos", de terem... "a verdade absoluta"!


Bastardos. Não vêem a trave que têm no OLHO mas vêem o argueiro no dos outros...

Anónimo disse...

Para o anonimo das 12:14: - Diz este rapaz indignado com o PS: "querem PCP e BE como filiais do PS". Digo eu: será dificil, rapazinho, porque o PCP e o BE há muito que se transformaram nas filiais mais solidárias do PSD/CDS! É vê-los, o Jerónimo, matalurgico sem bigorna, e o Louçã, economista sem empresa, a disparar contra Antonio Costa, recém eleito pelo PS, deixando livre a escumalha da direita que eles tanto dizem hostilizar. Estamos fartos de conversa fiada e desta esquerda às direitas! Essa é que é essa!!!!!!

Ex-votante bloquista disse...



Franc.º Louçã: sempre "à esquerda do possível", mas à direita do desejável.

S. Aldo disse...

Louçã é o exemplo acabado da angústia que jamais terá fim: a dor de, nos momentos decisivos, terem de juntar sempre os seus votos à direita, oferecendo-lhe o poder.
Louçã ainda esbraceja para se justificar, Jerónimo, coitado, não passa de uma fraude.

Anónimo disse...

O projeto de deliberação do PCP a pedir mais esclarecimentos a Passos Coelho sobre o registo de interesses, no caso relacionado com a Tecnoforma, foi aprovado esta sexta-feira, graças à abstenção da maioria PSD/CDS-PP e do PS. Podem gritar, arrancar cabelos, não se iludam a festa continua o novo PS mantem a sua vocação abstencionista.

Anónimo disse...

O Passos está-se a cagar para isso - desde que tenha o contramestre em Belém, amarrado, deste modo, mesmo que tenha medo da rapaziada e lançem algumas rabichas a mete-lo em sentido

Zé da Adega

Anónimo disse...

Notável a falta de cultura democrática no PS.

Dantes BE e PCP não podiam defender as suas próprias ideias e ideias e conceitos e opções políticas e económicas pq o Executivo PS caía e ia para lá outro Governo (uma coisa "ainda pior" no que tocava a agir à direita.

Agora, que o Governo é outro, vêm estes iluminados silvas pereiras querer proibir BE e PCP de mesmo na oposição defenderem e exigirem políticas e economias diferentes.

Valha-nos a cultura política e democrática que tão bem permite aos outros o direito à diferença.

Anónimo disse...

O rapazito de "sex Out 03, 03:26:00 da tarde" bem podia explicar atendendo à esmagadora convergência de votos e políticas entre PS, PSD e CDS-PP se não andará baralhado?

É que pelos números, bem se vê que será o PS a ser filial desses partidos. só falam grosso quando andam afastados do poder de lançar PPP, tratados porreiros e contratos para os amigalhaços Coelhos e Vitorinos.

Álvaro disse...

Este Silva Pereira é um artista. O PS de Sócrates governou com o apoio parlamentar da direita para aplicar a austeridade. Quando a direita lhe tirou o tapete no parlamento e os banqueiros o encostaram à parede, demonstrando o esgotamento da estratégia, afinal a culpa pela aplicação da austeridade passa a ser da esquerda parlamentar. Haja paciência. A propaganda e as dificuldades internas de alguns outros (BE, por exemplo) poderão dar algum oxigénio a esta nova direção do PS. Mas quando Merkel e Draghi vierem apresentar a fatura, o que fará Costa? Cá estaremos para ver se não faz o que TODOS os socialistas europeus têm feito - austeridade. Uma aposta: os dias de glória de João Galamba e Pedro Nuno Santos como apóstolos do fim da austeridade dentro do PS estão a chegar ao fim. Se mantiverem coerência, não poderão estar no próximo governo. Nem Costa lhes poderá dar essa oportunidade.

Álvaro disse...

Aliás, a minha aposta é que Silva Pereira já lá tem lugar garantido - insistindo nesta conversa não pode falhar.

Anónimo disse...

Sou "fã" dos dislates de PSP. Tanto para dizer mas por falta de tempo: comparar Espanha e Itália a Portugal no âmbito do PEC IV - AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHahahahahahahahahahahahahahahaha!!