• Augusto Santos Silva, O Bloco conhece hoje o seu destino:
- «(…) 2011 condensou e precipitou tudo isto. Parte do eleitorado do Bloco não perdoou a participação ativa do seu grupo parlamentar no derrube do Governo socialista; e muito menos aceitou a recusa infantil de qualquer reunião com a troika. A saída de Louçã criou uma orfandade que a forma de escolha dos sucessores (designados, à maneira leninista, pelos dirigentes cessantes) agravou. Mas, sobretudo, o Bloco aprendeu à sua custa uma regra sociológica que deveria conhecer: não há uma ligação necessária entre, por um lado, a degradação das condições de vida e a perda de direitos e, por outro, o incremento da consciência e da ação revolucionária.
Nestas circunstâncias, o Bloco tem de se redefinir. E já não pode fazê-lo apenas por sua iniciativa. Sangrado por conflitos intestinos e derivas grupusculares, o Bloco viu o PCP monopolizar a intransigência radical face ao "capital" e aos seus "cúmplices" sociais-democratas. Viu parte dos seus partirem em demanda de outros papéis e alianças políticas, que passam incontornavelmente pelo diálogo com o PS e a predisposição para soluções de governabilidade. E viu o PS resolver o seu problema de direção, abrindo também, dessa banda, a porta àquele diálogo.
Para exprimir o protesto social (por mais legítimo que seja), o Bloco já não consegue rivalizar com o PCP, que goza de bem maior implantação. Avançar no sentido de combinar protesto e governação alternativa significará desdizer-se num ponto essencial da sua argumentação política.
Por isso, e a meu ver, na Convenção deste fim de semana, o Bloco tem poucos graus de liberdade. A discussão será viva: as alternativas de liderança são claras e nenhuma delas tem o favor da maioria dos delegados. Mas será mais reconhecer um destino do que decidir um futuro. Ou o Bloco se assume como um parceiro ainda mais radical e ortodoxo de um PCP cristalinamente radical e ortodoxo; ou o Bloco rompe consigo próprio, e já será talvez demasiado tarde para o fazer sem morrer.»
1 comentário :
Depois do grito de vitória de Louçã em 2009 - "tirámos a maioria absoluta ao PS!" - e da aliança com a direita arrogante e vingativa em 2011 contra o PS, são mal-empregadas todas as palavras que se escrevam sobre esta salada malcheirosa , a quem só resta um destino - ir pelo cano de esgoto abaixo.
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