segunda-feira, dezembro 08, 2014

Não é gold, mas é negro

• Sérgio Figueiredo, Não é gold, mas é negro:
    «(…) 2. O "milagre económico" do cavaquismo, na segunda metade da década de 80, muito se deveu ao efeito conjugado de dois fatores: os fundos estruturais a chegar da Europa e uma queda abrupta do petróleo nos mercados internacionais.

    Se a atual descida de 40% em menos de seis meses impressiona, Cavaco Silva chegou ao governo em cima de uma ladeira ainda mais inclinada - entre a primavera de 1985 e o verão de 1986, o crude veio abaixo dos 20 dólares (a cotações de hoje) e formou uma autêntica quadratura do círculo, com desinflação e mais consumo interno, redução de custos de produção nas indústrias mais dependentes de petróleo e derivados, sem agravar desequilíbrio externo.

    Na segunda metade da década de 90, a "expansão formidável" do guterrismo assentou na descida inédita dos juros e no desafogo orçamental que uma vaga sem paralelo de privatizações permitiu.

    Agora, Passos Coelho sai de três anos de troika e entra num ano eleitoral com três dos quatro fatores que sustentaram os "anos dourados" do crescimento económico português: financia-se a juros mínimos, abre um novo gasoduto de milhares de milhões de Bruxelas e apanha uma inesperada boleia de petróleo barato.

    Sem saber como nem porquê, os mercados brindam Portugal com uma boa notícia. E é especialmente boa para um país onde o petróleo representa aproximadamente dois terços da energia primária consumida, uma vez que apenas um quinto da energia total que utilizamos é eletricidade. A eletricidade é energia, mas 80% da energia que consumimos é, sobretudo, no setor dos transportes eo uso de petróleo na produção elétrica é hoje nulo. Em mercados liberalizados, este benefício é capturado pelos consumidores desta fonte de energia e seus derivados. (…)»

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