sexta-feira, fevereiro 13, 2015

A Grécia como paradigma


• António Guerreiro, A Grécia como paradigma:
    «(…) Todos aqueles que, por cá, dizem que “nós não somos a Grécia” ou são ignorantes ou apenas querem esconder o que estamos a caminho de ser: porque a Grécia não é um “caso” excepcional, é um paradigma e um laboratório. Nela podemos ver a antecipação e a forma extrema (isto é, aquela onde uma realidade ainda imprecisa se revela) da reconfiguração em marcha das sociedades ocidentais, onde já se começou a passar ao acto e a planificar a eliminação lenta, discreta e politicamente correcta dos supranumerários, cuja existência faz ascender ao vermelho as somas necessárias para manter os dispositivos de protecção. Velhos, reformados, doentes crónicos, deficientes, desempregados dificilmente recicláveis, imigrantes, segmentos da juventude não qualificada: todos eles representam heterogeneidades parasitárias que não podem ter lugar no quadro ideal de crescimento e produção de riqueza exigidos pelo capitalismo ultraliberal. Impõe-se, por isso, a sua eliminação. É o que está a acontecer, aqui e agora, diante dos nossos olhos: o campo como paradigma biopolítico, com as suas práticas de eliminação subtil, está em expansão acelerada; e da sorte funesta reservada às existências que são como empecilhos começamos a ter testemunhos cada vez mais frequentes. Até os mais distraídos já perceberam que é só uma questão de tempo para chegar a sua vez. E os que não forem eliminados servirão para alimentar uma regressão organizada às claras a formas de exploração que têm muitas afinidades com as que alimentaram a expansão do capitalismo no século XIX.»

5 comentários :

Pedro Carrilho disse...

E têm razão, de facto não somos a Grécia, infelizmente não fomos os percussores da democracia moderna como eles, nem a pré bancarota da Grécia deriva do roubo aos bancos e dos bancos realizado por meia dúzia de psd´s, com o alto patrocínio do indigente intelectualmente de belém, e também não temos governantes com espinha dorsal como eles, e por este caminho ainda vamos assistir a umas reviravoltas de 180º deste reviralho que está no poder quando os Gregos conseguirem parcialmente o que pretendem, e ver este papagaio alemão do fedelho passos a suplicar umas migalhas e a afirmar e jurar a pés juntos para quem ainda o suporta ouvir de que ele sempre defendeu o que vier a ser alcançado, um pouco como nos contos de crianças que ele tanto gosta em que uma criança portuguesa lhe perguntava se ia aumentar os impostos, e ele com o seu ar mais cândido do mundo retorquia que não, com ele os impostos não aumentariam, e os salários e as pensões não seriam roubadas por ele como foram, enfim vai ficar na história como um dos piores indivíduos da era contemporânea portuguesa.

jose neves disse...

Caro A. Guerreiro e o problema está em que, visto que os gregos já o toparam e recusam heroicamente ser, na actualidade, o "paradigma do campo", o mais provável é que os encarregados de experimentar, intalar e dirigir "o campo" na Europa queiram avançar para o lado (a frente)onde não há recusa mas submissa servidão e total alegre disposição para viabilizar tal experiência em "democracia".
Também por cá os indícios de que os já não "produtivos" são para, não já como antes fizeram levar, concentrar e "tratar" no campo mas, deixar que caiam no "campo" e se extingam de moto-próprio; democraticamente.

para o "ca

Manuel Galvão disse...

Ainda há muita gente (cada vez há mais gente) fascinada com o sucesso económico e científico de Hitler.

Anónimo disse...

Eu cá quanto a Filósofos prefiro o Sócrates (não o verdadeiro) e o Carrilho.

Anónimo disse...

Excelente texto do António Guerreiro.
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