domingo, março 15, 2015

Paulo Pedroso sobre a prisão preventiva:
«a sensação que tenho é de que é aplicada em Portugal
com um efeito objetivo de destruição de credibilidade»

Paulo Pedroso dá hoje uma entrevista ao Diário de Notícias. Eis três passagens da entrevista:
    «A encenação mediática é extremamente negativa para a justiça, em geral, e para a possibilidade de justiça a José Sócrates. Todas as situações são diferentes, mas também devo dizer que há um tipo de relacionamento entre a administração da justiça - em particular nas fases de inquérito - e a comunicação social que é perverso, é mau para a justiça e tem-se repetido ao longo de muitos casos. Não falo só do meu caso - é um padrão que existe ao longo de muitos casos e sobre o qual a justiça não tem querido ou sido capaz de refletir. A encenação mediática da detenção de José Sócrates é algo que é muito difícil de imaginar que tenha acontecido por acidente

    «Se eu fosse jornalista e tivesse a informação de que um ex-primeiro-ministro iria ser detido, claramente que me mobilizava para isso. O problema não é esse. O que está em causa aqui é o seguinte: claramente, com um modus operandi que desconheço, existe um padrão de relação entre a administração da justiça e a comunicação social, que tem décadas, que não está a mudar e que funciona em prejuízo da qualidade da justiça, do prestígio da democracia e das instituições

    «Não quero ficar nas palavras vagas. Há um caso concreto que precisa de ser refletido: a prisão preventiva não é um pré-julgamento, não é uma pré-punição nem sequer depende da força dos indícios. É um juízo sobre a possibilidade de ocorrerem certos factos concretos. A sensação que tenho é de que é aplicada em Portugal com um efeito objetivo de destruição de credibilidade, o que para uma profissão que depende da credibilidade é punitivo. Além disso, e falo exclusivamente como cidadão, tenho muito dificuldade em imaginar como é que um cidadão que é detido no aeroporto quando chega a Portugal é preso preventivamente por perigo de fuga. Abstraindo do caso concreto: há dados mais do que suficientes para refletirmos sobre a aplicação da prisão preventiva e sobre se a cultura judiciária está a evoluir num sentido de acordo com o espírito da lei. E sobre que mecanismos possam existir para garantir que assim seja. O poder político não pode deixar-se levar pelos casos nem criar a ideia, particularmente patética, de ter por um exemplo um ministro da justiça a inibir-se de comentar leis. A origem de tudo isto são atos legais. O Parlamento não pode inibir-se... os políticos ficaram inibidos de comentar a justiça por parecer que estão a entrar numa luta de poderes - não, não é assim. O normal em democracia é que cada um dos poderes atue, dentro da sua esfera, para melhorar o sistema. No caso da justiça, há uma função do poder político que eu tenho muitas dúvidas que esteja a ser cumprida com eficácia.»

4 comentários :

Anónimo disse...

Ora nem mais. Os politicos têm medo da justiça, da comunicação social e são manietados pelo poder financeiro. Para quê votar então?
Se não existir coragem em resgatar a regulação nestas áreas, o poder do voto esvai-se no proprio dia das eleições sendo os partidos semelhante nas suas capacidades projectivas a clubes de futebol. Nada mudam, é só espectaculo.

Anónimo disse...

"dom mar 15, 06:32:00 da tarde"

e qual a sugestão dos PS como Magalhães e Silva e Vital Moreira?

Tape-se a boca à comunicação social, prendam-se os jornalistas, que a Finança e a Justiça lá prosseguirão na actividade costumeira, mas ao menos não haverá quem a relate.

Anónimo disse...

Anónimo das 12:22 , essa é a sugestão, não a confunda com as sugestões de outros nem meta na boca de outros palavras não proferidas.

Anónimo disse...

"ter mar 17, 02:27:00 da tarde"

Não percebo qual a dúvida. Escrevi para que os que aqui lembrando a necessidade de "coragem em resgatar a regulação" também nas áreas da justiça e financeira, reparem que as propostas vindas de gente com capital de respeito, está a querer mais uma vez dar um grande tiro no pé, atirando ao lado e acobardando-se (acho que não é cobardia, é convicção - erradíssima, mas convicção)nas necessidades mais evidentes.