quarta-feira, abril 08, 2015

O gato de Seabra

• Teresa Firmino, O gato de Seabra:
    «(…) Desde Janeiro de 2012 e até esta terça-feira, quando a sua demissão foi anunciada, [Miguel Seabra] assumiu a presidência da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), a principal instituição pública que financia o sistema científico do país, tutelada pelo Ministério da Educação e Ciência. É o seu braço na aplicação das políticas científicas. Tem por missão desenvolver, avaliar e financiar o sistema científico português. Assim, a FCT financia projectos de investigação, bem como equipamentos científicos e bolsas de doutoramento e pós-doutoramento. Em suma, como diz o decreto-lei que define a sua missão, compete-lhe “a coordenação das políticas públicas de ciência e tecnologia”. Políticas que, no actual Governo, e com Miguel Seabra na FCT, têm passado por cortes nas bolsas de doutoramento e pós-doutoramento e por uma avaliação de credibilidade duvidosa aos centros de investigação do país.

    É por isso, no mínimo, surpreendente Miguel Seabra ter-se candidatado a um prémio de investigação científica enquanto ocupava a presidência da FCT. Tal como o Gato de Schrödinger existe paradoxalmente ao mesmo tempo em dois estados, Miguel Seabra colocou-se numa sobreposição de lugares: era gestor político, que coordenava as políticas públicas de ciência e tecnologia, e ao mesmo tempo cientista que concorreu a um prémio com a sua própria investigação científica. (…)»

6 comentários :

Rosa disse...



Lembrei-me do filme de Woody Allen "Zelig"...ele , também, estava em toda a parte...

ECD disse...

Mais um duro golpe para a imagem da FCT e para o decoro institucional exigível a qualquer servidor do Estado. Imperdoável.

Com o tempo vamos ter uma noção mais aproximada dos conflitos de interesses e da danosa gestão da política cientifica da FCT pela equipa Miguel Seabra. A ultima, em data, malvadeza da FCT aqui relatada por Gonçalo Calado.

http://www.publico.pt/.../quando-os-prazos-sao-a-unica...

RFC disse...

Três passos e uma série de perguntas, possíveis.

1. Concorre-se sem avisar a tutela (o MEC de Nuno Crato) porque à partida se sabia que se iria demitir no caso de ganhar?

2. Ou concorre-se para garantir money para a continuação do projecto e da solidez da sua equipa, e para si próprio já agora se a resposta à primeira pergunta estivesse na sua cabeça?

3. E a tutela política, que fez? Ficou mesmo surpreendida e perante um quadro insólito obrigou[-se] à demissão? Houve tentativas anteriores de demissão que foram sendo recusadas e convencido Miguel Seabra a continuar? E que raio de estória é esta em que um laboratório tem o poder suficiente para obrigar à mudança do principal rosto das políticas públicas com uma simples transferência bancária (horas antes de o prémio ser anunciado publicamente* Miguel Seabra sai assim suavemente, quando as últimas notícias indicam que a FCT será obrigada a pelejar nos tribunais pela limpeza da avaliação do Cratismo aos laboratórios universitários, e vai tratar da sua vidinha)?

Post Sciptum - E os deputados da oposição já se mexeram, alguém sabe?

* Será importante saber-se exactamente quando a BIAL o avisou, umas horas antes decerto, e como a equipa de Nuno Crato entra e sai.

Luís Lavoura disse...

Eu não acho nada surpreendente. Qual é o mal de um cientista que tem (suponho eu) trabalho de mérito se candidatar, em quaisquer circunstâncias, a receber um prémio por esse trabalho?

RFC disse...

Adenda. Luís Lavoura, julgo saber ler a lápide: parece que já nada surpreende a maioria da opinião pública portuguesa, de facto. E mesmo em quaisquer circunstâncias (!), disse bem, quando essa maioria menos alguns argutos continua despreocupadamente a sua vidinha (preocupada com outras coisas + terrenas, e justamente aliás). Disse mesmo muito bem, mas atenção: essa maioria tanto anda despreocupada para agir como para continuar calada. E é exactamente por isso que deixa o espaço livre a uma imensa minoria (como o Miguel e os comentadores no CC, a Teresa Firmino no P. e aqueloutro anónimo no blogue Rerum Novarum, etc.), e é com estes que se pode contar.

RFC disse...

Correcção, a tempo. Não a encíclica Rerum Novarum do papado leonino, mas o blogue Rerum Natura do físico Carlos Fiolhais.