sexta-feira, novembro 04, 2005

As alucinações do Senhor Cluny

Ninguém sabe ao certo se terá valido a pena a António Cluny ter trocado os piquetes de greve por um tour em Genebra. Para a posteridade, não há registo do alegado encontro na ONU (por exemplo, uma foto do presidente do sindicato a atravessar o hall de entrada), nem uma mera declaração de circunstância por parte do Relator Especial das Nações Unidas para a Independência do Poder Judicial e da Advocacia.

António Cluny tornou agora pública a carta que diz ter feito chegar ao Relator Especial das Nações Unidas. Nela se queixa que o Estatuto do Ministério Público “permitia — e nisto reside o ponto mais importante — uma base material que garantia, no quadro da nossa sociedade, a independência, a segurança e a serenidade necessárias ao exercício correcto das funções dos magistrados.”

Ao ler a carta entregue por António Cluny, a secretária do Relator Especial terá ficado perplexa com tamanha afronta à magistratura portuguesa, implorando mais elementos para que o seu superior hierárquico pudesse elucidar convenientemente o Senhor Kofi Annan. O CC está em condições de reproduzir o relato da conversa mantida à porta do elevador (já no 15.º piso):

    — Madame, informe o Cher Monsieur Leandro Despouy de que eles, lá em Lisboa, nos reduziram as férias judiciais em 15 dias e nos integraram no regime de assistência na saúde da maralha da função pública. Como podemos ser independentes? Como poderemos ter “a segurança e a serenidade necessárias ao exercício correcto das funções dos magistrados”?
    — Quer que transmita mais alguma situação anómala ao Senhor Relator Especial?
    — Sabe, Madame, isto é uma retaliação do poder político. Eu já disse isso mesmo num programa que nós temos lá na televisão, mas tive depois que recuar, porque o ministro da Justiça quase ameaçou a minha integridade física. As coisas estão a ferro e fogo!
    — Monsieur Cluny, lamento não ser possível dar-lhe mais tempo…
    — Madame, transmita ao Cher Monsieur Leandro só mais uma coisa.
    — Diga lá, então...
    — Eles aumentaram-nos os impostos.
    — Só aos magistrados, Monsieur Cluny?!
    — Aumentaram a taxa do escalão mais alto do IRS e em Portugal ninguém no Estado ganha mais do que os magistrados…
    — Au revoir, Monsieur Cluny.

8 comentários :

Anónimo disse...

Faça-se justiça - essa da retaliação o gajo assumiu cobardemente que não é ele que pensa. São os outros.

Anónimo disse...

Brilhante Abrantes. Meus amigos, vale a pena ler a dita carta, pois quando pensamos que tudo era possível, ainda nos surpreendemos...

Anónimo disse...

O Cluny perde a serenidade quando está no meio do trânsito entre a casa do estado em cascais e o tribunal em Lisboa.

Anónimo disse...

É mentira, pá. O gajo dos que trabalha em casa, com vista para o mar. O rapaz tem horizontes...

Anónimo disse...

O Cluny é bom camarada. O Cluny é bom camarada. O Cluny é bom camarada.

Anónimo disse...

O Cluny é um explorado da classe intelectual. Subiram-lhe o imposto para o escalão máximo do irs, dão-lhe uma casa longe do emprego, tem uma produtividade indeterminada e é pago pelos impostos de todos nós.

Anónimo disse...

E a carta do outro sindicalista que se diz especialista em assuntos laborais (como nós já o percebemos)? Deve ser linda.

Anónimo disse...

foda-se, Miguel, há muita coisa para que não tens jeito. Mas para fazer humor és uma lástima. Por favor, não repitas, gosto mais de ti com cara de zangado