"Na fase inicial do processo Casa Pia defendi sempre a investigação. Porque me parecia importante que se fosse ao fundo da questão dos abusos (facto incontestável) e que o crime não ficasse sem culpados. Agora tenho opinião muito diferente, construída à medida que fomos assistindo ao modo como o caso Paulo Pedroso foi tratado, como o processo foi sendo revelado, com escutas passadas para os jornais, obviamente escutas políticas com nenhum interesse para o processo, também à medida que se foi constatando que entre os materiais está muita coisa que a lei obrigava a destruir por não ser relevante para a produção da prova. [Houve dolo ou negligência?] Há elementos nos dois sentidos. A dada altura pode ter havido abuso de poder de alguém que pensou envolver nas teias do processo uma parte importante dos políticos. Há no processo múltiplos indícios disto. A existência de escutas que não têm outra importância que não seja política aponta para a constatação de que a dada altura este processo Casa Pia claramente descambou do seu objectivo.
Houve uma procura quase cega de culpados e não vemos no registo das escutas comunicações entre arguidos no processo. O que parece ter acontecido [a quem conduziu a investigação], à falta de encontrar o que era relevante para o crime em si, foi uma procura generalizada de informação, como se houvesse o estender de uma rede a ver se apanhavam alguma coisa. É abuso do poder.
O caso do registo das chamadas [divulgado pelo 24 Horas] é mais uma das histórias mal contadas. Ninguém pode ter mexido naquele ficheiro sem se aperceber de que estão ali 80 mil chamadas. Há uma questão central que tem de ser esclarecida pelo PGR: como é que depois de o ficheiro ter sido visto na Procuradoria não foram eliminados os dados que não eram relevantes para aquela investigação. Há em certos sectores da justiça uma mentalidade de desrespeito pelos direitos e liberdades dos cidadãos, em prejuízo de uma investigação eficaz. Porque se há coisa que quero é que quem abusou aquelas crianças seja punido. Ouvi o presidente do Sindicato dos Magistrados falar na TV sobre matéria sujeitas a inquérito, afirmando que tem conhecimento do que lá está. Deu entrevistas sobre a substância do inquérito. É ilegal, é um abuso de poder e ninguém levanta a questão! (...)"
José Pacheco Pereira
Houve uma procura quase cega de culpados e não vemos no registo das escutas comunicações entre arguidos no processo. O que parece ter acontecido [a quem conduziu a investigação], à falta de encontrar o que era relevante para o crime em si, foi uma procura generalizada de informação, como se houvesse o estender de uma rede a ver se apanhavam alguma coisa. É abuso do poder.
O caso do registo das chamadas [divulgado pelo 24 Horas] é mais uma das histórias mal contadas. Ninguém pode ter mexido naquele ficheiro sem se aperceber de que estão ali 80 mil chamadas. Há uma questão central que tem de ser esclarecida pelo PGR: como é que depois de o ficheiro ter sido visto na Procuradoria não foram eliminados os dados que não eram relevantes para aquela investigação. Há em certos sectores da justiça uma mentalidade de desrespeito pelos direitos e liberdades dos cidadãos, em prejuízo de uma investigação eficaz. Porque se há coisa que quero é que quem abusou aquelas crianças seja punido. Ouvi o presidente do Sindicato dos Magistrados falar na TV sobre matéria sujeitas a inquérito, afirmando que tem conhecimento do que lá está. Deu entrevistas sobre a substância do inquérito. É ilegal, é um abuso de poder e ninguém levanta a questão! (...)"
José Pacheco Pereira
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