quinta-feira, setembro 21, 2006

Pinto Monteiro ao Público [2] – «O acesso ao Supremo está “viciado”»

    "Por que razão não concorda com o sistema actual de eleição do presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ)?
    Uma das funções que o Conselho Superior da Magistratura (CSM) tem é a graduação dos juízes que ascendem a conselheiros do STJ. Como é que eles chegam ao Supremo? Através de um concurso, de trabalhos que são apreciados pelos membros do CSM. Entre esses membros há um juiz eleito para presidente que, obviamente, se faz parte de uma lista , tem de ter um certo controlo sobre eles. Não passa pela cabeça de ninguém que não sejam da sua confiança. Esse homem é um homem-chave na graduação, toda a gente sabe isso. Ninguém o diz, mas toda a gente sabe isso. Eu não ponho em causa as pessoas, é tudo gente séria e isenta. O que está em causa é o sistema.

    Porque gera desigualdade, é isso?
    Repare no que acontece. O vice-presidente do CSM é uma das figuras-chave na escolha dos conselheiros. Esse homem nunca devia poder concorrer no Supremo, porque a verdade é que quem o vai eleger são as pessoas que ele graduou.

    Está a dizer que é um sistema viciado?
    É um sistema viciado. Dizer esta palavra parece que é um crime mas eu repito, não estão em causa as pessoas, é tudo gente séria e honesta, o problema é o sistema em si.

    Defende então uma alteração das regras de acesso a presidente do STJ?
    Sim, a forma como é feito este acesso suscita dúvidas e interrogações. É uma relação que tem todo o aspecto de poder ser viciada. Se o é ou não, não sei … Mas é evidente que, se há alguém que tem um papel-chave na admissão de A ou de B a uma determinada empresa, quando têm de votar, votam em quem os admitiu.

    Na sua opinião, de que forma é que este sistema deveria ser alterado?
    Na minha opinião, quem fosse vice-presidente do CSM não devia poder concorrer no Supremo. Em Espanha, por exemplo, o vice-presidente do CSM é nomeado pelas Cortes e nem sequer é juiz. Se aqui admitem a possibilidade do vice-presidente do CSM se tornar presidente do Supremo, então não permitam é que as pessoas mudem de pele consoante queiram candidatar-se a certos lugares, isso é que não pode ser. Se falar com o poder político, com o Presidente da República, vai ver como sabem isso. Só que ninguém o diz, mas, em conversas privadas, admitem-no. E que isto se presta a um desprestígio enorme, presta.

    Como explica que, recentemente, tenham sido anuladas graduações de juízes para o Supremo?
    Foi a primeira vez, depois do 25 de Abril, em 30 anos, que houve quatro anulações de graduações. Porque as pessoas não acreditam nelas.

    Não será porque os dados estão viciados?
    É evidente, parece que é evidente."

2 comentários :

Anónimo disse...

O sr. dr. Pinto Monteiro é, de facto, um homem de uma brilhante...
Como queria concorrer ao cargo de Presidente do Supremo e as eleições estão à porta, resolveu, de forma encapotada, criticar (sem, contudo, dizer o seu nome) o único candidato que lhe poderia fazer sombra.
Eis um homem «frontal» para o cargo de PGA...

Anónimo disse...

O autor do Post anterior pertence àquele sector da magistratura que constitui a gangrena da justiça portuguesa.