terça-feira, outubro 03, 2006

O estalinismo (caviar) em debate



Sergei A. Grigorev,
Stalin at a Session of Politicians at the Kremlin



1. Os editoriais no site do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) estão a fazer furor na blogosfera (cf. f. e Pedro Caeiro). São peças de um fino recorte literário, com alusões a Paul Nizan (Les chiens de garde, Maspero, Paris, 1968), a Noam Chomsky e a Félix Cucurull, “um poeta catalão amigo de Portugal” que a blogosfera, no entanto, ainda não adoptou.

2. O editorial n.º 9, intitulado Rejeição, denuncia à nação o regresso em força do estalinismo — e aponta a dedo um dos “directores dos mais significativos jornais diários”, que “frequentou” “órgãos da extrema-esquerda de inspiração estalinista” que atentaram contra o “funcionamento [d]os tribunais e as regras do estado de direito num caso de homicídio que aconteceu no Alentejo.”

O caso é sério. Há, na sociedade portuguesa, uma disputa em torno do legado de Estaline. António Cluny não se conforma que não lhe reconheçam o que fez em prol da causa. Estou inclinado a dar razão ao presidente vitalício do SMMP. Em sua defesa, António Cluny tem um percurso notável como controleiro da UEC na Faculdade de Direito de Lisboa após Abril de 1974 (antes, não, que a coisa era mais complicada).

Podia ter-se dado o caso de ter encontrado, entretanto, a sua estrada de Damasco, mas parece, felizmente, que assim não aconteceu. Ainda recentemente, o dirigente sindical compinchou com os velhos camaradas da UEC, recordando os bons tempos do PREC, e não deixou de marcar presença no funeral do líder.

3. Discordo no entanto do presidente do SMMP quando mete no mesmo saco o Conselheiro Arala Chaves e o Dr. Souto Moura [“os diatribes raivosos [sic] que os jornais de extrema-direita (…)”]. É que há uma diferença que escapa a António Cluny: o Dr. Arala Chaves defendeu, nos tempos da ditadura, a democracia; o Dr. Souto Moura nunca se preocupou então com a democracia e andou entretido a furar greves, como o próprio reconhece na entrevista ao Sol.

4. O editorial n.º 9 (número fatídico para o Ministério Público) é um hino à imprensa livre. A liberdade de imprensa é boa quando diz bem de nós (como sucede com o luminoso Sol); é má, e desbaratada por cães-de-fila, quando critica os tiques corporativos da magistratura — e foram esses, e só esses, que têm sido postos em destaque nos media. Ou como disse António Cluny ao DN de 22.05.2006: “Todos defendemos o Estado de direito desde que não nos bata à porta."

E é claro que a magistratura, que tem por função perseguir crimes, pode cometer o crime de injúria quando apelida de cães os directores de jornais. O Código Penal não se lhe aplica, obviamente.

7 comentários :

Anónimo disse...

O único partido verdadeiramente estalinista foi e é aquele em que militou (e ainda depois de já ser magistrado) António Cluny. Não foram os grupelhos de extrema esquerda.
Aliás, muitas direcções e dirigentes do SMMP foram escolhidos pela direcção desse partido, tendo o SMMP sido criado, formatado e dirigido segundo os respectivos modelos político-sindicais.
Sempre tive uma grande dúvida em relação ao presidente vitalício do SMMP: estará ele mais próximo de Andrei Vychinsky ou de Lavrenti Beria?
É que, se é verdade que ele pensa como Beria e age como Vychinsky, não tenho dúvidas nenhumas de que, se as circunstâncias tivessem sido outras (ou seja se o partido dele tivesse tomado o poder), ele rapidamente teria agido como Beria, sem qualquer outro pensamento senão o eliminar quem pensasse e ou agisse fora dos parâmetros da grande verdade estaliniana.
Só os mais desavergonhados cinismo e oportunismo podem justificar que ele chame estalinistas a outros.

Filotémis

Anónimo disse...

O que ele gosta mesmo é dos editoriais de Eduardo Dâmaso, no Diário de Notícias. Esses ele adora-os porque alguns são ditados por ele.

Anónimo disse...

O Sr. Cluny perdeu a cabeça?

Anónimo disse...

Caro Miguel:

Não era melhor assinar com o seu nome os textos do Filotémis?

Havia menos plurismo mas ganhava a verdade.

Anónimo disse...

ESTOU DE ACORDO TOTAL COM A OPINIÃO DE FILOTÉMIS. É RIGOROSO NA ANALISE QUE FAZ DESSE sr..
estaline

Anónimo disse...

estaline, filotémis, kavako, abrantes... este homem tem mais heterónimos que o outro...
mas honra lhe seja feita - até que nem dá erros ortográficos... só de vez em quando, para parecer que é o 'povo ignorante' que aqui vem e lê estas merdas...

Anónimo disse...

O Cluny é uma figura egocêntrica, prepotente e puto mimado que há muito se devia ter afastado do Sindicato e só não o fez pq depois... quem paga as viagens das Medeis; para a América do Sul, etc e as deslocações dos camaradas a Portugal, sendo certo que, neste último caso, o camarada Cluny fica com créditos sobre esses camaradas para um dia ir discursar " a teoria da batata " a esses países terceiro-mundistas...
Seja como for, é evidente que o camarada Cluny não representa o MP, que de magistratura nada tem, e, pelo contrário, com as suas condutas só tem envergonhado essa classe de funcionários do Estado.
Claro que a estrutura acéfala do SMMP que rodeiam o Chefe / Dono, batem-lhe palmas à espera que um ossito lhes caia do Céu. Pobres Diabos!...
No fundo, tudo isto não destoa do País que somos....