A propósito das quase 62 mil páginas de “notas pessoais” arquivadas por Portas quando abandonou o Ministério da Defesa (e quantas terão sido como ministro de Estado, uma vez que também mantinha um gabinete na Gomes Teixeira?), o Público ouviu vários ex-governantes: por exemplo, Santana “não comenta”, Eduardo Catroga considera que “quem exerce cargos políticos não tem nem legitimidade política, nem jurídica para fotocopiar ou digitalizar o que quer que seja”, o beato Bagão defende o líder do PP com o extraordinário argumento de que “o dr. Paulo Portas não foi, certamente, o único a trazer, fotocopiar ou a digitalizar documentos”. Mas a pergunta certa foi a de Rui Pena, também ex-ministro da Defesa:
“Desconheço o que se passou [com Paulo Portas], mas se os documentos eram notas pessoais [à média de 24 por dia, durante os sete anos em que presidiu ao CDS] como ele diz, porque é que não trouxe os originais?”
Rui Pena remata assim: “61 mil documentos correspondem a um arquivo de uma direcção-geral”. Diria mais: corresponderão ao material necessário e suficiente para fazer um concorrente do Sol durante um quinquénio.
6 comentários :
Outra questão a colocar é esta:
- não há uma alma caridosa que ensine PP a trabalhar com o computador, por forma a permitir-lhe escrever e guardar as suas notas pessoais digitalmente, evitando que o senhor tenha de digtalizar os seus manuscritos?
O MP não investiga ?
O ACUSADOR ACUSADO
Diz o Expresso, austero e minucioso, que o dr. Paulo Portas, patriota de si mesmo, mandou copiar 61 893 páginas do Ministério da Defesa quando tutelava a pasta. O conhecidíssimo semanário esclarece, ainda, que "alguns documentos tinham escrita a palavra 'confidencial' ". Adianta: "O Ministério Público sabe, mas não investigou." Investigou o Expresso, muito dado ao varejo para resguardo e defesa da moral pública.
Até recordo, com enternecida emoção, aquele gracioso texto sobre o Rosa Casaco, e as fotografias acompanhantes, junto da Torre de Belém, emblema da pureza nacionalista. Casaco, para quem não sabe e, também, para os que preferem ignorar, foi um torcionário da polícia política, cúmplice demonstrado do assassínio do general Delgado. Estava fugido, procurado com afã, mas toda a gente sabia onde se aboletava. E o Expresso, numa fina e nunca assaz louvada iniciativa, apresentou-se com uma "cacha" monumental: trouxe o pide a Lisboa e com ele se passeou, imperial na sua vasta glória. Demonstrava, desta forma, as infinitas possibilidades de que dispunha para enganar as autoridades e, também, levemente embora, para proceder a umas amolgadelas na ética e na deontologia que ardorosamente clama defender.
O dr. Portas, acusado, agora, de incomensurável vileza, sobressaltou-se, legitimamente, e diz-se inocente no propósito e casto na matéria. No recolhimento do Caldas declarou que o poderoso volume de fólios era constituído por notas pessoais e breves anotações acerca do CDS-PP. O dr. Portas sempre apreciou anotar. N'O Independente anotava tudo o que representasse malefícios para a República. Serviu-se do adjectivo como de um aríete. Contornava, com lenta obstinação, a verdade dos factos, se é que os factos contêm alguma verdade, a fim de preservar as públicas liberdades. O Independente foi leve, fresco, farsante e bailarino. Diz quem sabe que o dr. Portas resguardou um feixe incalculável de notas. A pecha nasceu, segundo se suspeita, no jornal. Acontece um porém: no jornal, quem pagava eram os proprietários; no ministério, somos nós quem esportula os euros.
Com timidez admito que o dr. Portas esteja a preparar um livro cruel, um ensaio arrasador, um depoimento exaltante, um testemunho arrebatado, um memorial contundente ou um documento faiscante sobre a imbecilidade, a intriga, o desleixo, a ignorância dos políticos portugueses - e para isso precise de milhares de apontamentos.
Mas o varejo das coisas e dos outros ou das coisas dos outros quando começa não consegue parar. A tineta do dr. Portas para a anotação poderá ter um reverso mais condenável do que o cândido exercício mnemónico. Quem nos diz que ele próprio não está anotado em outros ministérios?
Uma vez que o dr. Rui Pena disse o óbvio,
o que espanta é que nenhum jornalista tenha confrontado o dr. Paulo Portas (e o seu ar de auto-satisfação) quando fala do caso com ligeireza ...
Como é que o País politico se cala, pode estar em causa a nossa segurança - é legitimo pensar para onde vai os tais apontamentos - por meras desconfianças e dis-se dis-se, esteve um deputado preso durante 2 anos - e agora que o caso é bem mais serio - o que faz o Comandante em chefe das forças armadas? diz passo, não vai a jogo?
Ze Boné
O que este sr. fez,resume-se a:
- Roubo;
- Espionagem;
- Abuso de confiança;
- Garotice.
De que está à espera o MP ? Depois disto ? Aguardamos.
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