domingo, março 09, 2008

LER OS OUTROS

João Pinto e Castro, A fragilidade da política da indignação:

    “A jornada de ontem foi convocada sob a ambígua bandeira do direito à indignação. O que significa isso ao certo? Qual o objecto exacto da indignação? Que pretendiam os manifestantes?

    Ouvindo as declarações recolhidas pelos repórteres ficámos a saber que os professores não são contra a avaliação, que a aceitam mas não desta maneira e que a recusam sob qualquer forma. Muito esclarecedor.

    Não restam, porém, grandes dúvidas sobre o sentimento geral. Os professores, que foram forçados a trabalhar mais horas, como se prova pela drástica redução do absentismo no ano passado, montaram agora a sua última barricada em torno dos temas cruciais da avaliação e do sistema de gestão das escolas.

    É o cancelamento dessas reformas que vão exigir? À primeira vista, dir-se-ia que sim, mas não foi isso que ouvimos da boca dos dirigentes sindicais. Carvalho da Silva e de Mário Nogueira decidiram nos seus discursos elevar a fasquia, exigindo, não a revogação das políticas, mas a demissão da Ministra.

    É isso que interessa à Intersindical e ao PCP, embora não seja isso que une os professores. Logo, não creio que arrisquem a convocação de uma greve com esse objectivo.

    A ambiguidade da convocatória foi o que permitiu mobilizar toda aquela multidão, mas essa mesma ambiguidade é, no dia seguinte, quando se procura tirar conclusões do acontecido, a sua grande debilidade. A política da indignação não é política nenhuma, e é por isso que se pode afirmar sem demagogia que os manifestantes foram instrumentalizados por desígnios políticos cujo sentido último lhes escapa.

    Que vão exigir os partidos da oposição? Sabemos o que esperar do PCP, e, talvez, do Bloco, que a cada momento confirma a sua ausência de projecto próprio. E o PSD, e o PP, o que irão dizer? Que argumentos poderão usar para se poderem opor às reformas da educação?”

    “O mito que o facto de algumas manifestações serem convocadas (também) por SMS significa que elas são genuinamente "espontâneas" e feitas à margem do activismo sindical nas escolas. O mito já vem de trás e tem a ver com a ideia que manifestações e concentrações, por serem convocadas por SMS (ou por e-mail), são fruto de iniciativas de natureza mais genuína do que as que tem uma origem organizacional conhecida nos sindicatos ou partidos.”

    «O mito de que os professores "querem ser avaliados", repetido à saciedade pelos órgãos de comunicação social, assenta no facto de os professores dizerem que "querem ser avaliados". No contexto actual não podiam dizer outra coisa, porque dizerem que não queriam ser avaliados daria uma imagem de privilégio e de fuga às responsabilidades. Há no entanto professores que dizem uma coisa diferente, com menos sucesso comunicacional: a de "que já são avaliados", ou de que "foram sempre avaliados", o que são maneiras distintas de falar da avaliação, com implicações diferentes. Mas estas últimas fórmulas não têm o sucesso da que "querem ser avaliados".

    Ora qualquer estudo sobre o comportamento de grupos profissionais funcionalizados e sobre sociologia das organizações dirá que ninguém (ou a maioria) alguma vez desejará substituir um sistema de progressão na carreira sem riscos (como a antiguidade) por outro que contenha riscos, que implique provas, exames, controlo pelos pares, hierarquia. Numa profissão só uma pequena minoria pode desejar a avaliação com risco se isso significar melhores condições de trabalho e melhores salários. Essa minoria é normalmente mal vista pela maioria. Quando se aplicou o sistema Taylor nas fábricas, os operários que aceleravam os ritmos de trabalho eram mal vistos (e às vezes espancados) porque mostravam que um parafuso podia ser feito com muito menos tempo do que a média de tempo usada pela maioria.»

2 comentários :

Anónimo disse...

Eu não seria tão lesto a apropriar-me das palavras dos outros.

Olhe que tenho muitas dúvidas de que o sentido das palavras de JPP tenha alguma coisa a ver com o que se escreve aqui neste blogue, designadamente nos posts sobre educação.

Anónimo disse...

Mas que alta teoria...

O articulista não terá sido manipulado por alguém?

Sendo todos tão manipuláveis, ele não é ... Muito bem!!"!


Ehehehehehehehe...