terça-feira, março 11, 2008

LER OS OUTROS

• João Pinto e Castro, Sim, e agora?:


    “Rui Tavares mistura várias coisas no mesmo saco no seu artigo de hoje no Público, entre elas: a) A avaliação dos méritos genéricos da escola pública; b) A avaliação da pedagogia dominante no nosso ensino; c) A avaliação do modelo de gestão escolar hoje vigente.

    No fim, acusa a Ministra e o Governo de terem baralhado tudo: “Um discurso que nos diz que todo o ensino público está mal não é nem nunca será reformista.” Peço desculpa, mas a confusão é dele.

    Deixo, porém, à Ministra o encargo de se defender a si mesma, e passo a explicar a minha opinião sobre o tema. Sinteticamente, porque tem que ser:

    1. Avalio muito positivamente o desempenho global do ensino público após o 25 de Abril de 1974. Transformou o analfabetismo num fenómeno residual. Alargou drasticamente os anos de ensino obrigatório. Chegou a todo o país. Permitiu a milhões de jovens concluírem os seus estudos secundários e abriu as portas da universidade a centenas de milhares deles.

    2. Repudio a retórica sobre o eduquês como uma catilinária reaccionária e ignorante que pretende fazer-nos recuar aos tempos anteriores a Coménio (o fundador da pedagogia moderna que os pobres críticos confundem com Rousseau).

    3. Acredito que a escola pública tem condições para superar a sua actual crise de forma a continuar a assegurar a educação universal e gratuita primária e secundária a todos os que a ela queiram recorre.

    4. Não tenho o menor desejo de polemizar sobre se as coisas teriam sido melhores ou piores se outro caminho tivesse sido seguido. Fizemos o que fizemos, e fizemo-lo genericamente bem.

    5. Interessa-me exclusivamente discutir os problemas da escola pública de hoje e encontrar para eles as melhores soluções.

    6. Não acredito que haja respostas definitivas para os problemas, válidas independentemente das épocas e das circunstâncias. Julgo, por isso, que certos arranjos que provaram ser adequados ou ao menos neutros no passado se encontram hoje obsoletos.

    7. Tal como vejo as coisas, a escola pública tem hoje dois grandes desafios pela frente: a) o desafio da adaptação do conteúdo do ensino às necessidades da sociedade contemporânea; b) o desafio da gestão criteriosa dos recursos ao seu dispor.

    8. O primeiro desafio é o mais difícil e exigente. Não falarei dele agora, excepto para dizer que as potencialidades da escola pública a esse nível só poderão ser libertadas se se resolver primeiro o segundo, dado que, sem isso, não teremos recursos para o fazer.

    9. A escola pública é hoje um local de esbanjamento das capacidades dos professores e dos alunos. O sistema por ele responsável existe há muito tempo, mas só na última década se converteu num travão essencial ao progresso.

    10. As escolas públicas têm sido geridas, perante a complacência do governo central, por uma aliança perversa entre a máquina burocrática da 5 de Outubro e os sindicatos dos professores.

    11. Como tem sido observado por múltiplos comentadores, os professores presentemente não são avaliados nem prestam contas a ninguém. Esta situação insólita, sem par, ao que julgo, em qualquer país desenvolvido, tem que terminar. Este é que é o problema.

    12. Tal como a pressão sobre o Ministério da Saúde atingiu o seu clímax quando se encontrava prestes a entrar em vigor o controlo dos horários dos médicos e a abertura de farmácias nos hospitais, os professores mobilizaram-se em massa para bloquearem o Ministério da Educação quando se aproxima o momento decisivo em que eles começarão a ser avaliados e em que entrará em vigor o novo regime de gestão das escolas.

    13. Nestas condições, é ingénua a reivindicação do diálogo da Ministra com os professores, quando é claro que os sindicatos recusam qualquer forma de avaliação e temem perder o controlo sobre as gestão das escolas. Alguma vez propuseram outra coisa que não fosse a pura e simples manutenção do statu quo?

    14. Soa-me estranha aos ouvidos a afirmação de que a reforma não pode ser feita contra os professores. Trata-se de uma constatação ou de uma ameaça? Porque, se, como parece, é uma ameaça, a resposta é muito simples: os professores que boicotarem a avaliação não serão promovidos e poderão eventualmente ser alvo de processos disciplinares.

    15. Pretender o contrário é aceitar que a política educativa deve ser confiada ao soviete dos professores. Digo soviete para não dizer corporação, visto que esta palavra parece ferir muito certos ouvidos.

    16. Sustento que a manifestação de sábado passado foi uma vitória de Pirro, pela simples razão de que nem o PCP, nem os sindicatos, nem os restantes partidos da oposição sabem o que fazer com ela? Semana de luto? Que tal semana da fome? Greve geral da função pública? E depois? É eleições antecipadas que pretendem? Para quê? Para serem derrotados nas urnas?

    17. As mesmas pessoas que há semanas declaravam defunto o movimento sindical encontram-lhe agora insuspeitadas virtudes. Pois a verdade é que os sindicatos continuam, como sempre, amarrados à política suicida do PCP.

    18. Já outros fizeram notar que o Governo continua a não depender de ninguém nesta matéria, desde que não se esqueça que o ensino existe para educar os alunos, não para empregar os professores, e desde que focalize as suas atenções no tema da gestão escolar, que é o nó da luta pelo poder que estamos a presenciar.

    19. De modo que me parece que a pergunta do Rui - “Contentes, agora?” - deverá antes ser endereçada aos sindicatos e aos professores que com eles alinharam.”



• Lutz Brückelmann, Determinação não chega:


    “Mas mesmo se todos esses erros tivessem sido evitados, tenho para mim que a contestação por parte dos professores teria sido enorme. Porque é um facto que ela [a reforma da educação] visa retirar privilégios à generalidade dos professores, com a contrapartida da promessa de melhores condições de progresso na carreira para poucos. É seguro presumir que a maioria dos professores, tal como qualquer outro grupo de pessoas, optaria pelo conhecido, que é seguro, do que pelo desconhecido que comporta riscos.”

24 comentários :

Anónimo disse...

Sem espinhas. Magnífico post que imprimi e vou fotocopiar.

Anónimo disse...

"o ensino existe para educar os alunos, não para empregar os professores"

Essa é a frase. Está tudo dito.

Anónimo disse...

Post impecável de lucidez e conhecimento das escolas! Sou professora há muitos anos e digo-lhe que os sindicatos (leia-se Fenprof/Pcp)pouco mais podem fazer. Luto? E isso adianta o quê? Aliás a maioria das escola, pelo menos do Norte, não cumpriu luto nenhum, porque talvez tenham percebido o ridículo dessa forma de luta. Segunda-feira de protesto? Acaba por cansar os professores, por não servir para nada. Greve? Isso é que era bom para os sindicatos...mas nenhum professor aguenta mais do que um dia de greve, porque fica caríssimo e depois têm que fazer trabalhoa dobrar. Greve aos exames? Os conselhos Executivos não se atrevem, é muito arriscado e, de qualquer maneira, há sempre os serviços mínimos que garantem a realização dos exames. Aliás, ontem, segunda-feira, já encontrei a maioria dos manifestantes da minha escola a estudar com muita atenção a legislação da avaliação e a tratar de trabalhar.

Anónimo disse...

Fico fascinada pela inteligência. Esta postagem é um bom exemplo de que o bom uso dos neurónios pode abrir caminhos e mostrar o que é justo e deve ser apoiado. Os meus sinceros parabéns ao bloguer João Castro.

Anónimo disse...

Eram cerca de 100%, não eram?
Se a maioria não aderiu ao protesto, sobretudo os do Norte, uma minoria do Sul fez o milagre da multiplica´ção...

Anónimo disse...

Os cento e tal mil da MANIF andam todos (a ser) enganados.
Só o Governo está certo.

Anónimo disse...

Custa um bocadinho ser avaliado mas depois a gente habitua-se. Os profs que acreditem em mim.

oscar carvalho disse...

Bem escrito! Enviava com gosto para os meus amigos professores, mas o momento não é oportuno: a razão está sequestrada pela emoção.

Anónimo disse...

Uma cambada de vagabundos e preguiçosos.

Anónimo disse...

Pode ser por distração minha mas no meio do alarido geral ainda não percebi a alternativa que os sindicatos e os professores defendem.
É importante saber para poder-mos ajuizar.

Anónimo disse...

No essencial estou de acordo.

No entanto ele há um questão que NUNCA, ou quase NUNCA, é abordada.

Eu explico-me: a democratização da Sociedade portuguesa pós-25 de Abril e a massificação do ensino, como factor fundamental na emergência das disfunções na Escola pública...

Pergunto: no Ensino privado e cooperativo existem disfunções deste teor? Nestes subsectores há problemas de mérito e de avaliação dos professores? há terrorismo na sala de aulas e/ou no espaço escolar?

Não estou a colocar a dicotomia ensino privado/cooperativo versus escola pública, mas,no confronto, e nestes itenes, esta fica, claramente, a perder para aqueles...não tenho dúvidas.

Os dados que tenho, excluindo o ensino superior, a escola pública terá, actualmente, 140 000 professores e 1 800 000 alunos (admito que os meus números não sejam rigorosos, mas situam-se nesta escala...)! Como é possível gerir, a partir dum Centro (Ministério da Educação, que já teve o Ensino Superior!)este Monstro?

É claro que, há boa maneira dos PC'S de qualquer país, é onde "estão as massas que os comunistas se devem instalar e militar" e desestabilizar.

Portanto, desde o 25 de Abril, com a "democratização/massificação" da escola pública que este sector (sempre apetecível, mesmo durante e, sobretudo, no fascismo...)se tornou estratégico para o Partido Comunista. O PC está preocupado com a educação? com a instrução ? com a qualificação dos recursos humanos? com as condições de ensino? com as qualificações e o desempenho dos professores? com a qualidade das instalações escolares?

Nem um bocadinho!

Proponho um desafio: visitem os Concelhos onde o PC é poder e vejam (somente nas escolas EB1...)a situação que decorre exclusivamente das responsabilidades municipais na escola pública.

Outro exercício:veja-se as reinvidicações do PC e dos "seus" sindicatos desde o Ministério de Sottomayor Cardia (lembram-se?...).

Todos (os que somos velhos e temos memória, conhecemos a táctica e a estratégia do PC.) sabemos que o inimigo principal do PC, em Portugal, é o PS:estude-se a conflitualidade provocada pelo PC durante os governos PS e durante os governos do PSD e ficaremos, todos, esclarecidos.

Mas é necessário ser ousado na criação de um "nova" escola pública (as sugestões do Director do Expresso no seu Editorial de Sábado passado pareceram-me interessantes, mas não vão ao núcleo da urgente Reforma.).

É urgente a emergência dum NOVO PARADIGMA para a Escola Pública (que pode ser gerida por privados!...). Porque não olhar para a Escola USA! Porque não olhar para a Escola Bélgica e Holanda e Finlândia?!... Sempre olhámos para a Escola de França e...não passámos da cepa torta.

É urgente a regionalização e, após essa Reforma estruturante, "entregar" às Regiões a responsabilidade da gestão, assente no princípio da subsidariedade,da Escola Pública.

Ah!, quase que me esquecia, neste Paradigma "temos" de reformar Professores, Pais e alunos!

Uma nota final: sem alunos não há escola, mas, também, sem professores (competentes, apaixonados, talentosos e dedicados...)ela não existe.

José Albergaria

Anónimo disse...

Professores avaliados por outros professores nunca !

professores avaliados por inspectores como no tempo de Salazar sempre !

É assim que querem ?

Anónimo disse...

Um post brilhante que devia ser lido pelos professores, sindicalistas e .... governo.

Anónimo disse...

Os profs não têm razão,
o PCP aproveitou-se
mas a ministra pôs-se a jeito.

Anónimo disse...

Oh Miguel Abrantes...

Que chatice...

Afinal a esposa de António Costa também foi cooptada pelos comunistas !

Que contratempo !

O Costa também não conseguiu elucidar a esposa acerca dos benefícios das medidas do ME...

Anónimo disse...

Boa "posta"...

Exemplo perfeito da máquina de "agit-prop" montada pelo aparelho xuxa !

Não restam dúvidas que aprenderam imenso com os seus "companheiros de viagem" comunistas e extrema-esquerda, de onde, aliás muitos são provenientes.

A referência ao "soviete dos professores" é reveladora... Alguém se descuidou...

Anónimo disse...

Sempre destestei comunas. Pior ainda que comunas, são os comunas travestidos de socialistas (camaleões).
Esta frase dá-me vómitos:

"o ensino existe para educar os alunos, não para empregar os professores"

São estes tipos que a seguir dizem:

As fábricas são para enriquecer quem investiu nelas, não para dar pagar justos salários aos trabalhadores.

Como dizia o Botas, a Democracia é o melhor sistema político mas, não serve a maneira de ser dos portugueses. Estes só com chicote.

Anónimo disse...

Na próxima purga que o Politeburo Socialista realizar, lá vai a mulher do Costa ser colocada numa aldeia recôndita da Serra da Estrela. Que chatice.

Anónimo disse...

E que tal discutir o conteúdo da postagem ? eu achei-o brilhante ...

Anónimo disse...

O insulto fácil é mais fácil do que rebater argumentos. Compreende-se a falta de argumentos para ripostar a esta sólida análise.

Anónimo disse...

"16. Sustento que a manifestação de sábado passado foi uma vitória de Pirro, pela simples razão de que nem o PCP, nem os sindicatos, nem os restantes partidos da oposição sabem o que fazer com ela? Semana de luto? Que tal semana da fome? Greve geral da função pública? E depois? É eleições antecipadas que pretendem? Para quê? Para serem derrotados nas urnas?"

Mas a manifestação era para mostrar descontentamento quanto a uma política concreta, ou era para favorecer o PCP ou os outros partidos da oposição? Quanto ao que os sindicatos podem fazer com ela, não sei, mas seguramente torna evidente que a maioria dos professores apoia a sua actuação.

Anónimo disse...

Claro e ilucidativo o texto do post. Comungo do seu ponto de vista.
Não há outro caminho para os professores profissionais e competentes,os que ladram são a minoria aguerrida aliada aos sindicatos corporativos dominados pelo PCP.

Anónimo disse...

"Avalio muito positivamente o desempenho global do ensino público após o 25 de Abril de 1974"

-Então os professores trabalharam bem, não são os calaceiros que o CC não recomenda.

"A escola pública é hoje um local de esbanjamento das capacidades dos professores e dos alunos"

-Quando os professoes esbanjam capacidades que não são aproveitadas a culpa não é deles é, na minha opinião, de quem manda neles.

"As escolas públicas têm sido geridas, perante a complacência do governo central, por uma aliança perversa entre a máquina burocrática da 5 de Outubro e os sindicatos dos professores"

-Ou seja uma espécie de alianças PS / Sindicatos ou PSD / Sindicatos; percebo bem onde o meu amigo não quer chegar.

"Como tem sido observado por múltiplos comentadores, os professores presentemente não são avaliados nem prestam contas a ninguém"

-Ora aqui o meu amigo entrou na fase da aldrabice.
Até eu sei, que não sou professor, que os professores são avaliados. Pode dizer-se que não se concorda com a avaliação mas que são avaliados isso são.
E são também avaliados pelos Conselhos executivos, pelos colegas, pelos pais, pelos funcionários, etc. Não há profissão mais aberta que a do professor, penso eu!

"Esta situação insólita, sem par, ao que julgo, em qualquer país desenvolvido, tem que terminar"

-O meu amigo ou está a tentar atirar-me areia para os olhos ou então não lê nada do que se passa lá por fora.
Eu explico, assim a modos que em cima do joelho: Alemanha: Como avaliação têm de 6 em 6 anos uma aula assistida pelo director da escola a fim de subir de escalão - ao atingir o topo da carreira, terminaram as avaliação de 6 em 6 anos.
Belgica: a avaliação é feita de 2 em dois anos, penso eu mas não tenho a certeza, mas não tem qualquer peso na evolução da carreira e muito menos no vencimento.
Suiça: o sistema é idêntico ao alemão.
Três países desenvolvidos que têm um sistema de avaliação ainda menos exigente do que aquele que actualmente existe em Portugal.

"os professores que boicotarem a avaliação não serão promovidos e poderão eventualmente ser alvo de processos disciplinares"

-Opinião musculada mas muito primária, meu amigo, presumo que não é socialista. Os socialistas sempre souberam ouvir e negociar com quem trabalha.
No entanto há sempre uma resposta para tudo e neste caso pode ser que nos surpreendamos com uma desobediência civil, coisa nunca vista em Portugal.
Quem põe 100.000 na rua ...

"política educativa deve ser confiada ao soviete dos professores. Digo soviete para não dizer corporação, visto que esta palavra parece ferir muito certos ouvidos"

-A mim não me ofende mas de certeza que ofende os professores. É o chamado insulto gratuito.

"Pois a verdade é que os sindicatos continuam, como sempre, amarrados à política suicida do PCP."

-Lá continuamos a aldrabar, meu amigo, lá pelo facto do João Proença não aparecer, (esse senhor ainda é deputado do PS?) a verdade é que há sindicatos afectos não só ao PS mas afectos a outros partidos.
Sabe o que é uma Frente Sindical???

"Já outros fizeram notar que o Governo continua a não depender de ninguém nesta matéria"

-Discordo. Já hoje ouvi o Sr. Pedreira falar em felexibilidade.
Aliás recordo-lhe que vivemos num regime presidencialista e mesmo que o PR concorde com a política da ministra há uma coisa que ele vai ter de levar em conta - a instabilidade que hoje se vive na escola portuguesa.

Um conselho, meu amigo - não o considero um controleiro mas para não o parecer, tal como a mulher de César, é bom que quando escrever um postal com este folego não o escreva de ouvido.
Faça melhor os trabalhos de casa porque nem todos gostam de ser enganados.
Xantipa

Anónimo disse...

Santa ignorância!
Santa ignorância!