- “Que disse então Barack Obama? Primeiro, "que neste momento só o Governo tem capacidade para providenciar o estímulo necessário para levantar a economia de uma recessão severa e profunda". O que significa, para o Presidente eleito, que a crise, começando por ser financeira se tornou também económica - os Estados Unidos estão em recessão, como aliás a União Europeia - e daí resultou uma crise profunda e sistémica, que só poderá resolver-se mudando o paradigma, que se revelou em absoluto errado: a teoria neoliberal (em que vivíamos) de deixar funcionar o mercado livremente, com a sua "mão invisível" (Friedman), com cada vez menos Estado porque o mercado se auto-regulava.
A crise em que nos encontramos provou que não era assim. Precisamos agora da intervenção dos Estados, como de pão para a boca. Nacionalizações, claro, as que forem necessárias... E privatizações, como é óbvio, quanto menos possível. A fase do capitalismo de casino - ou financeiro-especulativo - tem de acabar. De facto e nas mentalidades. E o que terá de se seguir é uma regularização estrita do mercado - ditada pelos Estados nacionais - e a regularização da globalização feita por instituições internacionais, comandadas não por Washington ou por Bruxelas, mas sim pelas Nações Unidas. "Bretton Woods, exit..."
(…)
Em que consiste o plano que irá ser submetido à aprovação do Congresso, logo após a posse de Obama? Disse o Presidente eleito: "No investimento público de cerca de mil milhões de dólares em infra-estruturas, energia e tecnologia, no investimento extraordinário de assistência médica, educação, assistência social, policiamento e protecção social (com transferência de capitais para os Estados mais descapitalizados) e cortes fiscais, apenas, para as pequenas e médias empresas." Sublinhou ainda: "Precisamos de pôr dinheiro nos bolsos dos americanos, de criar novos empregos, de recuperar o mercado de crédito e restaurar as regras do seu funcionamento, para nos certificarmos de que uma crise, como esta, não volte a acontecer." E ainda: "Criar mais de três milhões de postos de trabalho, maioritariamente do sector privado. Duplicação das fontes alternativas de energia, o equipamento de milhares de escolas e laboratórios, a construção ou reparação de estradas, pontes e infra-estruturas públicas."
- “Nos últimos tempos, não passa uma semana sem que uma declaração atribuída a fonte de Belém dê direito a uma manchete nos jornais. Primeiro foi o anúncio da não promulgação do Orçamento de Estado no Sol, logo seguido da notícia de que, afinal, a promulgação tinha assentado num pedido de explicações adicional ao Governo, desta feita no Público, para culminar esta semana com o aviso, no Expresso, de que o Presidente quer as autárquicas em simultâneo com as legislativas e que se prepara para chumbar a Lei do voto dos emigrantes. Todas estas manchetes foram devidamente amplificadas por todos os media, fazendo, por isso, o seu percurso. A provarem-se verdadeiras, esta sucessão de notícias só poderia provar que à cooperação estratégica se seguiu a guerrilha institucional em surdina.
Acontece que a Presidência não deixou passar muito tempo até refutar, através de comunicados do seu Chefe da Casa Civil, o teor das notícias, bem como negar a responsabilidade pela sua divulgação. Ora, das duas uma: ou as notícias têm origem na Presidência da República ou são efabulações jornalísticas. Convenhamos que tendo em conta que as notícias anunciadas não se têm concretizado (veja-se a promulgação do Orçamento de Estado) e que a Presidência as refutou, a partir deste momento a responsabilidade está do lado dos jornais.
Há, a este respeito, dois tipos de questões. Uma que se prende com a própria relevância atribuída a notícias baseadas em declarações de fontes em ‘off' e uma outra que remete para a atitude a tomar pelos media quando as fontes se revelam pouco fidedignas.
(…)
Ora um dos princípios basilares da liberdade de informação é a independência editorial face à propriedade dos órgãos de informação. Algo aliás que Pinto Balsemão, ele próprio com um passado de jornalista, tem sabido demonstrar ao longo dos tempos. Em nome do Presidente, Nunes Liberato, não só assumiu que tal princípio geral não é para ser levado à letra, como, certamente de modo não deliberado, procurou pressionar a informação da SIC e condicionar Mário Crespo. Se não é esse o caso, qual o motivo do envio da carta a Pinto Balsemão? Numa altura em que se tem desenvolvido uma narrativa aparentemente tão sofisticada sobre o condicionamento político dos media, que dizer do que se passou a propósito das fontes atribuídas a Belém.”
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