quarta-feira, fevereiro 04, 2009

A palavra aos leitores

• Contributo do leitor Manuel T., de Santa Maria da Feira:
    «Aqui, na província mesmo, naquele sítio que desconfia, como “pobre e mal agradecido”, “quando a esmola é grande”, chove, faz frio e a lareira, à falta de lenha, reclama, para continuar a arder, monda de papéis – pedido prontamente respeitado por selectiva volta a caixas onde acumulo e arquivo palavras e carácteres.

    Volta que deu para o sabido: redescoberta de material que entretanto o tempo valorizou mais, e dispensa, para a lareira, de títulos e adjectivos que entretanto não mereceram escapar ao pó e à bicharada do papel.
    Redescoberta a quatro tempos:

    - em 3 de Dezembro de 2006, no Expresso, partindo do segundo volume das “Confissões” de José António Saraiva, que entretanto saira desse semanário para criar e dirigir o Sol, “Miguel Sousa Tavares confessou: “Eu conheço alguns jornalistas assim, que avaliam os governos e o estado do país pela facilidade que têm ou não têm em almoçar com os ministros, o primeiro-ministro ou o Presidente. E quanto maior é essa facilidade (...) mais eles acham que estão informados, que influem e que são parte da história”.

    - à edição de “Julho/Setembro-2007” de “Jornalismo & Jornalistas”, o escritor e jornalista Manuel António Pina declarou: “Continua a haver muito corporativismo no jornalismo, não há uma condenação profissional da classe em relação aos jornalistas que agem mal. É preciso ter-se a coragem de romper com isto e denunciar a delinquência profissional”.

    - no Público de 26 de Novembro de 2008, o respectivo director, José Manuel Fernandes, achou “conveniente olhar em perspectiva para alguns acontecimentos políticos dos últimos dias e nunca esquecer que, mesmo os que não acreditam em bruxas admitem, à espanhola, “pero que las hai, las hai”, e concluiu que “desta forma, por via de boatos de origem indefinida e da acção do dirigente do (...) o país arrisca-se a regressar ao clima de uma guerra de “terra queimada” onde nenhuma referência se salva: nem Governo, nem oposição, nem Presidente. Em democracia não se deve brincar com o fogo – mas numa democracia em tempos de crise, optar pela táctica da “terra queimada” pode ser suicidário”.

    - no Jornal de Negócios, de 30 de Janeiro último, Maria Filomena Mónica iniciou uma prosa opinativa, avisando: “Não pensem que tenho ilusões sobre os meus compatriotas: os que mais berram contra a corrupção são, por vezes, os que mais a praticam”.

    Depois de se ter consolado com tanta papelada, a lareira esmoreceu – sinal de que, para escapar ao “serviço público e cultural” da RTP 1, SIC e TVI, só me resta a cama (porque amanhã é dia de trabalho, a iniciar com acção de formação sobre o SIADAP decretado pela então Ministra Manuela Ferreira Leite – mas não para todo o funcionalismo público, porque, segundo alguns “herdeiros legítimos do 25 de Abril”, “os portugueses são todos iguais, mas há uns que são mais iguais do que os outros”)!
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3 comentários :

Francisco Clamote disse...

Que excelente contributo do Leitor de Santa Maria da Feira.Bem fez ele em guardar tanta papelada, pois está visto que "quem guarda sempre encontra". Cumprimentos

A. Moura Pinto disse...

Segundo dizia então o JMF "Em democracia não se deve brincar com o fogo". Por isso, mandar isso para a lareira, poderia ser trágico...
Gostei. Parabéns.

Anónimo disse...

Excelente. Sobre Manuel António Pina, que embora ande longe do que politicamente penso,leio tudo o posso. Um dia ouvi-o - já não recordo onde-dizer sobre a D. Filomena:"olhe, não li e não gostei..." Continuo a seguir-lhe o exemplo.