segunda-feira, junho 29, 2009

“Que putedo que anda para aí, sim senhor.”

Que o Dr. Pacheco não leve a mal, mas não troquei o jantar que tinha combinado para assistir à homilia do cónego da Marmeleira. Tive no entanto o cuidado de procurar inteirar-me do que se passou na estreia. Veja-se:

Aparentemente, a avaliar pelo que diz o CAA, não foi propriamente uma estreia feliz:
    “Foi uma inestética masturbação do imenso ego do protagonista. Do alto de uma cátedra que só alguns acólitos lhe reconhecem, JPP tentou condicionar a informação sobre aquilo que lhe interessa, sentenciando, reprovando e elogiando consoante as suas conveniências de agenda. Não fez opinião, expeliu acinte.
    Não sou nada apologista de queixinhas à ERC – mas, desta vez, julgo que o PS tem razões de queixa. Em vésperas de eleições, JPP, mal reciclado em ‘grande educador da classe média’ dispõe de um espaço de (im)pura propaganda eleitoral. Uma vez mais, a Sic-N está a patinar no ‘terreno pantanoso’ da informação que JPP tanto gosta de denunciar – o dos outros, bem entendido…”
No Twitter, João Pedro Dias, por exemplo, não precisou que Pacheco ocupasse o ecrã para regressar à infância: “Quando eu era puto lembro-me do Marcello Caetano assim a falar sozinho na TV para o people. Ele e o Vitorino Nemésio...” E, aparentemente impaciente, lança um aviso à SIC-N: “É bom que a loira não se atrase porque às 22H entra o Marcelo na rtp1. E eu não queria ter de escolher entre cabeleireiro e vichysoise...

Continuando a procurar na Net telespectadores isentos, deparo com o relato em directo feito por Luciano Alvarez, jornalista do Público, que, antes de mudar para a homilia do lado, ficou siderado com as cenas de sexo que apimentaram a estreia de Pacheco: “A melhor parte da Missa da Marmeleira foi a dos anúncios sobre sexo. Só não entendi se estava a elogiar, a criticar, ou a babar[-se].” Segundo a Fernanda afiança, as cenas de sexo tiveram um lado lúdico: “o espectáculo de pacheco a desfolhar as páginas hard do cm comentando as fotos 'sugestivas' é já um clássico”. E acrescenta um pormenor que faz supor que Pacheco não passou pelas mãos de Snu Avillez: “que programa cómico. e, dr pacheco pereira, que casaco pavoroso. botões dourados? vai andar de barco?

O Pedro Sales, recordando que uma anterior tentativa de Pacheco para fazer de one man show na própria SIC fora um notório fracasso, não augura grande êxito à iniciativa actual: “Tv é óptimo para propaganda é verdade, mas no registo de Pacheco Pereira espectadores ou fogem ou adormecem. É um flop audiências.” Mas a verdade é que Pacheco, que não gosta de praia e de tudo o mais de que os portugueses gostam, só precisa de levar a coisa até finais de Setembro.

A Susana — é compreensível — foi talvez a excepção que confirma a regra, pois gostou muito do formato do programa e, ao contrário da generalidade dos telespectadores que frequentam a Net, não achou execrável a exibição de Pacheco, embora o tenha apanhado fora de pé sem braçadeiras: “É pena que, logo no primeiro programa, tenha quebrado o compromisso, falando do que, claramente, não leu. Se assim não fosse, não teria apresentado o suplemento de emprego do correio da manhã como uma prova do desemprego galopante. É que o suplemento de emprego anuncia empregos. Não anuncia desempregados.

Felizmente, o Val viu o Pacheco e faz-nos o favor de contar como foi:
    “É bom que o programa do Pacheco exista, particularmente por aparecer em período eleitoral. É bom para estarmos contra o seu autor, o qual presta um mau serviço à cultura e sociedade portuguesas. E o mau serviço não resulta das suas opiniões estarem cheias da bílis gerada na cruzada contra Sócrates, nem de ser um dos mais importantes apoiantes e conselheiros de Ferreira Leite, nada disso. Esse é o lado legítimo e folclórico.

    O problema com o Pacheco é a sua superficialidade e ignorância. Parece paradoxal, num ser que ganha a vida a transmitir informações, e cuja fama é a de ser um intelectual sofisticado. Só que não há outra conclusão a tirar, pois é ele que revela a sua inanidade. Por exemplo, um dos motes centrais na sua retórica é o de que vivemos tempos excepcionalmente adversos para a liberdade de expressão. Esta ideia é repetida à exaustão vai para três anos, com especial intensidade nos dois últimos. Com ela o Pacheco consegue manter um papel activo e relevante na campanha negra, explorando as zonas fronteiriças entre a insinuação e a insídia. Porém, o que ele nunca faz é demonstrar, apresentar nomes, dar elementos objectivos a montante da sua interpretação subjectiva. Quando fala de pressões a jornalistas, de que fala exactamente? Do que um jornalista lhe contou ou do que ele testemunhou? E como sabe ele que lhe estão a contar a verdade se for apenas essa a sua fonte de informação? E por que razão esse jornalista não formalizou a queixa junto das várias autoridades competentes? E por que razão, se o Governo é useiro e vezeiro nessa prática opressora, não há provas coligidas pelas vítimas e opositores políticos? Ou será que as pressões são do tipo que o Crespo descreveu, onde há um Ministro que lhe telefona para discutir um aspecto politicamente inócuo da sua prestação? Acima de tudo, e este é que é o aspecto decisivo na deontologia e honestidade intelectual do prolífico autor, quais os critérios com que aferiu ser este tempo pior do que tempos passados para a vivência da liberdade? Temos polícias políticas e ainda ninguém foi avisado? Há perseguições a quem ataca o Governo ou Sócrates, e por isso são muito poucos os que se atrevem a fazê-lo? Haverá menos meios de comunicação do que costumava haver a ponto de se ter reduzido a liberdade? É hoje o cidadão um ser que diminuiu as possibilidades de se ligar a outros cidadãos e comunicar interpessoal e publicamente? Está, no presente, a informação menos disponível do que no passado? Com Sócrates há menos liberdade de expressão do que no cavaquismo? Do que com Guterres? Do que com Sá Carneiro? Do que no PREC? De que estás a falar, Pacheco?

    A leitura de um texto tontinho do pequenino foi o seu momento zen. E na abertura do Correio da Manhã esteve o grande acontecimento deste primeiro programa. Porque lhe deu para falar do putedo. Coisa de homem, e de homem na crise de ser homem. Então, anunciou aos telespectadores que vai para aí um putedo que faxavor. Desemprego, hipotecas e putedo, eis o retrato do Portugal de Sócrates visto da Marmeleira. E eu levantei os braços e gritei alarmado, a ponto de ter assustado a vizinha do 4º andar, quando ele disse que tinha sido só por causa da feitura do Ponto Contraponto que reparou no fenómeno de haver tantos anúncios de serviços sexuais nos jornais. É que se o Pacheco não sabia disso até finais de Junho de 2009, eu tenho agora a certeza de vivermos tempos infames onde a liberdade é algo só ao alcance de quem se prestar a fazer um programa de televisão, nem que para isso tenha de juntar mais uns trocos aos seus rendimentos.

    Que putedo que anda para aí, sim senhor.”

7 comentários :

Fernando P disse...

Até que enfim... A Câmara parece que ressuscitou. Não se pode dar descanso a essa canalha.

Anónimo disse...

VAL; excelente comentário.É altura de perguntar ao PAPAGAIO-FALANTE( RICARDO COSTA) e ao PRESUNÇOSO( ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA)2 lambe botas do BALSEMÃO, se é este o jornalismo correto que eles apregoam?. Esta gente ESTÁ A SER A 2ª TVI, é uma vergonha esta cambada de lacaios inuteis, para defenderem o tacho fazem qualquer coisa pestilenta.

Manuel Cintra disse...

Não é sobre o tema, mas foi a forma mais fácil de falar sobre o assunto.
Carros electricos no Wall Street Journal http://online.wsj.com/article/SB124631162054570321.html

Having no oil or coal, Portugal has long imported most of its energy. But in recent years it has become a European pioneer in the development of clean energy

chicoribeiro disse...

Muito bem abrantes, fode.....me esse social-fascista porco a cheirar a bafio. Eu meu caro, deixei por completo em ver TV e jornais, vai para 45 dias. Sinto-me livre e de memoria fresca para pensar noutras coisas. Vingo-me na NET, aqui só vejo o que não cheire a fascismo.

Anónimo disse...

Esperamos ansiosamente os comentários do Papagaio-Falante e do Presunçoso à oportunidade e à qualidade jornalística da prestação do Pavão de Monco Caído.

K disse...

A questão até nem é tanto o PPereia, mas todo o sistema mediatico que esta por tras en que o PS em a esquerda conseguem denunciar porque dele são refens. O ticket da direita sempre foi PSD/IMPRESA(Balsemão)/Cavaco, por isso sera sempre para a direita a condicionar as politicas muito para alem da sua expressão social e eleitoral.
O PS encolhe-se como sempre se encolheu a partir de Guterres, é um partido sem testoterona (basta ver o Vitorino na RTP1, ninguem é capaz de dizer com todas as letras
que o debate esta inquinado e manipulado. Quando a direita quer bloquear qualquer iniciativa basta-lhe fazer uma capa do Expresso + uns dias de aquecimento na SIC com entrevistas às luminarias do costume, para o PS se borrar todo.
Falta ao PS a garra do antigamente, em denunciar aquilo que toda a gente sabe e vê, e não alinhar na coreografia mediatica que lhe é naturalmente desfavoravel.É aí que reside o poder da direita.

Anónimo disse...

o melhor comentário que merecia honras de destaque bem destacadinho é de Ferreira Fernandes. Mias sucinto e certeiro que isto não há:

Pacheco Pereira e os anúncios

por Ferreira Fernandes

Pacheco Pereira tem um novo programa, sobre opinião - Ponto Contra Ponto, na SIC Notícias. Um programa de "opinião, opinião, opinião." A minha opinião: nenhuma opinião vale mais, em Portugal, que a de PP. Alguém que lembra a importância da hesitação no discurso televisivo de Vitorino Nemésio (a quem PP dedicou o seu programa) deve ser escutado. É uma luta necessária, a de PP, contra o "demasiado espectáculo e a pouca razão" na Comunicação Social portuguesa. Mais uma razão para o criticar. No primeiro Ponto Contra Ponto, PP abriu as páginas de procura de emprego do Correio da Manhã, de 26/06/2009, para concluir sobre os maus tempos em que vivemos. Fui ver esse CM: havia 52 anúncios de procura de emprego. Há 15 anos, o CM de 27/06/94 (não escolhi o de 26 porque foi domingo) tinha 104 procuras de emprego. Julgo que seria pouco razoável - PP até diria mais: situacionista! - alguém dizer, à luz dos anúncios do CM, que ao fim de nove anos de Governos de Cavaco (1985-1994) havia o dobro de desemprego que temos hoje... Conclusão: em televisão, abanar as páginas de anúncios de um jornal é demasiado espectáculo. Nemésio hesitaria, pensava e não o faria.