‘Como devem calcular, sei muito bem do que falo. E o nojo que me invade, nestas situações, não esmorece com a idade. Pelo contrário: sou um casmurro que bate o pé. É sabido que não trago o retrato de Sócrates junto do coração. Tenho-me servido do sarrafo, escandalizado com as suas políticas crudelíssimas, tristes e insensíveis que deram cabo de algumas esperanças acalentadas. A lista das minhas indignações é grande. Mas nunca senti "asfixia democrática"; nunca houve recoveiros a sussurrarem-me recados ou ameaças. Ao contrário do que me aconteceu no tempo do dr. Cavaco: fui proibido de escrever "artigos políticos" por uma parelha de medíocres que trepara à direcção do Diário Popular, jornal fundado pelo meu pai, no qual eu começara a escrever, com catorze anos, e onde trabalhei durante vinte e três.’
‘Andava Manuela Ferreira Leite a martelar na expressão inexacta, "asfixia democrática", neste país de jornais, telejornais, blogues e conversas de café onde se lançam as mais insustentadas calúnias. Estávamos aí, em Portugal, onde pouco se pede meças a quem disparata e nunca ninguém paga pelos disparates, e MFL fez bandeira da tal "asfixia democrática". Como se andasse alguém a calar-nos, como se o mal português não fosse o oposto, a verborreia. Não que não haja silenciados, há-os, mas onde mais se manifestam é nos autocastrados. Por exemplo, aquela fonte de Belém que denunciou um crime gravíssimo (o Presidente estaria a ser alvo de escutas ilegais) não deu a cara e há duas semanas se esconde na toca (asfixiado com quê?). Estávamos neste país de putativo silêncio, e na sua cidade mais bela, Funchal, quando Alberto João Jardim deu cabo de uma das poucas asfixias que nos afligem: o falar suave. Disse alto e em público: "Eles que se fodam." Está bem, foi em inglês, mas cortou com um dos nossos silêncios mais pesados, que é o que oprime as palavras grosseiras. "Fuck them!", disse ele durante a visita de MFL. Quer dizer, até essa asfixia deixou de haver.’
‘(…) o activismo no combate à crise está a dar resultado, ao contrário do que alguns, mais dogmaticamente reféns dos preconceitos neoliberais, previam. Ou seja, as medidas de apoio imediato ao consumo e ao investimento, as garantias governamentais em relação ao sistema financeiro e a expansão da política monetária permitiram, para já, impedir o afundamento das economias (…).’
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