- ‘NUM PAÍS que é dos mais desiguais da Europa, o combate à pobreza deveria estar no topo da agenda política. E na verdade em Portugal está, mas pelas razões erradas. O que deveria ser motivo de indignação colectiva - as centenas de milhares de famílias que vivem abaixo do limiar de pobreza ou que não têm acesso a um conjunto mínimo de oportunidades - não o é, ao mesmo tempo que o rendimento social de inserção é sujeito a ataques políticos diários, que combinam demagogia desbragada com insensibilidade social.
É claro que há fragilidades na aplicação do RSI, como aliás acontece em todas as políticas públicas. Mas aquelas não diminuem nem o alcance da medida na diminuição da severidade da pobreza, nem o conjunto de oportunidades de inserção de que beneficiaram milhares de famílias ao longo da última década. Falar em "preguiçosos", para usar a terminologia de Portas, ou em "subsídio-dependentes", de acordo com Rui Rio, é esquecer que 60% dos titulares da prestação têm outros rendimentos, maioritariamente porque estão no mercado de trabalho, e que 80% dos beneficiários estão envolvidos em programas de inserção com vista à sua aproximação à vida activa. Acima de tudo, ignora que a prestação média é de 90 euros por beneficiário. Lançar este anátema sobre todos os que vivem com tão poucos recursos materiais é um acto de violência simbólica, impróprio de uma sociedade decente.’
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