- ‘Uma das lições dos estudos da democratização é a de que esse processo não tem nada de mecânico ou de linear. Em retrospectiva, parece um processo inexorável. Mas não é. Ninguém previu a queda do Estado Novo em Portugal exactamente em 1974, e ainda hoje não existe nenhuma combinação de factores, económicos ou políticos que torne a democratização um processo inevitável. A grande conclusão de quem estuda a democratização, algo decepcionante para quem anda à procura de leis gerais sobre os comportamentos humanos, é a de que este tipo de fenómeno não pode ser previsto, pois depende de demasiados factores.
Mesmo assim, do ponto de vista das relações entre Estados, não deixa de ser notório que a existência de Estados autoritários fortes e com um crescimento económico sustentado, como a China, ajudam a desocidentalizar o mundo. Talvez a própria existência do "modelo chinês" tenha servido para a recente "erosão" do processo de democratização do mundo assinalado pela Freedom House.
Enquanto que no seguimento da queda do Muro de Berlim a democracia, por um breve período, estabeleceu-se como inevitável, hoje em dia, a democracia assemelha-se cada vez mais a uma obrigação procedimental para aqueles que não podem ignorar os países ocidentais.’
1 comentário :
O que é perturbador é a constatação de que respeitando as leis estabeleciadas pela democracia, como por exemplo a liberdade de expressão, se pode tiranizar de forma tão eficaz como nas ditaduras. Veja-se o exemplo do conluio «democrático» entre os nossos magistrados e os detentores dos orgãos de comunicação, senhores autenticos da vida e da morte e da privacidade dos cidadãos portugueses. A lei dá para tudo, as investigações podem ser prolongadas pelo tempo que se entender necessário e queimar o cidadão antes de o julgar ou nem sequer o julgar.
Será um caso «extremo», o que se passa em Portugal, desde há vários anos, mas para o resto das democracias é uma questão de gradação. E noutros dominios, que não o da justiça e da liberdade de expressão.
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