Das carteiras de títulos da “Maria patroa” e da “Maria costureira”

Tropecei num artigo de João Duque, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade Técnica de Lisboa. Vale a pena lê-lo, embora seja justo sublinhar que nem sempre a argumentação da Academia se situa a este nível.

Muito embora não se perceba patavina do que diz, fica-se com a certeza da leitura do artigo que Duque quer pagar menos impostos. Ele acha que é por falta de “coragem” que a tributação dos rendimentos do trabalho não é mais reduzida, aplicando-se para o efeito a taxa única (a flat rate). Não se aprende no ISEG as minudências do direito constitucional, entre outros saberes úteis.

Numa salsada de conversa de café pontuada com truques de algibeira de contabilista (o critério FIFO - First In First Out), Duque aconselha que, se se quer ir ao fagote aos “ricos”, então tribute-se o património e deixe-se em paz “o fluxo, isto é, o rendimento”.

O nosso contabilista do ISEG (e comentador da SIC para tudo o que tenha vagamente a ver com economia) nem se atrapalha com a circunstância de já serem tributados os depósitos a prazo, os certificados de aforro, as mais-valias de muitos valores mobiliários (abrangendo unidades de participação em fundos de investimento), as aplicações de produtos de seguros e até as mais-valias de acções detidas por menos de 12 meses.

Talvez fosse mais útil que João Duque, em vez de se contorcer nas páginas do Diário Económico, aconselhasse a “Maria patroa” e a “Maria costureira” a diversificarem os seus investimentos. Elas devem andar nervosas com as oscilações na bolsa.