sexta-feira, novembro 19, 2010

Eles estão onde menos se espera...


São os primeiros a tentar diabolizar a utilização da despesa pública como dínamo da economia, mas depois, surpreendentemente, lançam mão da aritmética para tentar provar que Portugal está a crescer mais porque houve mais despesa pública. Ontem, foi escrito o seguinte comentário a este post:
    "A projecção da OCDE contava com a verdadeira consolidação do orçamento português, ora o Estado com o fundo da PT (descontando os submarinos) gastou mais 1.7 mil milhões de euros, ou seja 1% do PIB. Como sabe o rendimento = Consumo privado + Gastos do Estado + Investimento + Exp - Imp, logo se os gastos do Estado foram 1% do PIB acima do previsto (e descontando as importações e considerando que em Pt o efeito multiplicador é quase zero), este acréscimo de despesa deve ter impulsionado o PIB em cerca de 0.6 a 0.8%, Então 1.4% - 0.6% é... ...é 0.8%.
    A OCDE não contava que se continuasse a gastar...

    Publique e responda...
    "
Está publicado e vamos à resposta: é verdade que por estas projecções da OCDE a despesa pública será superior ao que anteriormente tinham antecipado, mas não é intelectualmente correcto olhar para essa variável como principal (até única!?) responsável pelo crescimento do PIB.

Bastam dois exemplos para ilustrar esta questão. Foi admitido que um dos principais motivos de aumento da despesa foi a contabilização dos submarinos — ora consta que os submarinos não foram produzidos em Portugal e, como tal, têm de ser imputados às Importações (a deduzir no PIB). Por outro lado, também é sabido que a despesa com medicamentos aumentou mais do que previsto inicialmente e a verdade é que infelizmente a grande maioria dos fármacos é importada (a deduzir no PIB). Basta olhar para as componentes da despesa para verificar que a OCDE actualiza as projecções de todas as rubricas e, desde logo, também com aumento da taxa de crescimento das importações.

Mas a questão colocada não é apenas errada, é também injusta. É injusta porque deveria ter reparado que o esforço de consolidação orçamental de Portugal deve levar a um decréscimo dos tais "Gastos do Estado" em 6% em 2011. E aqui também deveria ter recorrido à aritmética para confessar quanto seria o crescimento do PIB se não estivesse a fazer este esforço de ajustamento das finanças públicas!

Mas é injusta também para a economia portuguesa e para os portugueses que, mesmo nas actuais circunstâncias difíceis, continuam a trabalhar e a criar riqueza. Porque é que este leitor não olhou para os valores apontados pela OCDE para as exportações? A OCDE ainda em Setembro apontava para um crescimento das exportações de 5,3% em 2010 e agora reconhece que deverá ir até aos 8,4%. Ou seja, uma forte aceleração das exportações. Mais, os técnicos da OCDE apontam para crescimento das exportações de 6,3% e 7,6%, respectivamente em 2011 e 2012, dando nota de que as empresas portuguesas têm condições de competitividade e de ganhar quota de mercado.

É assim que se sai da actual situação. E, quer se queira, quer não se queira, as previsões da OCDE ontem publicadas prevêem um crescimento de 1,5% em 2010, acima do previsto pelo Governo. Para 2011, a taxa de -0,2%, confirmando o efeito das medidas de consolidação orçamental, desmente as teses catastrofistas e dá boa nota da dinâmica da economia nacional.

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