- ‘(…) Os fósforos foram as novas tecnologias da informação da Internet e a televisão por satélite, como a Al-Jazira. Na verdade, uma ironia histórica é que não foi o hard power americano - como aconteceu, por exemplo, na guerra do Iraque - que acelerou esta revolução democrática, mas sim o soft power - Twitter e Facebook - amaldiçoado durante a presidência de George W. Bush e dos seus conselheiros "neocons". Silicon Valley, ao que parece, tem mais poder do que o Pentágono.
Estas ferramentas digitais dos Estados Unidos tornaram-se instrumentos para a revolta estudantil trans-árabe-iraniana pela democracia e pela liberdade. E, embora faltem muitas coisas no Médio Oriente, não há escassez de jovens desesperados, cujo número vai continuar a crescer nos próximos anos.
Por mais semelhanças que se possam encontrar entre os acontecimentos na Praça Tahrir ao Maio de 1968 em Paris e à queda do Muro de Berlim em 1989, seria prematuro proclamar que a liberdade triunfou. Se vai ou não vencer, dependerá, em grande medida, de como o Ocidente vai responder agora, porque o que está em jogo não é apenas o derrube de tiranos, mas também a profunda transformação e modernização de sociedades e economias inteiras. É uma tarefa espantosa.
Mais: comparado com a Europa de Leste em 1989, o Médio Oriente em 2011 tem falta de estruturas externas estabilizadoras, como a NATO e a União Europeia, que poderiam influenciar reformas internas oferecendo a perspectiva de uma adesão. Os esforços envolvidos nesta grande transformação devem vir de dentro dessas sociedades e isto é, muito provavelmente, pedir de mais.
A transformação da Europa de Leste depois de 1989 demorou muito mais tempo e foi muito mais onerosa do que inicialmente se previa. Houve muitas pessoas que saíram a perder no decurso desta transformação, e os organizadores da revolução não foram, necessariamente, aqueles que poderiam impor o desenvolvimento democrático e económico. E há a experiência da "Revolução Laranja" na Ucrânia, em 2004, que falhou anos mais tarde devido à corrupção, incompetência e desavenças dos seus líderes.
Tomados no conjunto, estes constrangimentos e analogias sugerem que o Ocidente, em particular a Europa, também se deve centrar numa assistência a longo prazo ao desenvolvimento democrático e económico nos países renascidos do Médio Oriente, e também no desenvolvimento de parcerias com todas as forças que apoiam a democratização e modernização dos seus países. O Ocidente não pode continuar por mais tempo a sua Realpolitik habitual. (…)’
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