Das duas uma: ou Passos Coelho pensava que o défice em 2012 e 2013 acabaria reduzido por obra da Virgem Santíssima, sem quaisquer medidas de política; ou está muito incomodado com o facto de Portugal ter negociado com a Europa um plano que evita a entrada do FMI. Como Passos Coelho não parece, do ponto de vista económico, totalmente desqualificado, a segunda opção é mais realista.
Talvez valha a pena olhar para a experiência irlandesa: não no que toca aos juros – que já sabemos, não desceram – mas às medidas que o Governo irlandês foi obrigado a inscrever no National Recovery Plan 2011-2014. Recorde-se que, antes do FMI chegar, o governo - que desde 2007, vira o PIB cair 11%, o emprego afundar 13%, e a taxa de desemprego subir de 4,6% para 13,5% - havia implementado cinco (!) pacotes de austeridade, com o objectivo de voltar aos 3% de défice em 2013. Com a chegada do FMI, veio finalmente a bonança, do ponto de vista da austeridade?! Parece que não: o governo irlandês viu-se a braços, em Novembro de 2010, com a obrigação de cortar €15 mil milhões, €6 mil milhões dos quais só em 2011.
Aqui fica uma amostra das medidas decididas em Novembro de 2010:
- - redução no salário mínimo (de €8.65 para €7.65/hora);
- redução do subsídio de desemprego e mais medidas de controlo dos beneficiários;
- redução do emprego no sector público, com o despedimento de 24750 funcionários públicos sobre o valor de 2008, de modo a regressar aos níveis de 2005;
- redução da massa salarial do sector público em €1,2 mil milhões até 2014;
- aumento do uso dos instrumentos de mobilidade na administração pública;
- redução do salário dos funcionários admitidos no futuro em 10%, e com um regime de pensões de reforma menos generoso.
- introdução de uma dedução específica nas pensionistas do sector público, com o objectivo de poupar €100 milhões;
- redução das despesas intermédias do Estado em €3 mil milhões;
- aumento das propinas do ensino superior;
- alargamento da base de contribuintes que pagam IRS; actualmente, 45% estão isentos (receita arrecadada= €1,9 mil milhões);
- aumento da tributação sobre as pensões de reforma (= €700 milhões);
- fim das deduções fiscais (=€755 milhões);
- aumento do IVA dos actuais 21% para 22% em 2013, e para 23% em 2014 (=€620 milhões);
- introdução de uma Site Value Tax para financiar serviços locais (= €530 mlihões);
- aumento gradual do preço do carbono de €15/tonelada para €30/tonelada (= €330 milhões);
- reforma dos impostos sobre mais-valias (= €145 milhões).
- Contributo do Pedro T.
3 comentários :
Buuu... vem ai o papão.
Assustem o pessoal com o papão... juros a 8% e TGV é que é.
Não tenho duvidas que a vinda do FMI,era pior para Portugal e bom para o Psd,que via "treinadores" estrangeiros a orientarem os portugueses e eles depois do campeonato da austeridade ganho iam ao pote buscar a receita,para aplicar, nos sectores pelo qual eles choram há anos.Só lamento que no congelamentos das reformas Sócrates não tenha poupado as de valores abaixo do 500euros.Espero que no Parlamento isso seja resolvido pacificamente...
O FMI vai é acabar parceiro do PS no Governo do país, isso é quase certo. Como disse e bem também a Irlanda fez cinco PEC e não evitou nada....
Aliás quando o FMI vier, a estas pesadas medidas que já cá estão virão outras. Para quanto aumentará o IVA então, já está a 23%?
O Estado tem é que vender activos para amortizar o máximo de dívida possível. Vendam a CGD. Porque não vendem? Este país não se pode dar ao luxo de o Estado ter um banco. Se for um estrangeiro a comprar que seja. Porque não? Vendam tudo, não há dinheiro, não podem ter participações na EDP, nem na REN, etc, mas estão armados em Governo de um país rico ou quê?
Eu só veo o Governo falar de privatizar as empresas deficitárias. Vendam as lucrativas, essas é que dão dinheiro.
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