domingo, abril 17, 2011

"Termos querido viver acima das nossas possibilidades"

• Fernanda Câncio, Os oráculos belfos:
    ‘(…) nos últimos dias, assisti ao espectáculo de Medina Carreira a elogiar a superioridade do Estado Novo na contenção orçamental perante um pivô incapaz de lembrar o país miserável (com mortalidade infantil a níveis africanos, uma taxa de iliteracia brutal, e redes de electricidade, esgotos, água canalizada e viária ínfimas, para citar apenas evidências inquestionáveis) que disso resultou. E a um sermão de Vítor Bento, acolitado por Morais Sarmento e António José Teixeira (perante um Francisco Assis em suplício), sobre "a perda dos valores" associada por este à diminuição da religiosidade (sem religião pode lá haver "valores") e que responsabiliza pela "corrida ao lucro pelo lucro" que "nos trouxe aqui" - sem alguém aconselhar ao conselheiro de Estado a leitura de Os Esteiros ou de Oliver Twist (para nem falar da escravatura propriamente dita), observando-lhe, de caminho, que o que apelida de "perda de valores" é quiçá a extensão a toda a sociedade das expectativas e prerrogativas de boa vida e conforto que antes eram privilégio das classes opressoras. Para terminar num obsceno Otelo a reivindicar o copyright do derrube da ditadura e a asseverar que "se soubesse que era para isto" ficava em casa (ou assim).

    Acresce a isto a repetição, nos noticiários, de coisas como "há cada vez mais pobreza", "nunca houve tanta desigualdade" e "a mais alta taxa de desemprego de sempre". Os absolutismos dão, é certo, imenso jeito ao escrever peças, mas de vez em quando podiam misturar-se uns factos. Lembrar que as estatísticas de desemprego actuais só são comparáveis com as efectuadas com os mesmos pressupostos - alguém sabe quanto era o desemprego na pré-democracia? - e que a pobreza diminuiu nos últimos 20 anos (como atesta o último relatório da OCDE). E tendo a pobreza diminuído, o aumento da desigualdade significa que as camadas "de cima" da população têm "progredido" mais depressa que as "de baixo". O que não sendo bom não é "cada vez pior".

    Pedir ainda que alguém lembre que muito do que se passa é consequência da maior crise económica mundial desde 1929 e das suas ondas de choque é decerto de mais. Estamos em campanha eleitoral, bem sei. Mas, ia jurar, só nas democracias há eleições. E jornalismo. A sério.’

3 comentários :

Anónimo disse...

Mas,estes m.carreiras e quejandos,já se esqueceram do passado? Da miséria,da falta de tudo,do analfabetismo,dos grandes barões a viverem à custa de trabalho escravo,da falta de infraestruras de todo o género? A estrada para o meu concelho era uma picada,não havia electricidade,não havia pensões para ninguém,nem subsídio de férias,nem subsídio de natal,não havia creches nem lares.Esta gente deve ter pertencido à família dos poucos previlegiados que havia.Vão pregar para outra freguesia!

Rosa disse...

Este Medina Carreira é louco...o pior é que vai sendo ouvido por quem lhe interessa ou concorda com as barbaridades que ele diz...
Há dias, uma amiga minha, brasileira, postou no Facebook, umas declarações dele e dizia tratar-se duma análise séria, dura mas realista do "momento" do País...
Nem comentei e o minha reacção foi um silêncio total...
Não sei se ela entendeu...mas isto é que é perigoso...

Anónimo disse...

Medina Carreira peca pelo optimismo... dizia ele q a bancarrota vinha em 2015