O João Galamba já ontem tinha identificado mais um atropelo à realidade perpetrado pelo Zé Manel - “ninguém sofreu como nós, nomeadamente a destruição de emprego”, escreveu na sua crónica no “Público” de ontem (sem link) -, mas com um boneco fica sempre mais giro. O gráfico em cima (com dados do Eurostat) diz-nos como evoluiu o desemprego nos países da União Europeia entre o primeiro trimestre de 2008 (antes que crise começasse a ter um impacto generalizado nas economias europeias) e o último trimestre de 2010*.
Vamos dar uma oportunidade ao Zé Manel para pensar um pouco para além do espartilho cognitivo no qual o ódio que tem a Sócrates o confina: se se der ao trabalho de olhar para o boneco, vai descobrir que todos os países onde o desemprego cresceu acima da média da UE27 ou da zona Euro são – com a excepção da Dinamarca - países “periféricos”, seja da periferia mediterrânica, seja de Leste (deste grupo estão lá todos, tirando a Polónia – um país particular, por um lado, por causa da emigração massiva que reduz a pressão sobre o mercado de trabalho e, por outro, pelo facto de fazer fronteira com a Alemanha, beneficiando assim rapidamente da recuperação do vizinho - e a Roménia, uma excepção que precisaria de ser melhor explicada).
A partir daqui, o Zé Manel e os economistas de serviço podiam começar a pensar se as estruturas produtivas próprias destes países não os tornam particularmente vulneráveis a choques como o da crise internacional de 2008-2009, e as suas consequências com a crise das dívidas soberanas, que impôs a aceleração da consolidação orçamental a toda a Europa.
Já não se trataria de culpar os governantes do momento, de responsabilizar o partido de A, esquerda, ou B, de direita, de apontar o dedo qualquer medida política directamente imputável aos governos. O Zé Manel e mais de metade dos comentadores deste país, pretensamente liberais, raciocinam como se as economias de mercado europeias funcionassem da mesma forma que as economias soviéticas, ou como se todos os outputs de sistemas económicos altamente complexos – sejam eles positivos ou negativos - pudessem ser imputados a decisões tomadas no gabinete de um governante.
O problema, claro, é que pensar e analisar em vez de regurgitar estatísticas (ainda por cima, tantas vezes erradas) dá um trabalho do caraças e, sobretudo, não dá para culpar o Sócrates de tudo o que acontece. Esqueçam!
- Pedro T.
* Usamos os dados deste trimestre e não dos do primeiro trimestre de 2011 porque faltam elementos mais recentes de alguns países; Portugal é um dos países prejudicados por usarmos os dados do quarto trimestre de 2010 e não os mais recentes, uma vez que no primeiro trimestre de 2011 o desemprego estimado diminuiu de 11,2% para 11,1%; isto significa que a diferença em relação ao segundo trimestre de 2008 seria de 3,4 pontos percentuais e não 3,5, mas na verdade isto não altera a ordem dos países no gráfico.
3 comentários :
"Elementar, meu caro Watson!"
É má-fé, mesmo...
Mas,alguém com dois dedos de caco,liga ao que diz esse imbecil do Zé manel?
O problema é que para o Fernandes, tal como para mais alguns espécimes da mesma laia que para aí andam, pensar e analisar não são uma questão de dar muito trabalho, são mesmo uma questão de pura incapacidade intelectual.
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