Embustes e mais embustes

• Miguel Sousa Tavares, LOST IN TRANSLATION [ontem no Expresso]:

‘(…) Não sei se se lembram, há ano e pouco, do dr. Passos Coelho, quase a chorar de vergonha, pedindo desculpas aos portugueses por quebrar excepcionalmente a sua promessa de não aceitar mais aumentos de impostos, porque tinha de apoiar o PEC 3 de José Sócrates? E lembram-se dos discursos do dr. Paulo Portas contra um Estado que roubava a riqueza dos cidadãos para a gastar irresponsavelmente? Bem, em que ficamos? São liberais para oferecer, em saldo, o BPN ao “trabalhador” Amorim e à sua camarada Isabel dos Santos, para cometer crimes de lesa-pátria como privatizar as águas ou a TAP, mas já não são liberais para subir impostos uma e outra vez?

(…)

E viram o relatório da Direcção-Geral do Orçamento relativo à execução orçamental até Julho deste ano? Tem duas coisas de espantar: a primeira é que, de Janeiro a Maio (isto é, sob o governo Sócrates) a despesa do Estado desceu, e, daí em diante (governo AD) subiu; a segunda é que a receita fiscal diminuiu, apesar do aumento de impostos. Pois, se a despesa recomeçou a aumentar e a receita começou a descer, qual é a solução que propõem? Subir outra vez os impostos!

(…)

E, continuando nós à espera que nos expliquem onde está o “colossal” e inesperado buraco deixado por Sócrates e Teixeira dos Santos, já sabemos onde está o próximo: nos 500 milhões gastos com a privatização do BPN; nos 500 milhões de dívida ocultada pelo dr. Jardim e face à qual o PSD guarda um vergonhoso silêncio, para durar pelo menos até 9 de Outubro; e na preparação da privatização da RTP, uma espécie de comprometimento pessoal do ministro Relvas, que vai começar por gastar outros 500 milhões a antecipar o pagamento da dívida da RTP aos seus credores, para a entregar, livre de encargos e aliviada de pessoal, ao futuro vencedor do “concurso” de privatização. Porque este Governo “liberal” vai inovar em matéria de política económica: primeiro, é a única entidade mundial que, nesta conjuntura, antecipa o pagamento de dívidas; segundo, prepara-se para ser o primeiro governo do mundo que, quando vende património público, perde dinheiro em vez de ganhar. (…)’