quarta-feira, setembro 07, 2011

"Esta complacência de meninos bem-penteados com o sorriso dos poderosos dá para chorar de desespero"

• António Correia de Campos, A queda dos anjos [hoje no Público]:
    ‘De repente, a unanimidade entre os comentadores faz cessar de forma quase abrupta o estado de graça do Governo. O mar de rosas encrespou-se com vulcões submarinos do ministro das Finanças, o anedotário da Economia arrisca-se a passar à comiseração, as nomeações para gabinetes, normais e legítimas, transformam-se em exemplos de desperdício qualificado. Apenas Portas, mais experiente e protegido, consegue navegar bem. Em escassos dois meses e meio, o Governo é acusado de incoerência programática, indisciplina comunicacional, grossa insensibilidade social, impreparação governativa e até uma desconcertante ingenuidade política. Este Governo não estava e não está preparado.

    Muitos comentadores, mesmo os da direita, têm traçado o rol das contradições entre as afirmações do combate anti-Sócrates e as práticas ainda mal esboçadas. Mas as contradições surgem dentro do próprio Governo, o caso das três diferentes opiniões sobre as eurobonds, agravada pela nota final do gabinete do PM, é bem representativo. Complacência de cortesia com Merkel, posição ideológica de mercado, ou simples ignorância política? O Diabo que escolha.

    A insensibilidade social não existe nos modelos econométricos, sendo difícil incorporar uma variável "muda" que meça o desagrado dos humildes sem voz. É verdade que a esquizofrenia opinativa é quotidiana, numa comunicação nem sempre adulta; tanto pede rigor nos cortes como moderação no sangue derramado. Mas esse é justamente o dilema e a solução está na combinação sábia das medidas. Anunciar três subidas de impostos sem medidas de compensação é como ingerir um anti-inflamatório violento sem forrar as paredes do estômago com o devido protector. Isto não se aprende nos programas de doutoramento, nem nas equipas de research da banca internacional. Aprende-se na vida. (...)’

1 comentário :

Rosa disse...

Admiro profundamente a sabedoria, a competência e a clareza do Dr. António Correia de Campos.
São estas pessoas que por estarem num patamar superior mais depressa são (e foi) alvos a abater.
Nem consigo fazer comparações com o actual ministro da saúde-a esse só consigo associar aquela velha imagem de "um elefante "passeando" numa loja de porcelanas...