- ‘Já ninguém consegue ouvir sem uma ponta de indignação os representantes da troika. Com ar prazenteiro e vagamente displicente, vão preconizando ou aplaudindo medidas de austeridade e discreteiam sobre o nosso futuro, como se fossem uma espécie de governadores provinciais. Como notou Fernando Ulrich, há aqui um grande equívoco: o interlocutor da troika é o governo e só ao governo compete falar com os portugueses.
Porém, ainda mais grave e escandalosa do que a "mise en scène" das conferências de imprensa (com que nos têm brindado com arreliadora frequência) é a ingerência na nossa política interna, que teve como episódio mais recente a proposta de redução dos salários.
Os credores estão interessados, como é óbvio, no equilíbrio das nossas finanças públicas, mas só têm legitimidade para exigir resultados – nunca para impor caminhos.
Este aspecto é muitíssimo importante, não só por uma questão de orgulho e soberania nacional mas também porque os conselhos que recebemos da troika são suspeitos por natureza. A troika não está empenhada na criação de emprego, nos cuidados de saúde, na qualidade do ensino ou na oferta cultural. Essa conspícua prole do Sr. Scrooge só se preocupa com a dívida e sacrifica tudo o que for preciso a essa preocupação.’
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