domingo, fevereiro 26, 2012

A família Esperança

Fernanda Palma, A família Esperança:
    ‘Nunca poderemos estar certos disso, mas este tipo de desagregação de laços familiares sugere que todas as portas para a superação da crise e para a alteração dos quadros de representação de si mesmo pelo agente estiveram fechadas. Ocupados com a nossa sobrevivência económica, acabamos por deixar paralisar a reflexão moral sobre as mais íntimas relações humanas. Por ironia arrepiante, a família desaparecida chamava-se Esperança, quando só evoca o mais profundo desespero. O seu desaparecimento pode ter sido pretendido pelo assassino, mas não deveremos deixar de investigar o crime, porque essa família exprime um fracasso superior ao das nossas finanças públicas e relativiza a ação política, não deixando de a interpelar.

    Aliás, num outro caso arrepiante, um homem escravizou em todos os sentidos a mulher durante quarenta anos. O pior da condição humana resistiu incólume às tentativas de modernizar Portugal: da revolução democrática ao reformismo neoliberal. Mas estas ilhas de solidão só permanecem intocáveis porque a sociedade portuguesa não as tem achado importantes.’

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