Zonas de conforto

• Fernando Madrinha, Zonas de conforto:

‘O ministro da Defesa aconselhou os militares descontentes a darem outro rumo à sua vida. Isto foi há uma semana. Muito antes, já um secretário de Estado sugerira aos jovens que saíssem da sua “zona de conforto” e emigrassem. Agora veio um deputado da maioria explicar que “respeita as opções das pessoas” no caso dos funcionários públicos que, feitas as contas ao vencimento e a despesas inerentes à mudança de uma cidade para outra, concluam que mais vale abdicarem desse privilégio intolerável que é o seu “emprego para a vida”.

Tanto respeito pelas opções das pessoas soa deveras comovente, na semana em que o país ficou a saber que 770 mil portugueses se encontram nessa felicíssima zona de conforto que é o desemprego. E que, mais provavelmente, o número de indivíduos em condições de trabalhar mas inativos por terem desistido de procurar emprego andará pelo milhão. “Não há milagres”, comentou, mais conformado do que pesaroso, o ministro Miguel Relvas. Nem milagres nem, infelizmente, políticas que o país perceba como tentativas sérias de evitar o desastre em perspetiva.

(…)

Mas o que mais surpreende e choca, por desnecessária e evitável, é a arte dos atuais governantes, ou a sua frieza tecnocrática, para fazerem sentir aos cidadãos que são dispensáveis e estão a mais no seu próprio país. Um Governo com esta atitude não pode contar por muito mais tempo com a compreensão que, humildemente, devia pedir aos portugueses todos os dias.’