- ‘O Presidente da República cometeu um deslize grave, julgando que estava a escrever um prefácio limitou-se a redigir um posfácio. Os políticos no activo, sobretudo os que exercem as mais elevadas funções, não estão autorizados a divagações desta natureza. O País sabe que há uns meses atrás Cavaco Silva recorreu à arma discursiva para derrubar o governo de José Sócrates; no dia da vitória eleitoral surgiu colérico a reclamar vingança, na hora da investidura perante o Parlamento consumou esse desejo. Aquelas palavras, plenas de azedume e contundência crítica, alteraram o ambiente político em Portugal. Estavam destinadas a desencadear um processo inexorável, e o destino do governo ficou aí indelevelmente traçado. Daí que o texto que suscita agora tanta celeuma não seja mais do que um posfácio a esses discursos. No tempo próprio Cavaco Silva alterou a realidade. Fê-lo com a sobriedade dos hábeis, abdicando da frontalidade dos audazes. Logrou, contudo, atingir plenamente os seus objectivos. Portugal virou uma página.
Por que razão volta agora o Presidente da República a esse tempo e a esses acontecimentos? Por uma irresistível vontade de deixar a assinatura de autor? Por uma incontrolável necessidade de registar um ajuste de contas numa versão quase póstuma? Pela quase irreprimível tendência humana para regressar fatalmente ao local do crime? Por um qualquer cálculo político incompreensível para a simples razão humana? Por tudo isto ao mesmo tempo? Não sabemos, provavelmente nunca saberemos.
O que é verdade é que Cavaco Silva decidiu rebobinar o filme. E ao fazê-lo expôs-se a todas as interpretações possíveis, sendo que algumas não podem ser formuladas senão sob a forma de acusações: obsessão narcísica, incontinência na verbalização do rancor, imperícia na formulação da estratégia, ausência de grandeza na definição de um estilo. Nada disto é recomendável, tudo isto é lamentável. O que está em causa não é a personagem Aníbal Cavaco Silva, mas a figura do Presidente da República. Passamos bem sem o conhecimento exaustivo da primeira, sofremos institucionalmente com o declínio do respeito público pela segunda. É por isso que o assunto não se remete para uma questão doméstica, mas aponta para uma dimensão nacional. O zelo intriguista das comadres que se detestam interessa ao pequeno universo em que as suas vidas decorrem; as obstinações pessoais de um Chefe de Estado tornam-se um assunto da República.
Confesso a minha desilusão. Infelizmente Cavaco Silva cometeu um erro básico que afecta a sua aura, perturbará o seu mandato e causará prejuízos ao país. Precisávamos, neste tempo de crise e angústia colectiva, de um Presidente que tivesse o sentido do recato para poder ter a legitimidade da iniciativa, incapaz de práticas sectárias e garante de grandes equilíbrios, empenhado num distanciamento sério que é condição para uma mobilização útil. Cavaco Silva tinha a possibilidade de realizar tudo isto e quase tudo se perdeu num lance que a circunstância de ser premeditado torna ainda mais indesculpável.
(…)
Em relação aos políticos que não leram os clássicos há sempre a tentação benevolente em ver inocência em lugar de antever malvadez. É de crer que se erre mais por desconhecimento do que por intenção. Não haverá contudo no Palácio de Belém quem saiba aconselhar devidamente o Senhor Presidente da República?’
12 comentários :
O presidente recorreu ao bode expiatório a que toda a gente parece recorrer nos ultimos tempos, quando quer desviar as atenções de alguma incompetencia tornada publica : culpa o Socrates.
Á defenição de " bode expiatório" no dicionário deveriamos acrescentar as palavras "José Socrates" como exemplo corrente.
Tudo isto é vergonhoso, não só as atitudes deste presidente mesquinho como a incompetencia grosseira e soberba do governo inteiro.
Portugal não merecia isto, mas que votou neles votou...
Cavaco, de seu cognome "o honesto".
Texto exemplar: impecável na forma, objectivo e contundente no conteúdo.
André !
A sua afirmação entre " ", é quase chamar à nossa rainha Carlota Joaquina, de, Nossa Senhora da Rocha !
O rumor que corre é que o presidente anda perdido nos seus labirintos pessoais, sem ouvir ninguém.
De tudo isto e das idiossincracias pessoais do cidadão Cavaco Silva que aprendemos a reconhecer, eu tiro no entanto uma importante ilação: pensar que uma personalidade como esta alguma vez poderia reagir a um golpe baixo que se tivesse revelado catastrófico e da exclusiva iniciativa de algum seu assessor que tivesse prescindido da consulta ao chefe supremo, assumindo sobre si próprio, Presidente da República, os custos políticos e morais desse desastre de relações públicas -- para já nem dizer de responsabilidades criminais -- e estendendo ao imaginativo assessor a sua protecção, sem o procurar responsabilizar da forma mais pública e visível possível, é coisa que deve atingir um grau de probabilidade desprezável.
Desilusão, Francisco Assis? Desilusão? E ainda nos fala de "inocência"...
O senhor Silva É isto mesmo e nada mais. Não é neenhum novato, todos o conhecem, mesmo no seu Partido (Santana Lopes que o diga)!
O espalhanço COLOSSAL que teve agora é apenas uma inevitabilidade em alguém com a sua absoluta falta de caráter e de nível: ele É o autêntico "homo musilis", o verdadeiro paradigma do hOMEM SEM QUALIDADES!
Só me admira como não fez mais destas ao longo dos penosos SEIS ANOS que já levamos a suportá-lo!!! Cá para mim, se calhar os seus adjuntos lá em Belém, ao invés de incompetentes, devem é estar a fazer um trabalho fenomenal, dia após dia...
Cavaco Silva,em termos intelectuais, está ao nivel de certos dirigentes do futebol...
Mas será que o Sr Dr Cavaco Silva Presidente da República eleito em eleições livres e justas com maioria e à primeira volta disse alguma mentira acerca desse tal sócrates? Tanto quanto parece apenas se limitou a dizer aquilo que ele e a mairia dos Portugueses já sabiam desde 2005 estávamos a ser governados por uma corja de aldrabões essa é que é essa o resto não interessa nada. Vamos lá a ver se publicam este comentário ou o lapis azul vai cortar.
Ao das 04.37,o lápis azul não cortou porque aqui pratica-se liberdade tanto como a cobardia de não assinar.A par da "coragem"do assalto ao pote ou de emparceirar com a gatunagem do BPN/SLN e afins.
Cuidado o das 04h37, é o D.Lima,
disfarçado, acusado de assassino!
Não, é a arrastadeira paneleira do Relvas...
Eu tenho a minha tese:como está a ficar xéxé quiz escrever para memória futura ,mas podia fazer umas notinhas e dar á Maria a guardar para quando escrevesse a memórias.
Não há pachorra
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