domingo, agosto 19, 2012

Crónica de uma demissão anunciada


Pode ter graça ver Francisco Louçã, seguindo as pisadas de Cavaco, a recorrer ao Facebook para falar aos portugueses, no caso “aos activistas e ao povo do Bloco”, o que revela a incipiente organização interna de um “movimento” que é alimentado pela comunicação social.

Pode ter graça ver o “porta-voz” do Bloco de Esquerda a condicionar a sua “sucessão”, revelando que os métodos internos de trabalho do “politburo”, herdados das organizações que estão na sua génese, não foram abandonados — antes foram aprimorados.

Pode ter graça ver que a solução imposta, procurando conservar o frágil equilíbrio entre os órfãos de Enver Hodja, Trotsky e Brejnev (sem esquecer a quota dos “independentes” representada por Fernando Rosas), está já a ser contestada, pondo a nu a falta de democraticidade interna.

Pode ter graça ver que João Semedo não serviu para presidente do grupo parlamentar (candidatura chumbada em 2009), mas é útil nesta fase em que o “movimento” está pouco menos do que destroçado.

Estes e muitos outros aspectos podem ter graça, mas é chegada a altura de recordar que o BE (e o PCP) é responsável pela entrega do poder à direita, essa direita que lançou um fortíssimo ataque aos direitos do trabalho (com medidas que não constavam do memorando inicial assinado com a troika), que está a tomar decisões para a destruição do Estado social e que não descansa enquanto não rasgar a Constituição.

As disputas pelo poder no seio do BE podem servir às mil maravilhas para nos entreter na silly season, mas não podem servir de cortina de fumo para ocultar o que esteve na origem da barafunda por que passa agora o “movimento”: a “coligação negativa” entre o BE (e o PCP) e a direita durante seis anos, que foi subindo de tom até à apresentação da moção de censura, e atingiu o seu ponto culminante com o chumbo do PEC 4 e a entrega do poder à direita.

Foi, então, que muitos “activistas” do Bloco se insurgiram contra o tacticismo suicida do “politburo”. Louçã conseguiu evitar que fosse discutida a questão da liderança na “convenção” “mesa nacional” que se seguiu às últimas eleições legislativas — para ganhar tempo para preparar a “sucessão”.

A saída de cena (?) de Louçã não deixa de ser o resultado — ainda que ao retardador — de um cartão vermelho mostrado pelos eleitores. Resta, agora, saber se o BE quer continuar a ser objectivamente uma arma de arremesso da direita contra o PS. Se a liderança do BE vai ser “a meias” (ou não) é pouco relevante (salvo quando houver debates, em que será preciso fazer um intervalo para entrar em campo a outra metade).

8 comentários :

Anónimo disse...

alguma coisa o BE deve ter feito bem para merecer este post. e quanto a ser aliado da direita.. quem tem um historial de "acordos" com o CDS é o PS.

Anónimo disse...

alguma coisa o BE deve ter feito bem para merecer este post. e quanto a ser aliado da direita.. quem tem um historial de "acordos" com o CDS é o PS.

praianorte disse...

Um dos colaboradores do atual governo e da direita em particular. Não me merece o minimo de confiança.

Victor Simões disse...

Para o Mefistófeles (Louçã), o João com Medo e a Catarina eram os perfeitos. Mantinha-se influência do trotskista e tudo na paz dos anjos. Só que a Ana das maminhas novas e o Fazendita não parecem gostar da ideia. O último nem numa altura destas represente convenientemente uma grande parte dos verdadeiros votantes do mini bloco.

JC disse...

Gosto especialmente desta parte: «Foi, então, que muitos “activistas” do Bloco se insurgiram contra o tacticismo suicida do “politburo”. Louçã conseguiu evitar que fosse discutida a questão da liderança na “convenção” que se seguiu às últimas eleições legislativas — para ganhar tempo para preparar a “sucessão”.»

Só há um pequeno pormenor que está a falhar na análise do Miguel: é que o Bloco não teve nenhuma Convenção depois das eleições legislativas. Quanto ao resto, o texto fala por si. Tantas certezas, tão pouco conhecimento.

Anónimo disse...

"(...)de recordar que o BE (e o PCP) é responsável pela entrega do poder à direita."

Falso, falso e mais falso. Esta justificação dos militantes do PS é apenas mais uma táctica para "lavar" a governação anterior e a responsabilidade do PS pelo seu desaire. Perdeu nas urnas. Ponto. O Bloco e o PC fizeram o mesmo que sempre fizeram e fazem: contras as medidas de austeridade (PEC incluídos) que apenas promovem a recessão, desemprego e dívida. Mais nada. Se querem se queixar da "entrega do poder à direita", queixem-se do PSD, pois foi este, antigo aliado em outros PEC, que votou contrariamente no PEC IV.

Tiago disse...

Louça vai embora, mas quer que para trás apenas fique uma mão cheia de nada.

Júlio de Matos disse...



O be é uma música de um "top" de um Verão longínquo da nossa inocência. Não tem Futuro e está-se a esgotar o pouco Presente que ainda lhe resta.

Tal como a UEDS, o MES, a IS e o GIS, vai acabar na mesma fractura exposta que separa os que crescem e aderem ao PS e os que ficam para sempre enrodilhados na Puberdade política e caem no mais absoluto esquecimento.


Tanta "parra", até 2009 (em que até eu ainda ia à "vindima"!), para tão pouca uva depois disso (e vinho, nem vê-lo...).


Paz às suas alminhas.