terça-feira, agosto 14, 2012

Dissolução psicológica

• Pedro Adão e Silva, Dissolução Psicológica [na última edição do Expresso]:
    'Ora a dissolução psicológica de que falava Mario Monti é, hoje, produto de uma alteração profunda das circunstâncias. Não apenas a convergência entre os interesses dos Estados se dissipou, como os cidadãos europeus estão a deixar de olhar para a integração como um processo benévolo, capaz de os resgatar dos nacionalismos. Bem pelo contrário.

    Hoje, os interesses do centro não são convergentes com os da periferia e a ideia de que os interesses do centro ganhariam com uma maior articulação com os do leste vai fazendo caminho, fazendo emergir a possibilidade real de descartar a periferia. Ao que acresce que a legitimidade da ideia de Europa vai perdendo popularidade a um ritmo intenso.

    Talvez valha a pena ter presente que em 1997 o projeto do euro se iniciou com menos apoio do que o mercado único em 1992 e que, logo no seu início, na Alemanha, as avaliações negativas já eram superiores às positivas. Com o intensificar da crise económica, a hostilidade ao projeto europeu, assente aliás em clivagens sociais muito definidas, apresenta um potencial negativo muito forte. Como ninguém duvida que a superação da atual situação implica um reforço dos poderes do Banco Central Europeu e uma intervenção mais musculada desta instituição, talvez valha a pena ter presente que os dados do Eurobarómetro revelam que quer na Alemanha, quer em França o número dos que não confiam no BCE já é superior ao daqueles que confiam.

    O sinal parece-me claro: a menos que se suspenda a democracia nos países europeus por tempo indeterminado, não se percebe como é que é possível ultrapassar o impasse que vivemos hoje. A dissolução psicológica pode bem tornar-se o primeiro passo da dissolução material da Europa.'

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