domingo, maio 19, 2013

Continuar a escava(ca)r

• Teresa de Sousa, A grande desorientação [hoje no Público]:
    ‘Que o Governo português entrou numa fase a que poderíamos chamar "de grande desorientação" já todos, mais ou menos, percebemos. O braço-de-ferro entre Passos Coelho e Paulo Portas atingiu um nível impossível de disfarçar publicamente. É um péssimo presságio. Cada membro do Governo prossegue, imagino que penosamente, a sua agenda, como se estivéssemos já em fim de linha. Álvaro Santos Pereira dedica-se afanosamente à eliminação dos carros e dos motoristas das administrações das empresas públicas, enquanto o seu programa para o crescimento passou à história em menos de duas semanas. Continuamos à espera do guião para a reforma do Estado que Portas foi encarregado de apresentar, e a ler cada vez mais de viés os estudos que vão sendo encomendados a instituições internacionais (FMI, OCDE e o que mais adiante se verá). Como se o Governo se tivesses esquecido, nos dois anos que leva de vida, de preparar qualquer coisa nesse sentido, que não o "corta a direito" do ministro das Finanças que, entretanto, anda em Bruxelas a exibir uma credibilidade perante os nossos parceiros que começa a não fazer qualquer sentido. O drama é que, depois de dois anos de austeridade draconiana, que pôs o país a sofrer de uma maneira que não pensaríamos possível na Europa e em democracia, chegamos aqui e ninguém parece saber (à excepção, talvez, de Gaspar) o que fazer em seguida. A não ser mais e mais cortes. Já não discutimos reformas, discutimos apenas números. Numa palavra, o Governo passou dois anos a destruir e, agora, não sabe como construir.’

1 comentário :

Fernando Romano disse...

Um desafio aos filósofos... portugueses de economia política.

"Numa palavra, o Governo passou dois anos a destruir e, agora, não sabe como construir", assim termina o excerto publicado do artigo de Teresa de Sousa. Realmente este Governo não sabe, ninguém sabe, ninguém saberá (e falta ainda confirmar se as destruiu mesmo...). Estamos perante uma contradição inultrapassável, que paira nas cabecinhas dos cientistas do capitalismo financeiro internacional... e seus apaniguados em Portugal, que papagueiam nos mídia. Mas T.S. parece ter razão: destruiram e agora não sabem construir, porque ignoram sobre que construir. E este é um grande desafio para o próximo Primeiro-Ministro. E tanto mais arriscado será quanto mais tempo este governo se mantiver no poder.

Que destruiu afinal o Governo? Forças produtivas, suponho - as herdadas da geração anterior: como acontece sempre na história, cada geração herda as forças produtivas da geração anterior; mas o seu foco (deste governo) incidiu sobre as modernas, que emergiam durante os governos de Sócrates, e ao tentar combater as que emergiam destruiu as herdadas(?). Uma chatice... Foi pena o Partido Socialista ter deixado de ser, no tempo de Vitor Constâncio, um partido de inspiração marxista. Não era necessário...

Karl Marx escreveu: "Os homens não são os livres árbitros das suas forças produtivas - que são a base de toda a sua história"(*). Mas este governo, pleno de afigurações, julgou poder sê-lo, destruindo as existentes para implantar outras mais modernaças..., que se agitavam há muito nas suas cabecinhas pensadoras..., através dos grandes monopólios e Capital estrangeiros. Um novo país e um novo povo. Tudo se alteraria, menos os interesses dos do costume. Maravilha!

(*) livro "Miséria da Filosofia" - Public. Escorpião