sábado, maio 04, 2013

Pode um homem sozinho dar cabo de um país?

• Miguel Sousa Tavares, Pode um homem sozinho dar cabo de um país? [hoje no Expresso]:
    ‘Pode, se o deixarem à solta: é o que Vítor Gaspar está há quase dois anos a tentar fazer a Portugal. Ele dará cabo do país e não deixará pedra sobre pedra se não for urgentemente dispensado e mandado regressar à nave dos loucos de onde se evadiu.

    Já suportámos tudo a Vítor Gaspar: nove trimestres consecutivos de previsões sucessivamente falhadas; erros de avaliação de uma incompetência chocante; subidas de impostos que conseguiram o milagre de fazer cair a receita fiscal; meio milhão de novos desempregados em menos de dois anos e milhares de empresas chutadas para a falência; cortes cegos em tudo o que estava em marcha para mudar o nosso paradigma de país subdesenvolvido — como a aposta na investigação, na ciência, nas novas tecnologias, nas energias alternativas; um despudor e uma arrogância a corrigir os erros cometidos com novos erros idênticos, que, mais do que teimosia e obstinação suicidarias, revelam sim o desespero de um ditador intelectual perdido no labirinto da sua ignorância. Gaspar não sabe como sair do desastre em que nos meteu e, como um timoneiro de uma nave em rota de perdição, ele já não vê nem passageiros nem carga, ou empregos e vidas a salvar: prefere que o navio se afunde com todos a bordo e ele ao leme. Sem sobreviventes nem testemunhas.

    Vendo-o na sua última aparição pública, a dar conta das linhas orientadoras do DEO, percebi que ele já não tem rumo nem bússola. Nem sequer tem linhas orientadoras da estratégia orçamental ou do que quer que seja. Apenas tem um número, que, aliás, vai sucessivamente engrossando à medida que o desastre se vai tomando cada dia mais nítido: 1,3 mil milhões, 4 mil milhões, 6,5 mil milhões. Cada nova previsão falhada, cada novo erro de avaliação por ele cometido, tem como consequência, não um pedido de desculpas ou a promessa de se render e arrepiar caminho, mas antes a ameaça de mais e mais sacrifícios sobre uma economia e um povo exauridos. Afinal, anuncia ele agora, a recessão não vai inverter-se no final deste ano, como previra, mas só lá para 2015 ou 16; afinal, o "desemprego ainda vai subir antes de começar a descer" daqui a uns dois anos, talvez; afinal, a "sustentabilidade das contas públicas", que nos diziam iminentemente assegurada, vai exigir sacrifícios "para uma geração". Mas o que mais me choca ainda é o tom nonchalant com que debita as novas ameaças, como se, milhão a mais milhão ou a menos, dois anos a mais ou dois anos a menos, não fizesse grande diferença nas vidas concretas de gente concreta, destruídas a mando da sua incompetência.

    Sim, incompetência: porque o mais extraordinário de tudo é pensar que Vítor Gaspar impôs ao país uma política de austeridade suicida que o conduziu a uma das maiores recessões da sua história e sem fim à vista e, em troca, não conseguiu as duas que ele e os demais profetas da sua seita de fanáticos juravam ir alcançar sobre as ruínas do país: nem fez a reforma do Estado nem controlou o crescimento da dívida pública — pelo contrário, perdeu-lhe o controlo. Mas para onde foram então os 24.000 milhões de euros que as políticas de austeridade de Vítor Gaspar roubaram à economia, às empresas e aos trabalhadores e pensionistas, nestes dois anos? Sumiram-se para onde, serviram para quê?

    Incompetência, porque tudo aquilo que Vítor Gaspar sabe fazer e faz, qualquer merceeiro, sem ofensa, sabe fazer: contas de somar e subtrair. Agora, faltam-lhe 6,5 mil milhões? É fácil de resolver, basta agarrar numa caneta e num papel.

    Ora, vejamos: conta de subtrair — tiram-se 2 mil milhões aos pensionistas e 3 mil milhões aos salários dos funcionários públicos. Temos 5 mil milhões, faltam 1,5.

    Conta de somar: aumenta-se o IRS (o único imposto que ainda garante retomo acrescido na receita fiscal). Aí estão os 6,5 mil milhões — a "reforma do Estado". Mas alguém lembra então a Gaspar que isto vai significar menos consumo privado e que menos consumo significa mais falências, mais desemprego, mais subsídios de desemprego a pagar. Contrariado, Gaspar volta a agarrar na caneta e desenha nova "medida de estratégia orçamental", ou seja, nova conta de subtrair: tira-se meio milhão às verbas do subsídio de desemprego. E quando alguém lembra ao ministro que o subsídio de desemprego já foi reduzido na sua duração a um paliativo mínimo e as suas regras de acesso, de tão restritivas que são, apenas abrangem 45% dos desempregados, Gaspar responde: "Então, por isso mesmo, e, aliás, em obediência ao princípio da igualdade, diminui-se a prestação aos que a têm".

    É assim que Vítor Gaspar governa o país, perante a aquiescência do primeiro-ministro e a cumplicidade do Presidente da República. Eles sustentam que tudo fará sentido e valerá a pena no dia em que Portugal regressar aos mercados.

    Não é um sonho, é um delírio: quanto mais o PIB cai mais sobe a dívida pública, calculada em percentagem do PIB. E, quando olharem para nós, sem a "protecção" da troika, o que irão os mercados ver? Um país em recessão permanente, com a dívida sempre a subir e governado por Passos Coelho e Vítor Gaspar. Em que filme de aventuras é que eles aprenderam que um país assim é salvo por filantropos? Não, Gaspar não nos vai levar de volta aos mercados, a não ser em condições de estertor final; ele vai é levar-nos de volta a um novo resgate. E esse vai fazer-nos retroceder cem anos.’

15 comentários :

josé neves disse...

Um homem só não pode nem poderia nunca. Contudo com a colaboração e ajuda da burguesia-fidalgote filhos-família "sabichões-cabeçudos" como Sousa Tavares, foi possível e agora, com o mal feito, proclamam imprecações.
Queixa-te de ti, meu cabeçudo, são os como tu que deveriam ser obrigados a expiação, os VPV, os PP,os JMF, os Crespos, os Duques, os barretos, os cratos, os FJViegas, os jornalistas do cm e quase a totalidade deles na imprensa portuguesa, quase tão culpados como os políticos e deputados que colaboraram e ajudaram a colocar este governo no poder.
"Passos arrasou Sócrates" disse este cabeçudo na noite do debate eleitoral. Tão concludente e taxativo foste na bela e perfeita análise, meu cabeçudo. E agora?
Agora as tuas análises têm o mesmo valor que tiveram a que proferiste naquela noite: são baba derramada.
Vai pentear macacos, Tavares.

Anónimo disse...

As virgens do regime que vai aos poucos acabando! Todos viciado no Estado. É dificil acabar com a droga, mas chegaremos lá! Todos: MST, MFL, JC, BF, AV, JS, NMS, FL, Cap.Abril, MS, RE, JS,MM, MRS,JPP,RR, AC, PAS, PML, CFA, DO, etc.etc.etc. todos, todinhos, que viveram e alimentaram um regime que destruiu este país. Graças a Deus, há uma geração mais nova que já nem quer saber do que esta gente diz no seu comentário encomendado por org. com. social sentidos com este governo. Pois é, acabou a mama do Estado. Acabou-se e a raiva agora é maior porque o governo disse que não aumentava mais impostos. Resta-lhes criticar com ódio aquilo que há anos exigiam a outros governos! Que triste figura fazem este grupo de comentadores e jornalistas órfãos de um regime instalado em 74.

Fernando Romano disse...

O medo invadiu a oposição política a este governo e há muito que está instalado no seio dos partidos da coligação. A oposição mostra-se inconsistente, ora aparecendo resoluta, ora aparecendo murcha, perdendo-se em demasiada retórica esteriotipada. Não há uma coluna de combate sólida para derrubar este governo. Ouvem-se cada vez mais vozes inconformadas dispersas, gritos provenientes de todas as áreas políticas, sem eco nas instituições várias para actuarem como um todo.

A situação trágica da nossa sociedade exigia que as direções partidárias reunissem entre si, as associações patronais deviam fazer o mesmo, as centrais sindicais há muito que deviam estar a fazê-lo.

O Presidente da República deve ser pressionado a demitir imediatamente este governo e, se não mostrar vontade de ouvir o País,passar à fase de pedir a sua demissão. O Presidente da República deve ser colocado no centro desta desgraça. Ele é o maior responsável.

É imperioso que os setores democráticos e patrióticos no interior do PSD e PP lancem um grito de revolta contra este governo vende-pátrias.

Desta Assembleia da República e deste governo ninguém vai arredar pé. Eles são bandos apegados ao osso ou na esperança que lhe atirem um.

É insuportável estar a fazer sacrifícios com estes primeiro ministro e ministro das finanças.

Eles são loucos e detestam o povo.

Fernando Romano disse...

Caro José Neves,

Desculpe, mas não posso concordar com o seu comentário sobre MSTavares.

Também eu não concordo sempre com ele. Mas valorizo a sua escrita e o seu caráter não subservientes a ninguém.

Só posso valorizar este e muitos outros artigos que tem escrito sobre este governo, manifestando coragem e lucidez.

Anónimo disse...

Jose neves, não se esqueça do Nuno Ramos de Almeida que abrilhantou o pior do jornalismo,no Jornal Nacional, um filho da mãe q agora devidamente desmemoriado lidera o "q se lixe a troika". Cambada de canalhas.

james disse...


O homem não está sozinho. O voto da Teresa Caeiro, entre outros, também conta...

Olimpico disse...


Meus Senhores, o problema foi sempre Cavaco e logo seguido do "Polvo Cavaquismo"..... Há muito que previ que o pedido de demissão de Cavaco estava próximo. Aí está, nas ruas do Porto, além dos insultos, gritaram a sua demissão!!!!

Agora, já se anunciam datas para um levantamento popular, com a ocupação das instituições. Ora ..Ora, isto não se anuncia....
mas, a continuação deste Governo de "INICIATIVA PRESIDÊNCIAL" com a dinamica anunciada.....O levantamento poderá acontecer, mais cedo do que tarde....que atingirá Governo e PR..( Como diz o nosso povo....Deus queira que me
engane....)


Anónimo disse...

Caro Olímpico,

Você está a sonhar ou a delirar?

"o pedido de demissão de Cavaco está próximo".

Com que fundamento faz um comentário destes?

Vc não está a confundir um desejo seu com uma realidade completamente ao contrário?

Olimpico disse...


Oh Anónimo. Claro que Cavaco não vai pedir a demissão, está na cara e no que eu disse cima. O que aconteceu, e eu previa há muito, é que a "RUA" pediria a sua demissão!!!! Foi o que aconteceu pela primeira vez em democracia. O PR ser insultado e pedida a sua demissão!!!!Eu não estou a delirar, os que votaram Cavaco e no Psd/PP, é que estarão em convulsões.... Bom domingo....de praia.

Anónimo disse...

Não. Um homem sozinho não pode dar cabo de um país. Mas os capitalistas que esse homem representa sim, podem dar cabo de um país e quando as coisas dão para o torto fogem e quando as coisas já estiveram mais calmas eles voltam e agora ainda vai ser mais fácil fugir porque não precisam de estar a cambiar moeda à pressa porque com o Euro já está tudo cambiado, que maravilha o Euro porque não é preciso corridas apressadas e trocas onerosas de 1 para 10 como foi no passado em que tinham de dar 10 contos para receber 1 conto lá fora, agora não o Euro é a moeda da liberdade capitalista só é preciso por os agentes governamentais a trabalhar e deixar arder.
JM

Anónimo disse...

E se como o bolo rei mastigado diz as eleições não servem para nada...se calhar... é preciso lançar mão a mecanismos ALTERNATIVOS....

AEO disse...

Não conhecia este blog - cheguei aqui por portas travessas - que, de ora em diante, espero seguir.
Dado a seriedade dos assuntos nele tratados e a qualidade de algns dos seus autores, faz algum sentido permitir este tipo de comentário (sem instrução, para não qualificar pior)?
Longe de querer ofender(quem faz este tipo de comentário), pelo contrário, a verdade é que as coisas são de tal forma antagónicas que, para mim, não deviam ser misturadas.
A liberdade de expressão, que é um direito constitucionlmente reconhecido, não significa que comentários menos próprios mereçam ser publicados, mesmo que seja a título de mero comentário (acedível apenas por vontade de quem acede ao presente blog).
No entanto, o principal do blog parece garantido.

Obrigado
Parabéns pelo excelente trabalho
Um abraço

AEO

Anónimo disse...

vocês zés povinhos são burros a dar com um pau, deve ser muto dificil entender que ele está a seguir ordens do FMIs e TROIKAs, meu deus, parem de ler tantos Jornais de noticias e abram os olhos, mas os da cara de preferência.

josedemelo disse...

meus amigos
as armas continuam nas nossas mãos.
considero-me portador de uma ideologia socialista e sempre votei sempre procurei votar de forma a ajudar melhorar o país mas ghega basta.
pensem
em quase 40 anos passaram por lá todos e o que temos?

nos próximos atos eleitorais não vou votar.
se um dia a abstenção chegar aos 90% talvez estes tipos desapareçam com vergonha.

josedemelo

Anónimo disse...

E agora meus senhores?... todos!... a favor e contra MST. De facto prova-se, o tempo provou, como um só homem (com alguma ajuda de outros bandalhos e ignorantes como ele) pôde aniquilar o esforço de um país com 800 séculos de história.
Afinal o MST tinha razão na dissertação que fez no seu artigo, pois estamos na situação que este indiciava.