• Manuel Carvalho, Os neoboys de Passos e Portas:
- ‘Só pode haver uma razão: porque essa tentativa de fazer qualquer coisa para alterar o diktat da austeridade salvífica contradiz a tese de quem, em 2011, esperava que “a intervenção externa, numa ou noutra forma, seja para durar”. O radicalismo da austeridade indiscutível, da submissão instrumental à troika, o ódio ao Estado, a sobranceria como olham Portugal e os portugueses são ingredientes que os levam a querer refundar o país em algo de novo, feito à sua imagem e semelhança. No fundo, no fundo, eles gostam do statu quo. O desemprego, o empobrecimento, as falências, os custos de financiamento, são como outrora o Gulag ou o Tarrafal: penitências que nos limparão a alma e nos conduzirão a uma “profunda democratização do regime”.
(…)
Mas, no essencial, o que o estudo do PISA comprova é que o sistema educativo foi capaz de aceitar o repto e progredir. Como escreveu Fernanda Câncio no DN, “quando a OCDE ajusta os resultados ao nível socioeconómico dos estudantes, Portugal passa, em Matemática, do 23.º lugar para o 5.º. Atrás apenas da Coreia, do Japão, da Suíça e da Polónia. Cinco lugares à frente da Alemanha, sete à frente da Finlândia e 27 à frente da Suécia”. Face a estes dados, seria de esperar ver o ministro frente às câmaras da TV a rejubilar. Crato, porém, não o fez. Porque se o fizesse teria de reconhecer a vulnerabilidade do seu diagnóstico e o erro de muitas das suas propostas para a Educação. Porque teria de admitir que o fim do Estudo Acompanhado e da Área de Projecto pode ter sido um erro, que a sistemática revisão dos programas pode ser uma ameaça, que a guerra gratuita que mantém com as provas para professores contratados é uma extravagância.
(…)
O PSD recusa uma comissão de inquérito ao processo de subconcessão da empresa dos Estaleiros de Viana. Como o PÚBLICO escreveu em editorial, é uma decisão errada, porque “o Parlamento é a sede natural para esclarecer tudo o que se passou até aqui”. Não, não se trata de saber se o Governo pecou por falta de transparência, não está em causa qualquer suspeita de comportamentos menos lícitos por parte de quem quer que seja. O que é preciso avaliar e saber são as razões que culminaram no estrepitoso falhanço de salvação da empresa e na obscena capitulação na defesa do interesse público.’
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