quarta-feira, abril 02, 2014

Pós-troika: rotundo falhanço se não apostar na produtividade,
na melhoria da justiça e no estancamento da emigração jovem


• Manuel Pinho, Por que razão a economia não cresce?:
    «(…) Como estamos? Estamos muito mal. De acordo com as estimativas de Paul De Grauwe, Portugal tem o stock de capital por trabalhador mais baixo, de longe, entre os países da zona euro. O stock de capital é inferior à Grécia, cerca de metade da Espanha e menos de um terço do que na Alemanha e na Holanda. Como seria possível o trabalhador português produzir o mesmo que o alemão ou holandês com apenas um terço do stock de capital? A causa desta situação desoladora é, globalmente, as empresas e o Estado terem investido tão pouco, e nalguns casos tão mal.


    Para onde vamos? Vamos de mal a pior. O stockde capital é o resultado de anos e anos de investimento, que devia estar a aumentar, mas tem vindo a cair a pique. Em 2013, a FBCF foi, a preços constantes, a menor dos últimos 25 anos, 60% do registado em 2008 e pouco mais de metade de quando Portugal aderiu ao euro. Uma catástrofe!

    A queda a pique do investimento contraria a ideia de que ele depende fundamentalmente do nível das taxas de juros, porque elas baixaram fortemente desde a adesão ao euro e, além disso, o crédito bancário às empresas foi muito abundante.


    Por outro lado, invocar por tudo e por nada os custos de contexto como explicação para a queda do investimento é mais um mito, uma vez que o ambiente de negócio (custos de contexto) melhorou muito, em parte devido ao Simplex e à agilização da negociação dos projetos apoiados por fundos comunitários, de tal maneira que Portugal está atualmente à frente da Suíça e da Dinamarca no ranking Doing Business do Banco Mundial.

    Apesar de não ser simples de explicar, a queda do investimento não é uma inevitabilidade e vale a pena olhar para o período em que duplicou o número de hotéis de cinco estrelas e foi possível mobilizar projetos de investimento como a refinaria da Galp em Sines, a fábrica de papel da Portucel em Setúbal, o projeto da Embraer em Évora, a fábrica de mobiliário da Ikea em Paços de Ferreira, a de turbinas eólicas da Enercom em Viana do Castelo, etc. Não há qualquer razão para que este ritmo de investimento, que em larga medida explica o recente aumento das exportações e das receitas do turismo, tenha sido interrompido, é necessário que se mantenha uma forte dinâmica do investimento ano após ano.


    Também há duas questões relativamente ao nível de qualificação da força de trabalho, como estamos e para onde vamos?

    Onde estamos? Muito mal. A nova geração de portugueses tem um nível de educação relativamente próximo da média do que se verifica nos países mais desenvolvidos, o que explica a sua relativa facilidade em emigrar, porém as gerações mais velhas têm qualificações muito baixas. Apenas 35% dos portugueses com mais de 25 anos terminaram o 2.º ciclo de escolaridade, o que compara com 86% na Alemanha, 84% na Finlândia e 72% em França. Na realidade, de acordo com os dados da OCDE, em Portugal o nível médio de qualificações dos adultos será bastante inferior ao de países que são mais pobres, por exemplo Chile, México e Argentina.

    Para onde vamos? De mal a pior por duas razões principais. Primeiro, foram interrompidas as políticas de qualificação dos adultos com um baixo nível de escolaridade, por exemplo o programa Novas Oportunidades. Porquê? Segundo, os jovens foram aconselhados a emigrar. (...)»

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