quinta-feira, abril 10, 2014

Um elefantezinho numa loja de cristais

Alexandra Lucas Coelho relata no Facebook a cerimónia de entrega do Grande Prémio de Romance e Novela da APE que lhe foi atribuído. Eis uma passagem relativa à intervenção do secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier:

    «(…) Já no átrio da Gulbenkian, perto da hora marcada, 18h, a APE comunicou-me que a cerimónia estava um pouco atrasada porque esperavam o Secretário de Estado da Cultura.

    Quando Barreto Xavier chegou e entrámos todos para a sala, o protocolo sentou-o ao centro da mesa, junto a Diogo Pires Aurélio. Nas pontas, Gulbenkian (representada por Rui Vieira Nery), APE (José Manuel Mendes, José Correia Tavares), júri (representado por Isabel Cristina Rodrigues) e eu. Vieira Nery abriu, sucintamente; seguiram-se discursos da APE; Isabel Cristina Rodrigues leu o texto em que o júri justifica a atribuição do prémio a "E a Noite Roda". Diogo Pires Aurélio e eu levantámo-nos para que ele me entregasse o sobrescrito do prémio, um minuto de formalidade, sem palavras, para a fotografia. Chegou a minha vez de discursar, li as páginas que trazia. No fim, houve uma ovação de pé. Digo isto para dar conta da atmosfera que os representantes do poder político tinham diante de si.

    A APE convidou então o SEC a intervir. Ele escolheu falar sentado, sem se deslocar ao púlpito. Uma das coisas que disse, na parte, digamos, cultural da intervenção, foi que eu bem podia declarar que não fazia ficção porque claro que fazia ficção porque é isso que um escritor faz, ficção. Foi o primeiro arroubo dirigista, que nos devia ter preparado para o que aí vinha.

    Na parte, digamos, política, destaco quatro coisas: o SEC disse que eu devia estar grata por estarmos em democracia e eu poder dizer o que dissera; que durante anos os portugueses se tinham endividado acima das suas possibilidades; que, ao contrário do que eu dissera, ninguém saíra de Portugal por incentivo deste governo; e, sobretudo, que eu tinha dito que não devia nada a este governo mas que isso não era verdade porque este governo também subsidiava o prémio.

    Referia-se ele, assim, a um prémio com décadas de existência; atribuído a alguns dos mais extraordinários escritores de língua portuguesa; cujo montante em dinheiro resulta de vários patrocínios, sendo que os públicos resultam do dinheiro dos contribuintes; e que tem atravessado os mais variados governos, sem que nunca, que me recorde, algum governante o tenha tentado instrumentalizar. Foi a mais escancarada confusão de Estado com Governo que já presenciei, para além do tom chantagista ao nível de jardim de infância das ditaduras. E, apesar dos apupos, de quem lhe gritava da plateia "Mentira!" e "O Estado somos nós!", o SEC insistia.

    Como cabe ao Presidente da República, ou seu representante, encerrar a cerimónia, a APE instou Diogo Pires Aurélio a falar. O representante do Presidente da República declinou e encerrou a sessão. No fim, cumprimentou cordatamente todos os presentes na mesa e retirou-se.

    Já Barreto Xavier, aproximou-se de mim na confusão da retirada. Julguei que se vinha despedir, depois de dizer o que tinha a dizer. Nada disso. Queria dizer-me, visivelmente irritado, que o que eu fizera tinha sido de um grande "primarismo". Respondi-lhe que então devia ter dito isso mesmo ao microfone, que eu já dissera o que tinha a dizer e não lhe ia dizer mais nada. Fui andando, para contornar a mesa e acabar com a cena, mas o SEC insistia: que eu tinha sido “primária”. (…)»

18 comentários :

Tomateiro disse...



B A C O C O! B Á S I C O!


UM PAR DE TOMATES PODRES ESFARRAPADOS NAQUELA TROMBA É O MÍNIMO QUE ESSEE MONTÍCULO DE MERDA MERECE!


Nojento...

Anónimo disse...

Isto foi das coisas mais inacreditáveis que já li...estamos entregues à bicharada

Anónimo disse...

Não! Estamos entregues a um grupo de imbecis, incompetentes e mal formados apoiados por um comunicação social de sabujos, que os protege!

RFC disse...

... Destaco uma passagem do post da ALC porque é ipsis verbis o que se lê nos testumunhos contemporâneos das iniciativas promovidas pela Oposição Democrática durante o Estado Novo (quem passou um tempo numa hemeroteca sabe do que estou a falar, seguramente). Era como se existisse um respirar fundo aparentemente impossível de explicar depois aos outros, mas também era como se todos os leitoreslá tivessem estado ao mesmo tempo.

«Chegou a minha vez de discursar, li as páginas que trazia. No fim, houve uma ovação de pé. Digo isto para dar conta da atmosfera que os representantes do poder político tinham diante de si.»

Evaristo Ferreira disse...

Barreto Xavier, apresentado como SEC de um governo de torquemadas, faz sempre uma triste figura. Não bastava o seu ar de lunático, para tornar as coisas ausentes, foi ainda martelar com palavras de censura, à boa maneira de Santa Inquisição. Barreto Xavier está para a cultura como o caruncho está para a madeira. É mais um lambe-botas do passismo.
Alexandra Lucas Coelho já era uma referência no meio cultural, mas ao afrontar este rebanho de canalhas, tornou-se num esteio de verticalidade, desassombro e de coragem. Esteve acima do odor exalado pela canalha que tem ostracizado a cultura e vai insistir na venda dos Mirós.

arebelo disse...

Nem quero imaginar até porque fui testemunha e vítima de um passado de má memória,o que estes pulhas fariam com uma PIDE nas costas.É que a conversa do tal invertebrado xavier,podia perfeitamente ser posta na boca de um Cazal Ribeiro,um Rapazote ou de qualquer outro advogado das tais "sapatas"dadas a tempo,Do que a alexandra se safou!Alexandra que daqui saudo calorosamente,porque na democracia dos "xavieres" é preciso desassombro corajoso,porque à sememlhança dos pulhas de que descendem,nem esquecem nem perdoam.

RFC disse...

Adenda. Sem dúvidas, será «preciso desassombro corajoso» porque essa é a grande herança para o presente.

manuel pereira disse...

Alexandra:que a coragem te não esmoreça,que a tua visão não se turve! Obrigado.

Anónimo disse...

Não há limites para a falta de vergonha que assoma esta gentinha menor que se alapou ao poder.mas que raio de puta de educação os pais desta gente lhes deram?!!!
será tudo descendente de ex-PIDEs que se vaporizaram depois da revolução? É que de facto muita limpeza que devia ter sido feita naquela altura ficou por fazer e agora aí os temos de volta, na pele destes filhos da puta mal amanhados e liderados por um imbecil quase analfabeto que diz tudo e o seu contrario com a mesma expressão : a de um robot.

Anónimo disse...

Se a imbecilidade pagasse impostos o País tinha o problema resolvido. Ontém esta pérola da alexandrinha que se deve achar rainha porque recebeu um premiozinho, hoje a Maria Teresa Horta. Afinal tantos democratazinhos, a viverem tipo burguesoides que defendem a democracia DELES, à maneira deles.
E a juntar a isto um tal de lourençote de melena e pá a achar-se no direito de "invadir" a AR só porque sim, acha que deve usar da palavra.
De facto se a imbecilidade pagasse impostos, estava tudo mais que resolvido.

Anónimo disse...


Assunção Esteves, para meu espanto, também já está contaminada. Ou sempre foi assim?

RFC disse...

Sobre a imbecilidade. Se quer meter a Maria Teresa Horta no assunto deve começar o assunto assim: Maria Teresa Horta que recusou, em 2011, receber das mãos do Passos Coelho o prémio D. Dinis; Alexandra Lucas Coelho que perturbou um subalternozinho do subalterno chamado Passos Coelho e atingiu em cheio o algarvio Cavaco Silva (no prémio APE). o Vasco Lourenço ainda é rapaz para uns sopapos, não se arrisque.

Anónimo disse...

Mas afinal o livro versa sobre o quê?

Anónimo disse...

Obrigada por reproduzirem aqui este texto tão interessante onde vemos a coragem e postura digna de uma excelente profissional, Alexandra Lucas Coelho, versus a mediocridade de um verme, de um incompetente, vadioso e piroso (aquele modelo de óculos é extremamente ridículo!) um tal xavier barreto, que vive à custa do povo português que lhe paga salario exorbitante, viagens desnecessárias(até para veneza!)e outras benesses, para a criatura destruir a cultura e ainda ofender que faz coisas com qualidade neste País!M.

Varredora mecânica disse...



E se tivesse ficado só como Vereador da Recolha do Lixo, na Câmara de Oeiras, já teria sido mais do que este refundido canalha merece...

arebelo disse...

Permito-me voltar a este assunto para um pedido de esclarecimento:em que meio da comunicação social escrito ou televisivo veio relatado ou sequer noticiado esta ocorrência em que é saliente o facto de nela estar envolvido um membro do desgoverno sito na área de influência dos media?É que me parece que para lá de existir indiscutivelmente auto-censura ocasionada pela chantagem e o medo pelo posto de trabalho,a censura pura e dura é já um facto pela mão da famigerada central de propaganda que o relvas implementou.

RFC disse...

Como a própria Alexandra Lucas Coelho diz que não há gravações (em pleno século XXI isso é quase impossível, cheguem elas à net...), espero que os *comentadores* semanais nas TV's por cabo e na imprensa tragam o assunto de lá do mundo invisível.

Nota: sobre um post posterior do CC, um outro, diz-se que o paquidérmico Carlos Abreu Amorim nunca chegou a revelar publicamente quais as brilhantes conclusões a que chegou depois das nódoas negras e dos pontapés que levou em dividada Vila Nova de Gaia. Aqui a linha de raciocínio é igual: é verdade, mas qual foi o jornalista que lhe perguntou? Pois sim.

RFC disse...

É um misto de serviço público e de publicidade, mas «o livro versa sobre»... isto:

www.tintadachina.pt/book.php?code=b6670e1f0c85a297c2631a67c61f7b03 (clicando em imprensa consegue-se o download das recensões em .pdf, por exemplo)