sábado, junho 07, 2014

Do charco para o pântano

• Daniel Oliveira, DO CHARCO PARA O PÂNTANO [hoje no Expresso]:
    «António José Seguro está decidido a ganhar tempo à custa de umas primárias que não existem nos estatutos e que não vão ser criadas em congresso. Ele sabe, não tem como ignorar, que não irá conquistar nos eleitores o apoio que lhe falta nos militantes. Pelo contrário. Mas já definiu, para os próximos meses, o seu guião de emergência: um discurso contra o regime e um corte violento com o passado socratista. Esta estratégia corresponde à única leitura que podia fazer dos resultados das europeias que o isentassem de responsabilidades: o PS não descola por causa do passado e dos sentimentos populares em relação aos políticos. A simplificação do guião já foi apresentada pelos seus homens: Costa é o candidato dos interesses, Seguro é o da ética republicana. A lista de apoiantes dos dois, a começar pela presidente do partido, que saltita entre pareceres para grupos privados de saúde e funções públicas na mesma área, toma difícil sustentar o maniqueísmo. Mas é o que sobra a quem está desesperado. Depois de meses de guerras estatutárias e de campanha feia para umas primárias sem validade legal é provável que o PS esteja finalmente fadado a chegar às próximas eleições já derrotado. Seguro parece estar-se nas tintas. Se ele afunda, o PS afundará com ele.

    O estado do PS é demasiado tentador. E o primeiro-ministro parece não querer resistir. Usando uma decisão mais do que previsível do Tribunal Constitucional (pelo menos na sua parte substancial, relativa aos salários da função pública), iniciou um processo de dramatização injustificável, tendo em conta os valores em causa e a almofada financeira entretanto criada. Tudo, na reação do Governo, que vai das declarações incendiárias de Passos Coelho ao pedido de "aclaração" sem qualquer validade legal, passando pela patética teatralização de uma tragédia iminente, com o cancelamento de uma viagem ao Brasil, parece tornar evidente a vontade de criar um clima de crise política artificial. Porquê? Porque Seguro promete prolongar a crise no PS e isso significa que, ao contrário do que se esperava, seria bom para a coligação que as eleições aconteçam o mais depressa possível. Passos Coelho quer ir à luta perante um PS com as calças na mão.

    Não é difícil imaginar o que aconteceria se Passos Coelho fosse bem sucedido. O PSD e o CDS não teriam muito mais do que tiveram nas eleições europeias. O PS, no estado degradante em que se encontra e em que promete manter-se por algum tempo, teria ainda menos. Sobrariam metade dos votos para vários partidos, existentes ou por existir, com ou sem programa. Isto, claro, se a maioria dos portugueses, olhando para o comportamento dos principais líderes políticos, ainda se desse ao trabalho de ir votar. Do charco que as eleições europeias anunciaram passaríamos para o pântano. Tudo isto seria evitado se Seguro aceitasse fazer uma leitura política razoável dos resultados das europeias, submetendo-se a um processo democrático e rápido de clarificação interna. O primeiro-ministro não teria então a nesga de oportunidade que tenta agora aproveitar. Mas a sina de Seguro é ser o seguro de vida de Passos.»

3 comentários :

Anónimo disse...

"Seguro parece estar-se nas tintas. Se ele afunda, o PS afundará com ele."

Mas não foi isso que fizeram os Costistas, Socratistas nas últimas eleições europeias? Votaram no Seguro? ahahh...basta ver os blogs, a começar por este...

Anónimo disse...

Atenção ao "novos" militantes e apoiantes. Vejam o caso de Coimbra...

Anónimo disse...

A única defesa que estes infiltrados, que agora se descobriu no PS, fazem do seu tiranete Seguro, é o ataque pessoal e o achicalhamento do adversário.Que até agora não disse uma palavra maldosa acerca desta gentinha.
Penso que isso diz tudo sobre quem de facto têm honra e principios.
Ide-vos , só estão a cobrir de vergonha o PS.