quarta-feira, abril 15, 2015

Poder, podia — mas não era a mesma coisa


Sopram bons ventos do Largo do Rato. O PS começa a explicar as suas propostas e a pôr em evidência a devastação do país levada a cabo pelo governo da direita, depois de o PSD ter feito, há quatro anos, uma campanha repleta de mentiras a prometer o paraíso na terra. É uma empreitada tão mais difícil quanto a direita está entrincheirada nos órgãos de comunicação social (com o PSD, através de Marcelo, Marques e Morais Sarmento, a ter o exclusivo das prédicas em canais de televisão de sinal aberto) e utiliza sem qualquer pudor os meios do Estado para fazer a mais rasteira propaganda.

Sendo uma tarefa complicada furar este cerco asfixiante, o PS não pode errar no alvo sempre que se manifesta. Tal como António Costa afirmou na campanha das primárias, «a mudança necessária exige ruptura com a actual maioria e a sua política», sob pena de, «se pensarmos como a direita pensa, acabamos a governar como a direita governou.»

Veja-se o caso do cartaz acima reproduzido (que, note-se, ao não conter os elementos que o permitam identificar com o PS, não vincula o partido à mensagem que se procura transmitir). Trata-se, a meu ver, de um bom exemplo de um tiro que acerta no alvo de raspão.

Com efeito, é verdade que Passos Coelho mentiu com quantos dentes tem. Mas não é verdade que o alegado primeiro-ministro tenha mentido porque se comprometeu com aquilo que não poderia cumprir. Passos Coelho mentiu porque tinha um programa oculto que não poderia desvendar para levar os eleitores ao engano.

A troika foi o pretexto de que a direita se socorreu para promover uma brutal transferência de rendimentos do trabalho para o capital. Por isso, adoptou a política de «ir além da troika» sempre que isso favoreceu a brutal transferência de rendimentos do trabalho para o capital e não seguiu o memorando de entendimento em relação às medidas que frustravam a delapidação dos dinheiros públicos (v.g., transferências dos orçamentos do Estado para os colégios privados).

A violenta austeridade que o governo de Passos & Portas impôs ao povo português não foi consequência de uma imposição externa. Foi uma decisão interna para consumar uma alteração radical da relação de forças na sociedade portuguesa. Assim sendo, creio que a frase-chave do cartaz — «prometeu sabendo que não podia cumprir» — reflectiria mais adequadamente a realidade se tivesse sido escrito qualquer coisa como isto: «prometeu sabendo que não iria (ou não queria) cumprir».

Teria sido posto em evidência a total falta de credibilidade de Passos Coelho, mas também seria sublinhado que o alegado primeiro-ministro é o responsável n.º 1 por uma política austeritária que provocou graves danos ao país por muitos e bons anos. Contrariamente ao que aconteceu na Irlanda, Espanha ou Itália.

8 comentários :

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Filipe disse...

Compleramente de acordo com a vossa análise

Pedro Carrilho disse...

Por isso é que devia haver um contrato em vez de um programa eleitoral q era p qnd mentissem c este merdas tivessem q responder em tribunal, !

Anónimo disse...

a facholice laranja está activa e de guarda!
Comentário removido? Só podia ser o mavioso zurrar vindo do laranjal, onde os putos malandros se acotovelam...

Anónimo disse...

Completamente de acordo com a alteração da frase para "NÃO QUERIA" .

Anónimo disse...

Mais uma vez um excelente artigo a juntar a tantos outros que aparecem aqui neste blog e que escasseiam na dita comunicação social! Obrigada. O PS está a acordar da letargia e é muito importante apontar de forma direta, curta e eficaz as malfeitorias deste Governo à população. E já não há muito tempo para o fazer. Concordo, o logotipo do PS é fundamental aparecer neste cartaz. M.

Júlio de Matos disse...



Há dois aspe[c]tos importantes neste Artigo (e nos comentários anteriores):


1º) Substituir o "não podia" pelo "NÃO IRIA" (ou "NUNCA QUIS"....) cumprir - 100% de acordo;


2º) Associar o símbolo do PS (ou qualquer outro tipo de ligação gráfica a este Partido) ao cartaz: não sei se, no cômputo global, isso seria vantajoso, ou não. Uma verdade óbvia e límpida não precisa de ser associada à opinião de um Partido. Até pode perder credibilidade por isso! Tem ainda mais valor, quanto a mim, contribuir desinteressada e anonimamente para desmantelar a narrativa mentirosa do Poder, do que parecer interesseiro ao prestar, no fundo esse "serviço público". Eventualmente, por cada voto que o PS possa perder por não se identificar neste cartaz, talvez se ganhem três votos conscientes na Esquerda (dos quais pelo menos um poderá caber ao PS)...


Tudo o que seja "partidarite" excessiva me parece menos eficaz, cívica e até eleitoralmente, do que sinceridade pura e desinteresse manifesto, neste momento. Por outras palavras, creio sinceramente ser pereferível o PS apelar diretamente ao Povo e ao País, mais que aos seus militantes e simpatizantes!


Aliás, basta ver como a mensagem manhosa e diabólica do atual Poder é difundida COM MUITO MAIS SUCESSO anonima ou apocrifamente por "jurnalistas", comentadores e papagaios avulsos, do que por propaganda partidária bem identificada...

Magus Silva disse...

Não vou camuflar a minha opinião. Nem tudo na proposta PS está de acordo com o meu penosamente.
A redução do IVA para a restauração, é das piores medidas, das mais injustas, insistirei sempre nisto, porque quem pode comer em restaurantes, deve ter dinheiro para pagar o IVA normal, como eu e muitos pagamos, sem comer em restaurantes.
Mesmo assim, entre as medidas do governo e as propostas do PS, há uma diferença abismal, provando que o PS liderado por António
Costa, tem algum sentido de estado, ao contrário do governo que é uma espécie de fora da lei.




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