sábado, agosto 08, 2015

Leituras


    • Rui Pereira, Casar em Serralves:
      «(…) De todo o modo, se estes casamentos se repetirem, será coartado o acesso do público a Serralves. A comunidade deixará de desfrutar livremente dos jardins e será subvertido o único sentido possível do investimento do Estado naquela Fundação: incentivar a fruição cultural, que, nos termos do artigo 78º da Constituição, constitui direito fundamental dos cidadãos e incumbência indeclinável do Estado – ainda que em colaboração com os restantes agentes culturais.»
    • Rui Patrício, É p’ró Palácio Ratton, faz favor:
      «(…) Presunção de inocência, ouvi eu na rádio. Mas qual presunção de inocência? Esta gente – passarões, figurões, macacões e outros ões – lá tem disso? Então não se está mesmo a ver que só cá andam para roubar e para se encher, à minha custa e de outros como eu? Provas? Ora provas, os senhores também têm cada uma. Os senhores não lêem os jornais que eu leio, de certeza, nem vêem a televisão que eu vejo. Esta lá tudo, todos os dias, basta abrir os olhos. E o que se vê por aí? Uma corja. (…)»
    • Fernando Teixeira dos Santos, Lost in emmigration:
      «(…) Nos últimos anos houve, em Portugal, uma colossal destruição de emprego e a evolução recente da nossa população ativa evidencia bem que se perderam várias centenas de milhares de trabalhadores. De acordo com a base de dados PORDATA, nos últimos quatro anos, emigraram cerca de 500 mil portugueses. Emigrados, desencorajados e precários deviam estar no centro do debate político. Um debate que deveria focar-se mais em propostas sobre a criação sustentável de emprego estável e gerador de riqueza do que na discussão de estatísticas que dificilmente refletem todas as facetas da real situação do mercado de trabalho. Estes portugueses não podem ficar esquecidos, perdidos da nossa memória coletiva.»

1 comentário :

Fernando Romano disse...

"Emigrados, desencorajados e precários deviam estar no centro do debate político" - escreve Teixeira dos Santos. Pois deviam!

Emigração - uma tragédia nacional frequentemente cantada e sublimada pelas nossas inteligências e por alguns políticos sem vergonha... Milhões de portugueses arrejeitados ao longo de séculos sem que isso cause o mínimo de preocupação às nossas elites - e ao próprio coletivo que somos. Assumiu-se que não cabemos todos cá dentro... Refugiamo-nos no conceito idílico de que a nossa pátria é a língua portuguesa. É uma vergonha nacional. Não nos admira, pois, que a direita mais reacionária incentive mais portugueses a debandar daqui para fora para melhor poder dominar a nossa vida, económica e culturalmente, com fez o Estado Novo. Vivemos permanentemente numa mentira histórica atroz alimentada por intelectuais da treta - cobardes, nalguns casos. Dos 500 mil emigrados nos últimos anos (talvez mais de 5% do eleitorado), bem mais de 300 mil não vão ter possibilidade de pôr o seu voto contra esta malvada maioria que nos governa. E isso pode fazer uma grande diferença. Exige-se, de facto, um grande debate nacional sobre os fatores responsáveis pela emigração à luz da nossa história.