Excerto da entrevista de Pedro Nuno Santos ao Público:
- Mas o facto da aliança à esquerda se tornar possível, muda o próprio debate. É diferente debater isto agora ou numa altura em que o PCP rejeitava um acordo liminarmente.
O debate sobre a política de alianças no PS sempre foi uma constante. E também temos que entender que não estamos a falar de um PSD qualquer. Estamos a falar de um PSD que se radicalizou, que se encostou ao CDS e que abandonou o centro. Pedir ao PS, depois da campanha que fez, depois daquilo que disse, para viabilizar um Governo de direita, talvez os mais radical que o país já conheceu era pedir demasiado ao PS e aos seus militantes.
São essas as questões programáticas que distinguem o PS do PSD e CDS?
Claro.
Quais são elas?
Nós temos ouvido de alguns críticos da estratégia que está a ser seguida a acusação de que abandonámos o centro. O PS não abandonou o seu programa de sempre. Primeiro: não abandonou a maioria que defende a manutenção de Portugal no projecto europeu. O programa de governo garantirá isso. Segundo: o PS também não abandonou a maioria que defende a preservação e defesa do Estado Social português. E por isso, desse ponto de vista, o PS não mudou. O PS mantém-se na intersecção das duas grandes maiorias que compõem a vontade do povo português. Já o PSD abandonou o centro político ao abandonar o consenso nacional na preservação e defesa do Estado Social. Estou a falar do Serviço Nacional de Saúde. Nos últimos quatro anos empurrou-se para fora do SNS centenas de milhar de portugueses com o aumento das taxas moderadoras, nalguns casos para o dobro e triplo. E a direita propõe-se a continuar a fazê-lo. Essa é uma estratégia a prazo de privatização da saúde pública. O mesmo aconteceu com a Educação. O Governo PSD-CDS, ao abrigo da liberdade de escolha, permite que se façam contractos de associação com escolas privadas onde nas proximidades existem escolas públicas mesmo a funcionar abaixo da sua capacidade. Temos uma coligação de direita que se propôs a privatizar parte das receitas da segurança social, numa visão diametralmente oposta àquela que o PS defende. O mesmo acontece no emprego. Se atentarmos no programa eleitoral do PS, é dada uma grande prioridade à precariedade no sector privado e público. É importante que se perceba isto: nós hoje chegámos a um ponto em que o PSD se encostou ao programa liberal do CDS e assim se afastou do centro. E foi esse afastamento do PSD do centro que facilitou o que estamos a fazer com o PCP e BE. É a classe média que precisa, antes de mais, de um Estado Social forte, público e universal, tendencialmente gratuito. E é essa classe média que, com a degradação dos serviços públicos, mais sofreu nos últimos quatro anos. E é para a classe média que o PS fala, quando fala da defesa do Estado Social.
Pela forma como caracteriza este PSD parece evidente que será difícil qualquer acordo nos próximos anos.
O PSD precisaria de rever profundamente a sua visão sobre o Estado e sobre as funções sociais do Estado. Nós não permitiremos nunca que o Estado Social continue a ser atacado como tem sido.
Qual o peso que pode adquirir a tendência organizada no interior do PS por Francisco Assis, pode levar a uma cisão?
O PS não terá cisões nem à direita, nem à esquerda. O PS sempre conviveu bem com as suas diferenças internas. Quem está à espera disso, continuar-se-á a enganar. Agora, não acredito que os militantes do PS gostem – no momento em que o partido está a ser alvo dos ataques mais fortes dos últimos anos – de ver dirigentes do PS a dar munições à direita. Há quem diga, dentro do PS, que um acordo com o PC e BE impedirá que se façam reformas importantes, por exemplo, na Segurança Social. Esse é, de facto, o debate mais importante a fazer. Nós hoje já não temos uma divisão entre costismo e segurismo. Agora existe uma diferença ideológica que tem de ser debatida. O PS já fez reformas no passado e chegou a fazer uma reforma sobre Segurança Social com o apoio do PCP e do BE. E as reformas que temos de fazer são as que mantenham a Segurança Social pública. A única reforma que poderíamos fazer com a direita era uma que privatizasse parte da Segurança Social. Por isso, de facto, é verdade que uma aliança com o PCP e BE pressupõe uma forma de reformar o Estado Social. E um apoio a um governo de direita pressupõe reformas noutro sentido. E esse é o debate que temos de fazer. Nós pretendemos um Estado Social universal, público e tendencialmente gratuito. E isso não se faz com a direita.
7 comentários :
Este miúdo tem sangue na guelra! Parabéns!
Pelo que conheço dos partidos de esquerda em Portugal desde o 25 de Abril (e julgo conhecer bastante), o PS é de todos eles o que tem uma larga franja de esquerda dura e consciente da realidade portuguesa, democrática e combativa. Não admira que estejamos a assistir a um processo em que essa larga franja esteja na liderança, na vanguarda, na luta por uma ruptura com uma direita que até aqui tem vivido encapuzada. O que se está a passar é a prova da sua vitalidade, que foi o grande sustentáculo das conquistas sociais que se operaram em Portugal nos últimos 40 anos. Ao longo da vida tive esta experiência em contacto com militantes e simpatizantes socialistas, nomeadamente, em muitas batalhas. Julgo que a direita portuguesa e os partidos à sua esquerda nunca tiveram consciência desta realidade. Estão confrontados com ela agora.
Vamos ver se alguém se nega.
Aprecio a frontalidade e o "esquerdismo" de Pedro Nuno Santos!
Este é um verdadeiro Socialista
De onde é que veio este Che Guevara da Reboleira?
Subscrevo na integra! Este foi o meu sentido de voto.
Os banqueiros alemães nem têm dormido e a custo saem da cama para enfrentar o dia
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