Faltar à verdade

Primeiro, foi Rangel no Parlamento.
Depois, a Dra. Manuela para os telejornais.
De "falta de ética" a "fraude", de tudo o Governo foi acusado por, diz o Partido da Verdade, estar, “nesta recta final”, a tomar decisões e a lançar concursos “em Junho, até ao final de Setembro, para o TGV, para o novo aeroporto, para as auto-estradas, todos eles feitos à última da hora”.

Deixemos, por agora, a nova teoria política de que o Governo deve deixar de governar a seis meses das eleições (talvez o Expresso ouça esta semana "mais de uma dezena" de especialistas sobre a matéria...).
Concentremo-nos no essencial. Estão em causa três grandes projectos: o novo aeroporto de Lisboa, as concessões rodoviárias e a Alta Velocidade ferroviária.

Quanto ao novo aeroporto de Lisboa, a decisão do Governo foi tomada através de uma Resolução do Conselho de Ministros, em Maio de 2008, faltava um ano e meio para as eleições.

No que respeita às concessões rodoviárias, a decisão do Governo data de Dezembro de 2007, faltavam quase dois anos para as eleições. E acontece que, nas concessões de que falam estas Resoluções do Conselho de Ministros (1 e 2), apenas decorrem dois concursos. Os outros já foram assinados e as obras devem estar a começar no terreno.

Já sobre a Alta Velocidade, o problema é bem mais complicado. O compromisso de Portugal foi assumido em... Novembro de 2003 [vale a pena ler as assinaturas no final]. E foi com base nesse compromisso que Portugal e Espanha apresentaram projectos em Bruxelas e se candidataram a fundos europeus.
E acontece que o primeiro concurso para a Alta Velocidade foi lançado em Junho de 2008, faltava mais de um ano para as eleições, sendo que a escolha do construtor está na recta final. Não lançar o resto, implicaria irmos tomar o TGV para Madrid algures no Alentejo...

Ou seja, nenhuma das decisões a que hoje se referiu a Dra. Manuela e o seu discípulo Rangel foi tomada no último ano, quanto mais em cima das eleições.

Aquele cartaz em que a Dra. Manuela surge como Política de Verdade começa a ser um caso freudiano - enche-se a boca com a Verdade para que não se entendam as mentiras que dela saem.