sábado, fevereiro 27, 2010

Leituras [6]

Excertos da entrevista a Miguel Sousa Tavares (na revista do CM de ontem):
    CM: Os casos de Manuela Moura Guedes e Mário Crespo não foram censura?

    MST: Você acha? Há um director de jornal que recusa publicar uma crónica e no dia seguinte o texto está no site do Instituto Sá Carneiro e uma semana depois editado em livro. Eu já vivi num país com censura, já conheci países com censura, e não me lembro de censura assim. E quando vejo a Manuela Moura Guedes ter direito a 20 minutos em directo do telejornal para dizer que há censura... Sinceramente, tomara a líder da oposição birmanesa.

    CM: O que se passa então agora entre a classe política e a classe jornalística?

    MST: Penso que é preciso dar nas vistas, isso é que vende jornais. Há uma confusão de conceitos, que não sei se é voluntária, se é negligente, mas que está a ser feita de forma leviana. Expressões como ausência de liberdade, ditadura, são demasiado graves para serem usadas porque um director de jornal recusou publicar uma crónica do Mário Crespo sem que este revelasse qual era a sua fonte. Eu já fui director e não publicaria uma coisa baseada em fontes anónimas de restaurante. Não pode ser.

    (...)

    CM: Mas a sua crítica é ao facto de virem a lume conversas que estavam em segredo de justiça?

    MST: Isso é o ponto n.º 1. Ponto n.º 2 é como se faz um jornalismo com base nisso. Se me tivesse chegado à mão, eu pedia ao jornalista que investigasse. Não publicava assim. Agora, ter um amigo no Ministério Público ou na Polícia Judiciária que, à socapa, lhe manda o processo das escutas não tem nada de investigação.

    (...)

    CM: Quando terminou o "Jornal Nacional de 6.ª", disse que era o fim do "jornalismo nacional de manipulação"...

    MST: E disse que era um atentado à liberdade. Nunca vi, em nenhuma televisão do mundo, um jornal como aquele.

    CM: Considera que esteve demasiado tempo no ar?

    MST: Acho que nunca deveria ter estado no ar. Pense-se o que se pensar do actual primeiro-ministro, aquilo era um jornal para atacar uma pessoa concretamente. E às vezes perguntava por que não se fazia uma emissão contra o Paulo Portas ou a Manuela Ferreira Leite, outra contra o Jerónimo de Sousa ou o Louçã. Não há nada? Porque não investigam os submarinos ou os dinheiros da Festa do "Avante!". Lembro-me de ter dito à [jornalista] Ana Leal: o que acontece ao vosso jornal no dia em que o Sócrates for absolvido? O jornal morre por falta de objecto. O caso Freeport dura há seis anos por uma única razão: porque ainda não conseguiram entalar o Sócrates. Se fosse o Zé dos anzóis já tinha sido arquivado. Acho inconcebível que um primeiro-ministro viva sob suspeita de corrupção durante seis anos e que os contribuintes estejam a pagar esta investigação. Nós não podemos ser governados por alguém que não sabemos se é corrupto ou não. O Ministério Público tem obrigação de, rapidamente, apurar aquilo. Ou tem, ou não tem indícios. Agora, permitir que o primeiro-ministro seja queimado em lume brando na imprensa enquanto eles arrastam o processo à pesca à linha, a ver se alguém morde o anzol, é inconcebível. Eu não quero ser julgado assim. Não quero ter um primeiro-ministro julgado assim.

4 comentários :

Bettencourt de Lima disse...

Elementar meu caro Watson, o homem não desiste. Por mais que queiram, o homem não desiste e isto só vai lá com eleições. Seja, lá terá que se pedir outra vez o voto ao povo (populares, como gostam as tv,s de de o designar) e esperar o resultado, sempre uma incógnita, e pimba ! Lá ganha outra vez José Sócrates. Um... melhor mesmo, é ver se desiste.

AL`garvio disse...

Muito bem analisado.Esta merda não vai com eleições.O que nos falta é a fibra,senão esta bufaria já tinha ido á vida.
Aviso á "navegação":As baixas jogadas,vão continuar,os gajos estão desesperados.São perigosos e falsos.A vertente "militante"têm que despertar para o combate.

MFerrer disse...

Betencourt,
Acho que vc. tem toda a razão e que isto é um clima insalubre e insuportável. Ando a dizer há meses que isto não tem jeito sem novas eleições. É como quando é preciso operar. Quanto mais cedo melhor!
Essas comissões e esses deputados de braço dado com as corporações dos juizes e do ministério público estão cegos de ódio e já se mordem uns aos outros. Vamos por isso para eleições e, se ganharem, bom proveito!
A lista dos países falidos e dos banqueiros fugitivos não está encerrada!
O que não faltam são lugares de destaque na lista dos malandros!

portasdosol disse...

Sou da opinião de que Sócrates deve ír para eleições o mais rapidamente possivel.É urgente baralhar e dar de novo.A cambada, vai continuar na senda da intriga até á ixaustão. Agora tambem querem mandar embora o PGR,a cambada está de cabeça perdida.O PR, está calado, face ao desmoronar da justiça porque lhe convem.Em toda esta insìdia, faz parte toda a oposição: pseudo-esquerda e direita!Está subjacente as presidenciais, hà aqui mão de alegristas-bloquistas;social-fascista(PCP)e a direita reáccionaria PSD-CDS, apoiados nas varias facções na investigação "pseudo-criminal" de "bufaria".António Barreto tem razão!Há muitos pagamentos.